sábado, 8 de setembro de 2012

Alimentos biológicos e convencionais valem quase o mesmo para a saúde

A
04.09.2012
Helena Geraldes

Produtos biológicos como fruta, vegetais, cereais, carne e leite não
vão tornar as pessoas que os consomem mais saudáveis, já que têm
níveis de nutrientes semelhantes aos alimentos produzidos pelo modo
convencional. A maior diferença está na quantidade de pesticidas,
conclui um estudo da Universidade de Stanford, Califórnia, publicado
nesta terça-feira na revista Annals of Internal Medicine.

Na altura de escolher o que colocar no cesto das compras, não serão os
benefícios das vitaminas e minerais na saúde que vão ajudar a decidir
se leva produtos biológicos ou produtos convencionais. "Se tomarmos
uma decisão baseada apenas na nossa saúde, não existem muitas
diferenças" entre uns e outros, disse Dena Bravata, investigadora
principal do estudo que comparou os principais nutrientes nos dois
tipos de alimentos.

Para chegar a esta conclusão, a equipa de Dena Bravata analisou
centenas de estudos científicos já publicados e identificou os 237
mais relevantes, incluindo 17 sobre as dietas alimentares de pessoas
que consumiram alimentos biológicos e convencionais. A maioria dos
estudos, 223, comparou os níveis de nutrientes, de bactérias, fungos
ou a contaminação por pesticidas de vários produtos, nomeadamente
frutas, vegetais, cereais, carne, leite e ovos. A duração dos estudos
variou entre os dois dias e os dois anos.

O estudo de revisão da literatura científica existente – que, dizem os
investigadores, é o mais completo até agora realizado sobre a questão
– não encontrou provas significativas de que os alimentos biológicos
são mais nutritivos ou acarretam menos riscos para a saúde do que as
alternativas convencionais. Aliás, o fósforo foi o único nutriente
encontrado em maiores quantidades nos produtos biológicos. A maior
diferença foi detectada ao nível da exposição a pesticidas, mais
reduzido nos produtos biológicos.

Alexandra Bento, bastonária da Ordem dos Nutricionistas, não ficou
surpreendida com estas conclusões. "Já tenho lido artigos científicos
que apontam nesse sentido", ou seja, "no que diz respeito aos
principais nutrientes, a diferença não é muito significativa", disse
ao PÚBLICO. Além disso, existem muitos factores que afectam a
composição nutricional dos alimentos, como a zona geográfica onde são
produzidos e se o ano de colheita foi de seca, por exemplo.

O objectivo dos investigadores da Universidade de Stanford foi ajudar
ao debate sobre os benefícios para saúde dos alimentos biológicos, uma
questão que permanece em aberto. A equipa encontrou várias limitações
ao seu trabalho, como a heterogeneidade dos estudos, baseados em
diferentes métodos de teste e mesmo de agricultura biológica. Segundo
a BBC, o estudo é criticado por ser inconclusivo.

Na verdade, a ideia para a investigação surgiu depois de cada vez mais
pacientes de Bravata – que além de investigadora também é médica – lhe
perguntarem o que seria melhor para a sua saúde e de não haver uma
resposta.

"Esta é uma pergunta recorrente durante as consultas ou ainda nos
fóruns de discussão", contou ao PÚBLICO Alexandra Bento. Ainda assim,
a nutricionista e bastonária afirma que "nunca recomendaria um
alimento biológico face a outro convencional". Na sua opinião, na
altura da compra é o consumidor quem decide. "Tudo depende do que para
nós tem mais importância, se o preço ou se, por exemplo, formos mais
sensíveis ao sabor", uma questão que, para si, "não é de descurar".

Segundo Alexandra Bento, "é de incentivar a pequena horta para quem
tem essa possibilidade". "Se colher um tomate, ou uma alface ou
laranja no estado de maturação ideal e se a consumir imediatamente,
esse alimento terá uma riqueza nutricional máxima."

Os cientistas norte-americanos quiseram dar mais informação às
pessoas, não desencorajá-las a consumir produtos biológicos, explicam.
"Se olharmos para lá dos benefícios na saúde, existem muitas outras
razões para consumir alimentos orgânicos em lugar dos convencionais",
acrescentou Bravata, referindo benefícios ambientais e de bem-estar
animal.

http://ecosfera.publico.pt/noticia.aspx?id=1561650

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