sábado, 22 de setembro de 2012

Artigo sobre efeito de milho transgénico NK603 em ratos não tem credibilidade

COMUNICADO



A 19 de Setembro foi publicado um artigo (ref 1) numa revista
científica (Food and Chemical Toxicology) assinado por uma equipa de
investigação francesa sobre o efeito da alimentação prolongada de
ratos com uma variedade de milho não identificada que contém o evento
transgénico NK603. A publicação desse artigo é enquadrada num projecto
de comunicação que inclui o lançamento de um livro e de um filme.

Os resultados aparentemente chocantes, sobretudo aqueles apresentados
sob a forma de fotografias, parecem comprometer a segurança alimentar
do consumo prolongado desta variedade de milho. Os autores e os seus
apoiantes questionam assim o uso da tecnologia do DNA recombinante
para o melhoramento vegetal e a sua utilização na alimentação humana e
animal.

As variedades de milho com este evento são amplamente utilizadas há
mais de 10 anos (autorização para comercialização concedida para os
Estados Unidos em 2000 e em 14 países, incluindo a União Europeia).
Isto significa que milhões de animais já consumiram este milho.

Uma leitura mais atenta deste artigo levanta de imediato uma série de
questões, algumas fundamentais, sobre os resultados obtidos. Porque se
usou uma variedade de ratos que se sabe desenvolverem tumores com
facilidade, sobretudo a partir da segunda metade do seu tempo de vida?
Porque é que o efeito é superior com uma percentagem de farinha
transgénica menor? Porque é que os ratos controlo têm níveis de
mortalidade idênticos, e em alguns casos superiores, aos dos ratos que
foram alimentados com o milho transgénico? Porque é que não existem
barras de erro nos resultados apresentados? Porque é que não existe
qualquer tratamento estatístico? Porque é que não existe uma
justificação biológica para o hipotético efeito observado? De onde
veio o milho utilizado? Porque é que o autor não quer que seja
analisado o milho com que fez os ensaios? Porque é que passados dez
anos de uso continuado destas variedades de milho nenhum veterinário,
produtor ou tratador de animais que consomem regularmente estes
produtos relatou estes efeitos? Finalmente como é possível generalizar
estes resultados sabendo que cada transgene configura uma modificação
genética claramente distinta?

Este artigo nunca deveria ter sido publicado. Os seus autores dizem
que é o primeiro estudo de longo prazo em animais. A mesma revista
publicou em 2011 uma revisão de 12 estudos de longo prazo (ref 2) de
alimentação com produtos transgénicos onde se verifica que em nenhum
caso foram encontrados efeitos negativos na saúde animal. O artigo
agora publicado não foi devidamente revisto pelos revisores desta
revista e deveria ser imediatamente retirado. Existem centenas de
dados e relatos científicos credíveis que provam precisamente o oposto
do que é apresentado. Existirá uma conspiração mundial para
propositadamente utilizar os produtos transgénicos para fazer mal a
pessoas e animais?

Curiosamente este artigo é publicado ao mesmo tempo que se apresenta
um filme e um livro sobre o mesmo assunto. Passadas duas ou três
semanas de o governo francês ter sido condenado pelo tribunal europeu
por proibir o cultivo de milho transgénico resistente aos insectos. E
na mesma altura que a DG Sanco pretende fazer aprovar o cultivo de
soja transgénica no espaço europeu.

Este estudo nunca deveria ter sido tornado público nestas condições e
tem como única função assustar as pessoas e condicionar o uso desta
tecnologia. Deveria ser dada a oportunidade a grupos de investigadores
independentes para analisarem em detalhe os métodos seguidos e os
resultados brutos obtidos e para replicarem a experiência de forma a
serem verificados os resultados obtidos.

Pedro Fevereiro,
Presidente do CiB – Centro de Informação de Biotecnologia
Investigador e Professor de Biotecnologia Vegetal

21 de Setembro de 2012

http://www.agroportal.pt/x/agronoticias/2012/09/21g.htm

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