domingo, 30 de setembro de 2012

Crise coloca herdades na mira dos investidores

Imobiliário no Alentejo

Quinta, 27 de Setembro de 2012 às 18:36

A planície está sob a mira dos caçadores de bons negócios no sector
imobiliário, que apontam os seus fundos financeiros para grandes
propriedades colocadas à venda cada vez em maior número e a preços 50%
abaixo do valor de transação há cinco anos. Já os típicos montes
alentejanos (nomeadamente, as quintas entre 5 e 10 ha, que são as mais
requisitadas) têm sofrido quebras de valor entre os 30 e os 50% nos
últimos anos, com muita oferta, mas a procura a restringir-se aos
melhores terrenos e com moradias prontas a habitar. Por detrás destas
vendas em registo de saldo está, claro, a crise económico-financeira
do país que se está a repercutir na planície levando muita gente a
desistir de terras e imóveis para melhor se defender da austeridade.

Segundo a análise de vários agentes e empresas que trabalham neste
ramo, contactados pelo "Expresso" em diferentes zonas do Alentejo, a
oferta e a procura no segmento das herdades tem estado em níveis
elevados de dinamismo e assim deverão permanecer nos próximos tempos.
O agravar da crise estará a levar para o mercado terrenos que se
tornaram inviáveis ou menos rentáveis do ponto de vista da sua
exploração agrícola ou florestal. Neste contexto inserem-se casos de
grandes proprietários que residem e são empresários em cidades como
Lisboa ou Porto e que se veem forçados a vender terrenos no Alentejo
para manterem outros negócios ou a própria qualidade de vida, mas
também agricultores que tiveram de se desfazer das terras para pagar
empréstimos contraídos junto da banca no tempo das "vacas gordas".
"Além da banca portuguesa, também a espanhola está a vender
propriedades que lhe foram entregues por aqueles a quem financiou, há
uns anos atrás, para a compra de terrenos no Alentejo e que agora não
conseguem cumprir os compromissos de crédito", disse ao "Expresso"
Fernando de Albuquerque, da mediadora D'Albuquerque, em Ponte de Sôr.
"Na altura, os espanhóis compraram acima do valor real porque para
eles era mais barato comprar aqui terrenos de regadio do que sequeiro
em Espanha. Só que, entretanto, as coisas complicaram-se...",
acrescentou. Por outro lado, "a rentabilidade da cortiça também baixou
e isso pode ajudar na decisão de vender".

Os apertos de uns são a oportunidade de outros. Os ventos sopram forte
e de feição sobre quem dispõe de dinheiro para "ir às compras" na
planície.
"O preço médio das herdades é de 5 mil euros por hectare, podendo
chegar ao dobro se tiver regadio, vinha ou cortiça em boa quantidade,
embora esse valor seja raro nos dias que correm)", informa Vítor
Tavares, da Remax Évora - Casa de Sonhos. Na verdade, os preços de
negócio fechado estão muito abaixo do que se praticava antes da crise.
"Há cinco anos as transações faziam-se entre 7,5 e 12 mil euros o
hectare - agora a venda faz-se entre 3,5 e 5 mil euros, no máximo 7
mil euros se a herdade for muito boa".

E, segundo este profissional, "perspetiva-se que a quebra nos preços
do hectare continue porque as notícias más não param de surgir para a
agricultura - os criadores andam a dar de comer ao gado à mão - e para
o país...", antevê.

Sandra Lopes, angariadora imobiliária da Planície 2, em Ponte de Sôr,
partilha deste diagnóstico. "Esta parece ser uma boa altura para
comprar a bom preço grandes propriedades", constata esta profissional,
conhecedora de "proprietários de herdades que começam a ter
dificuldades financeiras pelas mais variadas razões e estão a
colocá-las à venda".

Quem queira comprar não falta. O problema - para quem vende - é que os
interessados não estão dispostos a enjeitar a oportunidade que a crise
lhes proporciona de comprar barato.

"Aqui há uns anos apareciam o dobro das pessoas à procura de uma
herdade, mas só uma ou duas tinham capacidade de investir; agora
aparecem metade, mas todas estão qualificadas para a compra e sabem
bem o que querem", revela Sandra Lopes.

Já Elias Morais, da Remax - Portalegre, confirma que este segmento
está em ebulição, mas não vê que sejam vendas por falta de
rentabilidade das explorações agrícolas. "Há uns anos, havia muita
indefinição quanto aos apoios comunitários à agricultura e as pessoas
não investiram; agora, como já sabem que vai haver apoios novamente,
já estão a procurar novos terrenos porque os fundos da União Europeia,
mesmo não sendo apoios directos à compra, mas sim à exploração, acabam
por compensar...", diz. "Pode haver um caso ou outro de venda por
dificuldades económicas, mas a maior parte diz respeito a questões de
herança".

Certo é que os próximos tempos se afiguram de reconfiguração do grande
latifúndio na planície alentejana. A ver vamos se para cuidar da terra
ou apenas para reposicionar capitais.

http://aeiou.bpiexpressoimobiliario.pt/crise-coloca-herdades-na-mira-dos-investidores=f126078

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