sábado, 8 de setembro de 2012

Maior grupo de vinho do Porto alerta UNESCO para riscos da barragem no Tua

Património

04.09.2012 - 23:23 Por José Augusto Moreira
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A Quinta dos Malvedos é uma das propriedades do Grupo Symington na
zona da Foz do Tua (Paulo Ricca)
Carta dirigida ao Comité do Património Mundial pelo Grupo Symington
dá conta da preocupação pelos danos irreversíveis que a conclusão da
obra poderá causar para a região do Douro.

É mais uma voz a juntar-se ao rol de preocupações pelos efeitos da
construção da barragem de Foz Tua, não só na classificação da região
como Património Mundial mas também pelos impactos que poderá
representar para os actuais padrões de qualidade dos vinhos ali
produzidos.

O Grupo Symington, que é o principal operador no sector dos vinhos do
Porto, fez chegar, na semana passada, aos membros do Comité do
Património Mundial da UNESCO uma carta dando conta dos seus receios e
preocupações face ao andamento da obra. Por um lado "a preocupação que
a conclusão da obra poderá causar danos irreversíveis à região do
Douro", mas também o receio de que, "no actual clima económico", a
decisão de suspender a construção possa resultar "num cenário de
edifícios semiconstruídos, um estaleiro abandonado, as margens do rio
Tua desfeitas e uma paisagem destruída".

O documento da empresa que é detentora de algumas das marcas mais
importantes e prestigiadas de vinho do Porto - como Graham"s,
Cockburn"s, Dow"s e Warre"s e Quinta do Vesúvio -, foi remetido na
mesma altura em que outros produtores de peso se juntaram a
ambientalistas e grupos que contestam a obra, num memorando de alerta
para as suas consequências.

Efeitos da albufeira

Ao risco de a UNESCO vir a retirar o estatuto de Património Mundial à
região, o documento associa também as eventuais alterações
climatéricas decorrentes da existência futura de uma albufeira e os
seus efeitos para a produção de vinhos. Uma matéria que, frisam, não
foi ainda devidamente avaliada.

O documento, que foi igualmente remetido aos elementos do Comité do
Património Mundial que estão a analisar os impactos da barragem,
assinala que o vinho e a vinha foram determinantes para a
classificação atribuída em 2001 pela UNESCO, tratando-se de "um
negócio delicado, que depende da conjugação entre conhecimentos
ancestrais, tecnologia solo e clima". Ou seja um equilíbrio delicado
que pode muito bem ser posto em causa em consequência da construção da
barragem.

Os responsáveis do grupo Symington notam, por sua vez, que o grupo
detém dois dos seus mais importantes activos situados na foz do Tua, a
Quinta dos Malvedos e a Quinta do Tua, que é também conhecida como
Quinta dos Smithes ou dos Ingleses. "Estas propriedades têm elevada
reputação a nível mundial pela produção de alguns dos melhores vinhos
do Porto", assinala a empresa, vincando ao mesmo tempo tratar-se de um
prestígio "que foi construído durante séculos com base no trabalho
cuidado durante o ciclo de viticultura anual".

A carta alerta os responsáveis da UNESCO para o valor histórico,
cultural e paisagístico associado às duas quintas. "Vinhas suportadas
por socalcos de pedra que formam parte do trabalho de séculos que
criaram a paisagem, única do Douro" e também a casa nobre da Quinta do
Tua, do séc. XVIII, que pertenceu a Antónia Adelaide Ferreira, a
célebre "Ferreirinha", e é uma das mais belas da região.

Paul Symington, que assina o documento, com data de 29 de Agosto,
chama a atenção para o facto de o projecto da barragem e dos edifícios
a ela associados estarem "directamente contíguos com ambas as vinhas e
ao longo de extensões vastas". Assinala ainda que o sucesso continuado
do grupo não pode ser desligado "da beleza natural e da beleza feita
pelo homem no vale do Douro", pelo que "qualquer projecto que
danifique esta paisagem única irá comprometer o futuro" de todos os
envolvidos na produção de vinho e no trabalho associado à região.

http://www.publico.pt/Sociedade/maior-grupo-de-vinho-do-porto-alerta-unesco-para-riscos-da-barragem-no-tua-1561729

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