sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Mais de 300 sobreiros e carvalhos abatidos "ilegalmente" no Alentejo

11.09.2012
Carlos Dias

Operação durou semanas com o conhecimento das autoridades, que se
deslocaram várias vezes ao local sem conseguir pará-la.

Numa herdade com cerca de 500 hectares, no lugar de Troviscais,
concelho de Odemira, junto ao rio Mira, foram cortados "ilegalmente"
mais de 300 sobreiros e carvalhos portugueses, denunciou ontem a
organização ambientalista Quercus.

A herdade onde ocorreu o abate localiza-se no interior do Parque
Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (PNSACV) e a operação
decorreu durante "mais de um mês", garantiu Domingos Patacho,
coordenador da Quercus para a Área das Florestas.

Elementos do Serviço de Protecção da Natureza e Ambiente da GNR
(SEPNA) deslocaram-se várias vezes ao local, mas "não conseguiram
travar a destruição de uma importante zona de floresta mediterrânica",
realçou o dirigente da Quercus.

O proprietário da Herdade do Leonardo tinha obtido da direcção do
PNSACV um parecer favorável condicionado para o corte de 120 sobreiros
que se encontravam secos, adiantou Domingos Patacho. Mas dada a
amplitude do corte e as queixas que chegaram à Quercus, o dirigente da
organização deslocou-se ao local e verificou o abate de mais de 300
árvores.

Constatou a existência de "vários sobreiros verdes cintados [marcados]
pelo proprietário" para que a o pessoal os cortasse "mesmo sem
qualquer autorização legal". A confirmação foi feita através da
contagem dos troncos ainda com rama verde que se encontravam num
camião TIR com semi-reboque que ficou retido no interior da herdade
devido a uma avaria.

Confrontada com a gravidade da situação, a Quercus alertou de imediato
o SEPNA e o Instituto de Conservação da Natureza e Florestas, pois
apesar de alegadamente a situação ser do conhecimento destas entidades
"o abate prosseguia sem que fosse apreendida a maquinaria utilizada na
acção".

"Não obstante termos conhecimento da existência de uma autorização
para abate de 120 sobreiros secos, verificámos que foi abatido um
número muito superior de sobreiros verdes sem qualquer autorização, o
mesmo acontecendo também com diversos carvalhos portugueses", frisou
Domingos Patacho. Alguns destes exemplares encontravam-se ainda no
semi-reboque, acrescentou o coordenador da Quercus.

A "estranheza" da Quercus

A Herdade do Leonardo está localizada numa área de protecção parcial
Tipo II e integra o Sítio de Importância Comunitária da Rede Natura
2000 - Costa Sudoeste. Domingos Patacho classifica de "estranho" o
procedimento dos proprietários da herdade e diz que ele "evidencia o
descontrolo da actividade de comércio de lenhas, que hoje é pouco ou
nada fiscalizado pelas autoridades".

Neste sentido reclama a "actuação imediata das entidades competentes
para repor a legalidade" na Herdade do Leonardo e defende que seja
prestada "uma especial atenção" à verificação da eventual atribuição
de apoios públicos, nacionais e europeus, a projectos agro-florestais
que ali estejam a decorrer.

Este atentado, conclui o dirigente da Quercus, "revela, mais uma vez,
a falta de fiscalização para impedir os abates da floresta protegida"
e a "incapacidade do Estado em travar algumas acções ilegais que
infelizmente ainda se continuam a verificar". A Quercus diz que vai
continuar a acompanhar este caso, apelando às autoridades para que
"responsabilizem devidamente" o promotor desta acção, lembrando que a
Assembleia da República classificou em Dezembro o sobreiro como a
"Árvore Nacional de Portugal".

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