sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Mais uma vindima de dificuldades para pequenos e médios lavradores do Douro

Lusa
07 Set, 2012, 09:41

O Douro prepara-se para mais uma vindima de dificuldades: muitos
lavradores ainda não têm onde entregar as uvas, outros não têm
dinheiro para contratar trabalhadores agrícolas e ainda há situações
de salários em atraso.
Pela Região Demarcada do Douro espalham-se entre 30 a 40 mil
vitivinicultores, muitos deles com apenas meio ou um hectare de vinha,
representando uma estrutura social muito frágil.

Com a grande azáfama da vindima a aproximar-se, a Associação dos
Vitivinicultores Independentes do Douro (AVIDOURO) revela que ainda há
muitos lavradores que não sabem onde vão entregar as suas uvas este
ano.

Grandes produtores começaram a ter produção própria e "despediram"
lavradores, a quem já não precisam de comprar as uvas. No caso das
adegas, os atrasos no pagamento das colheitas levam a que os
viticultores procurem alternativas.

"É incerto ainda. Ando a procurar por um lado e por outro a ver se
consigo uma adega estável, mas ainda não sei onde ir deitar as uvas",
salientou Ernesto Lopes, produtor de Abaças.

O diretor da Adega de Vila Real, Jaime Borges, diz que "dezenas de
viticultores pedem diariamente para entregar as uvas desta vindima"
nesta cooperativa, uma das poucas que tem as "contas em dia" no Douro.

Depois, ainda de acordo com a AVIDOURO, por causa da quebra de
rendimento, principalmente dos médios produtores, verifica-se que
recorrem cada vez menos à contratação de trabalhadores agrícolas.

"É uma situação preocupante, que se está a agravar de ano para ano. Os
proprietários e os viticultores não têm rendimento, logo não têm forma
de contratar assalariados para as vindimas", acrescentou a dirigente
da associação, Berta Santos.

Os produtores mais pequenos recorrem muitas vezes à "torna-jeira" nos
trabalhos na vinha, ou seja, vão-se ajudando mutuamente nas tarefas.

É o que faz Vítor Herdeiro, de Abaças, que vai cortar as uvas nos seus
2,5 hectares com a ajuda de familiares e vizinhos. Depois, vai também
ele ajudá-los.

Mas os problemas do Douro não ficam por aqui.

Avelino Mesquita, do Sindicato dos Trabalhadores da Agricultura e das
Indústrias de Alimentação, Bebidas e Tabacos de Portugal (SINTAB),
referiu à Lusa situações de trabalhadores agrícolas com salários em
atraso ou a terem de trabalhar mais horas, sem receberem qualquer
contrapartida.

"Tenho conhecimento da existência de quatro ou cinco quintas na região
demarcada com salários em atraso", frisou.

Depois, Avelino Mesquita disse ainda estar preocupado com o período de vindimas.

"Muitos trabalhadores são contratados sem qualquer vínculo, nem os
devidos direitos legais, nem descontos para a segurança social, nem
seguros. Sem direito a regalias sociais", salientou.

Um trabalhador, que preferiu manter o anonimato, referiu que trabalha
há vários anos para uma quinta onde se repetem os atrasos no pagamento
dos salários.

"Por volta desta altura, quando entram os subsídios, as coisas começam
a ficar um pouco tremidas. Esta situação repete-se desde há cinco,
seis anos", sublinhou.

http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=585096&tm=6&layout=121&visual=49

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