quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Produtores de leite acusam Governo de “tramar” um sector onde fecham mil empresas por ano

Por Agência Lusa, publicado em 4 Set 2012 - 19:15 | Actualizado há 16
horas 57 minutos
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O leite "está tramado" e o Governo "está parado": as palavras, ditas
ao microfone, sintetizam a indignação dos produtores que hoje se
manifestaram frente ao parlamento, chamando a atenção para um setor
que perde mil empresas por ano.

Sob um sol abrasador, cerca de dois milhares de produtores, vindos
sobretudo do Norte, concentraram-se junto às escadarias da Assembleia
da República para protestar contra, o que dizem ser, a inação do
Governo e não pouparam nas críticas à ministra da Agricultura,
gritando: "Cristas escuta, o leite está em luta".

Mas deixaram também recados ao ministro dos Negócios Estrangeiros,
Paulo Portas, lamentando que "o ministro da lavoura" esteja mais
"preocupado com os submarinos".

A manifestação foi convocada pela APROLEP (Associação dos Produtores
Leite), depois do preço do leite pago ao produtor, que já caiu 3,5
cêntimos desde o início do ano, voltar a descer em setembro, para se
fixar nos 28 cêntimos.

O presidente da APROLEP disse à Lusa que o setor está confrontado com
grandes dificuldades devido "aos aumentos brutais dos custos de
produção e à descida dos preços do leite", salientando que os
produtores se sentem "abandonados pelo Governo".

Carlos Neves defendeu "ações concretas e imediatas" em termos
legislativos, mas também políticos de forma a "pressionar quem
negoceia" no sentido de uma distribuição de valor mais equilibrada
entre os vários intervenientes da cadeia alimentar (produção,
indústria e distribuição).

"Temos vindo a perder mil empresas por ano. A este ritmo, a produção
desaparece em quatro anos", avisou o presidente da APROLEP.

Entre os manifestantes encontravam-se também alguns parlamentares que
quiseram mostrar a sua solidariedade como o comunista Agostinho Lopes
e o anterior ministro socialista, António Serrano que apelou ao
Governo que regulamente "urgentemente" as relações entre a indústria e
a produção.

"O preço que [os produtores] recebem é consumido pelos fatores de
produção", sublinhou o anterior governante e atual deputado,
salientando que não se pode "deixar destruir" este setor.

Um cartaz afixado numa vaca leiteira resumia o teor do protesto: "com
o rumo que isto está a levar, o meu dono não vai ter comer para me
dar".

Manuel Barbosa, proprietário de uma exploração em Barcelos, confirma:
"A margem que fica para o produtor é praticamente nula. É uma morte
lenta", disse este agricultor que admite vir a encerrar portas.

"Com o caminho que estamos a seguir, não há outra alternativa a não
ser o encerramento", desabafou.

Manuel Barbosa considerou que os consumidores portugueses preferem
"leite de qualidade", mas muitas vezes têm dificuldade em distinguir o
que é nacional do que não é.

"Isso tem de estar visível", exigiu, apelando também a medidas de
proteção que garantam "uma margem mínima aos agricultores, "o elo mais
fraco da fileira do leite".

Segundo o produtor, "para que o setor trabalhasse bem e de forma
saudável", o preço razoável a pagar seria de 40 cêntimos.

Uma delegação de produtores foi recebida pela Comissão de Agricultura,
a quem entregou um documento exigindo "ação do poder político para
salvar a produção de leite em Portugal".

Entre as reivindicações destacam-se: a imposição de maior
transparência no estabelecimento das cotações dos cereais, para
minorar os custos da alimentação animal, legislação que equilibre as
relações na cadeia de valor, reforço da fiscalização da ASAE sobre as
importações de produtos lácteos, rotulagem que indique expressamente a
origem do produto e maior rapidez da Autoridade da Concorrência na
decisão dos processos de infração das leis que regulam a concorrência,
de forma a prevenir práticas de comercialização lesivas do setor
alimentar.

Os produtores de leite chamam também a atenção para a reforma da
Política Agrícola Comum (PAC) atualmente em curso e consideram
"fundamental garantir a manutenção das quotas leiteiras para lá de
2015, ou a existência de mecanismos que garantam uma concorrência leal
entre os produtores dos vários países".

O setor do leite português representa 1,2 por cento do Produto Interno
Bruto e cerca de 100 mil postos de trabalho diretos e indiretos.

*Este artigo foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico
aplicado pela agência Lusa

http://www.ionline.pt/dinheiro/produtores-leite-acusam-governo-tramar-sector-onde-fecham-mil-empresas-ano

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