quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Americanos querem produzir amendoim na zona de Alqueva

Alentejo

11.10.2012 - 00:41 Por Carlos Dias
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Empresa americana aposta na fartura de terra, água e temperaturas
elevadas (Foto: Miguel Manso)
Empresa americana aposta na fartura de terra, água e temperaturas
elevadas para converter região alentejana no grande produtor europeu
desta cultura subtropical, que já se produz no Ribatejo.

A multinacional americana PepsiCo aponta como meta até 2015 a
plantação, na área sob influência do regadio de Alqueva e nas regiões
espanholas da Extremadura e Andaluzia, de 6600 hectares de culturas de
amendoim.

Em 2012 já foram plantados 1800 ha (300 em Portugal, na região do
Ribatejo), 1100 em Vegas del Guadiana (Extremadura) e 400 divididos
por Cáceres, Sevilha, Córdoba e Cádis. A empresa americana quer
tornar-se auto-suficiente na cultura do amendoim na Europa. A Matutano
é a sua marca mais conhecida. A experiência começou há dois anos,
quando especialistas dos Estados Unidos propuseram a agricultores de
Vegas del Guadiana (Extremadura espanhola) se queriam plantar
amendoins. O objectivo passa por cultivar 10.000 ha desta cultura
subtropical na Península Ibérica durante cinco anos.

A área sob influência do Alqueva oferece as condições requeridas. "Tem
fartura de terra, água e sol", factores determinantes para obter
elevados índices de produção, destacou um dirigente da Torriba,
organização de produtores de hortofrutícolas de Almeirim, que foi
contactada pela PepsiCo para incentivar agricultores portugueses a
produzir amendoins. Em 2010 realizaram-se os primeiros ensaios numa
área de seis ha, que se revelaram promissores, e em 2011 a área de
cultivo já ocupou cerca de 311 ha.

Alternativas agrícolas

Na sequência destes resultados a Torriba contactou a Empresa de
Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva (EDIA). O seu
presidente, João Basto, acolheu bem a proposta por entender que é
preciso "intensificar a procura de novas alternativas agrícolas" nos
cerca de 60 mil hectares de regadio que se encontram
infra-estruturados com sistemas de rega e em condições de serem
cultivados.

O projecto Cultura do Amendoim foi apresentado nas instalações da
EDIA, em Beja, para incentivar agricultores alentejanos da área do
Alqueva a produzirem o fruto seco para a multinacional americana. Inês
Vinagre, especialista portuguesa neste tipo de cultura, frisou que a
"grande vantagem" é que a PepsiCo "garante o escoamento do produto".
Nestas condições, o agricultor, quando decide semear, já sabe quem vai
ficar com a produção e o preço de venda.

O amendoim é uma cultura que "requer calor, bons solos e água",
precisamente o que a região de Alqueva tem condições para oferecer,
explica a técnica da Torriba, dando conta de um pormenor curioso: a
planta não precisa de fertilização. Com efeito, como as raízes do
amendoim se projectam até dois metros de profundidade, esta
particularidade permite que a planta encontre os nutrientes
necessários ao seu crescimento e ainda deixa no solo percentagens de
azoto em condições de valorizar culturas de milho ou de centeio.

Além disso, só necessita de duas regas por semana, em detrimento das
regas diárias, que dificilmente penetram em profundidade. O importante
é garantir que a humidade chegue a toda a planta. Nos Estados Unidos
da América, no estado do Texas, a cultura do amendoim é garantida com
rega por aspersão. Em alternativa, o agricultor opta pela cultura de
sequeiro, que é indutora das microtoxinas que surgem associadas a
"surtos de seca extrema".

Um agricultor presente na apresentação da cultura quis saber se a rega
gota-a-gota se podia adequar ao amendoim. Inês Vinagre disse ter
dúvidas que a produção funcione em terrenos arenosos, mas adiantou que
na região de Badajoz, em 90% das plantações de amendoim, os
agricultores recorrem à rega gota-a-gota. No entanto, a técnica mais
adequada à região do Alqueva "precisa de ser melhor estudada", notou a
especialista, assinalando outra das grandes vantagens que a cultura do
amendoim oferece: é totalmente mecanizada.

Trata-se de uma cultura que pode ser rentável em terrenos argilosos.
Uma das características que concorre para a viabilização da cultura
reside no tipo de solo, que tem de ser permeável para permitir que a
planta lance os seus espigões - onde virá a germinar o fruto
(amendoim) - no interior da terra e a uma profundidade suficiente para
o desenvolvimento das raízes. E neste particular há no Alqueva solos
argilosos, com boas texturas e em condições de garantir produções
rentáveis.Inês Vinagre esclareceu que uma produção até três
toneladas/ha "cobre" o investimento realizado na cultura - 2250
euros/ha. Mas na região do Alqueva admite-se uma produção média de 4,5
toneladas/ha, valores que pode atingir, nalguns casos, as cinco e até
as seis toneladas por hectare.

http://www.publico.pt/Local/americanos-querem-produzir-amendoim-na-zona-de-alqueva-1566767?all=1

1 comentário:

Anónimo disse...

É lamentável que tenham que vir estrangeiros, para fomentar o desenvolvimento agrícola no nosso país. Este assunto mereceu a minha melhor atenção, uma vez que ele poderia ser, desde há muito tempo, o embrião para o ressurgimento de uma economia saudável para o nosso país, dando a possíbilidade de industrialização da agricultura, sob o ponto de vista que ela merece ser entendida. Assim foi o tabaco e o tomate! A cultura do algodão, como se faz na Andaluzia, poderia ser, também, um factor de desenvolvimento e riqueza para o país. A batata, não apenas para o consumo directo, mas também para a indústria de féculas e derivados, como colas para a indústria do papel, tecelagem, etc. Ainda este produto, como matéria de base no fabríco de glucose, seria uma boa aposta para o escoamento de eventuais excessos de produção, normalisando inteligentemente, a procura e oferta, sempre tão negativa para a qualquer produção agrícola.

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