sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Emissões de CO2 afastam mundo do limite dos 2ºC no aquecimento global

Ricardo Garcia

21/11/2012 - 09:33


Emissões de dióxido de carbono batem novo recorde em 2011

O mundo está cada vez mais longe de conseguir limitar o aquecimento
global a 2ºC até ao final do século. Tanto as emissões, como a
concentração de CO2 na atmosfera bateram novos recordes em 2011.

Um relatório divulgado esta quarta-feira pelo Programa das Nações
Unidas para o Ambiente (UNEP, na sigla em inglês) estima que as
emissões de CO2 em 2010 estavam 14% acima do que deverão estar em 2020
para que se evitem as piores consequências do aquecimento global.

Cerca de 55 cientistas, de 20 países, participaram da elaboração do
relatório da UNEP, que avalia a distância que falta para que se
consiga cumprir a meta dos 2ºC, acordada internacionalmente. Segundo o
relatório, é preciso que as emissões globais de gases com efeito de
estufa atinjam o seu pico nos próximos anos e caiam para 44 mil
milhões de toneladas em 2020. Hoje estão em 50 mil milhões de
toneladas.

Os cenários não são, porém, animadores. Tudo o que há sobre a mesa,
neste momento, são compromissos voluntários de dezenas de países para
reduzirem a sua factura carbónica, incluindo os maiores emissores de
CO2 – entre eles China, Estados Unidos, União Europeia, Índia, Japão e
Brasil.

Mesmo que as promessas mais ambiciosas sejam adoptadas e que haja
mecanismos eficazes para controlar se estão a ser cumpridas, o planeta
chegará a 2020 ainda com mais emissões do que deveria – 52 mil milhões
de toneladas

"A transição para uma economia de baixo carbono, incluindo a 'economia
verde', está a ocorrer muito lentamente e a oportunidade para cumprir
à meta das 44 mil milhões de toneladas está a estreitar ano a ano",
alerta o director-executivo da UNEP, Achim Steiner, num comunicado.

O relatório da UNEP surge um dia após a Organização Meteorológica
Mundial ter divulgado um novo recorde na concentração de dióxido de
carbono (CO2) na atmosfera. Agora, há 390 partes por milhão de CO2 no
ar, ou seja, em cada tonelada do conjunto de gases à volta da Terra,
há 390 gramas de dióxido de carbono.

A concentração de outros gases com efeito de estufa – como o metano
(CH4) e o óxido nitroso (N2O) – também está a subir. Mas o CO2
continua a representar, de longe, a maior contribuição humana para as
alterações climáticas. De 1990 a 2011, o poder dos gases com efeito de
estufa aquecerem o planeta subiu 30%, sendo que o CO2 é responsável
por 80% deste aumento.

Desde a Revolução Industrial, concentração de CO2 subiu 140%. A OMM
calcula que, levando em conta todos os gases com efeito de estufa,
desde então foram lançadas 375 mil milhões de toneladas de carbono
para o ar, sobretudo devido à queima de combustíveis fósseis –
petróleo, carvão, gás natural.

Metade deste carbono foi reabsorvido, seja pelos oceanos, seja pelas
florestas ou outros organismos vivos. "Mesmo que conseguíssemos travar
as emissões de gases com efeito de estufa hoje – e estamos longe disso
– eles permaneceriam na atmosfera por muitas décadas, continuando a
afectar o delicado equilíbrio do nosso planeta vivo e do nosso clima",
afirma Michel Jarraud, secretário-geral da OMM, num comunicado.

As emissões de CO2 – e não só a sua concentração – atingiram também um
novo recorde em 2011, segundo a Plataforma Económica Internacional
para as Energias Renováveis – uma organização com sede na Alemanha. Em
todo o mundo, a queima de combustíveis fósseis terá sido responsável
pela libertação de 34 mil milhões de toneladas de CO2 para atmosfera
no ano passado, reforçando uma tendência de subida que havia sido
interrompida em 2009, devido à crise económica.

Na próxima segunda-feira, as Nações Unidas iniciam, em Doha, Qatar,
mais uma ronda internacional de negociações sobre as alterações
climáticas. O tema central será a extensão do Protocolo de Quioto, que
expira em Dezembro. Mesmo que seja prolongado, porém, o protocolo não
contará com a participação de grandes emissores de CO2, como os
Estados Unidos e o Canadá.

Se o calendário das Nações Unidas for cumprido, um novo acordo
internacional para o clima será negociado até 2015,para entrar em
vigor a partir de 2020.

Notícia actualizada às 11h40: acrescenta informação sobre novo
relatório da UNEP e altera título e lead

http://www.publico.pt/ciencia/noticia/concentracao-de-co2-na-atmosfera-chega-a-novo-recorde-em-2011-1573336

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