quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Maçã para o coração e amoras para a mente

Investigadores portugueses comprovam benefícios da fruta nacional
2012-10-20
Por Susana Lage

O que é nacional é bom. Parece um mero slogan mas, de facto, dois
estudos portugueses desenvolvidos pelo Instituto de Biologia
Experimental e Tecnológica (IBET) e pelo Instituto de Tecnologia
Química e Biológica (ITQB) acabam de reforçar a qualidade da produção
frutícola nacional e seus benefícios para a saúde.

«Bravo de Esmolfe – Uma maçã com benefícios cardiovasculares» e
«Amoras silvestres portuguesas, uma aposta como alimentos funcionais
para o cérebro» são dois projectos vencedores da Categoria
Investigação e Desenvolvimento, na terceira edição do Nutrition
Awards.
O estudo do IBET sobre a Bravo de Esmolfe sugere que a maçã é um fruto
promissor a nível da saúde cardiovascular devido à composição em fibra
e polifenóis os quais permitem diminuir os níveis de colesterol no
sangue.

"Verificámos que esta variedade possui maior quantidade de compostos
bioactivos. Uma Bravo de Esmolfe contém três vezes mais destes
compostos do que a variedade Golden", afirma Teresa Serra ao Ciência
Hoje.

"O que fizemos, em colaboração com a Faculdade de Farmácia, foi dar
diferentes variedades de maçãs a ratinhos e descobrir que só a Bravo
de Esmolfe conseguiu reduzir os níveis de colesterol nestes animais",
continua a investigadora do IBET.

Teresa Serra
Teresa Serra
Os resultados obtidos indicaram que apenas a Bravo de Esmolfe foi
capaz de reduzir significativamente todos os biomarcadores estudados,
como os valores de triglicéridos, o colesterol total e LDL e as LDL
oxidadas.

As conclusões aplicam-se aos ratinhos mas ao transpor as doses para
humanos isso corresponde a comer duas a três maçãs Bravo de Esmolfe
por dia. "Se uma pessoa comer diariamente a Bravo de Esmolfe pode ter
benefícios a nível da saúde cardiovascular", garante Teresa Serra.

A maçã Bravo de Esmolfe é cultivada em poucos locais na região da
Beira Interior de Portugal. "É difícil encontrar esta maçã no
supermercado porque tem uma pele muito fininha, basta um toque para
oxidar e por isso é difícil de transportar. O que existe é muito caro,
daí que tenhamos procurado valorizá-la através das propriedades
benéficas que tem para a saúde", refere a cientista.

"Esperamos que este nosso trabalho tenha um grande impacto a nível do
cultivo deste fruto em Portugal, que os agricultores insistam no
cultivo desta maçã para que possa chegar ao mercado nacional e
internacional em maior quantidade e, consequentemente, influencie
positivamente a economia do país", conclui.

Mais-valia nutricional

Outro fruto português benéfico para a saúde, nomeadamente na prevenção
das doenças do envelhecimento como as doenças neurodegenerativas, é a
amora silvestre.

Por esse motivo, os cientistas do ITQB tentaram demonstrar o elevado
valor nutricional e vários efeitos benéficos na memória e manutenção
do estado cognitivo deteriorado com o envelhecimento que estes frutos
têm.

Os resultados obtidos mostraram que "espécies de amoras silvestres,
nativas de Portugal, em comparação com variedades comerciais
representam uma mais-valia para um envelhecimento saudável, já que têm
um efeito neuroprotector superior", afirma Lucélia Tavares.

Cláudia Nunes dos Santos e Lucélia Tavares são as autoras do trabalho
sobre as amoras
Cláudia Nunes dos Santos e Lucélia Tavares são as autoras do trabalho
sobre as amoras
Segundo a investigadora do ITQB, "os compostos conhecidos por
polifenóis, mesmo depois de submetidos a um processo que mimetiza a
digestão alimentar, conseguem proteger neurónios de um stress
oxidativo". O stress oxidativo é um mecanismo comum a diversas
neurodegenerações como Parkinson ou Alzheimer.

Verificou-se ainda que os mecanismos responsáveis por esta protecção
vão muito para além da actividade antioxidante publicitada neste tipo
de alimentos, que durante o processo digestivo é fortemente diminuída.
Desta forma, este trabalho contribuiu também para desmistificar a
ideia de que a actividade antioxidante dos alimentos é responsável
pelos seus benefícios para a saúde.

O potencial nutricional das amoras silvestres identificado neste
trabalho visa o aumento do seu consumo pela população portuguesa, bem
como a disponibilização de novas espécies com reconhecidas vantagens
nutricionais. Assim, os cientistas esperam que o consumidor possa a
vir adquirir frutos/nutracêuticos com um elevado valor nutricional
verificado cientificamente em modelos celulares, sabendo que este
constitui uma mais-valia na prevenção de futuras doenças
neurodegenerativas.

"Estas amoras para além da mais-valia nutricional poderão também
constituir um produto diferenciado dos demais pequenos frutos, por
serem espécies silvestres, que remetem para as memórias de infância e
para o ambiente salutar do campo e com chancela 100 por cento
portuguesa", refere Lucélia Tavares.

Por último, estas espécies enquanto endémicas encontram-se bem
adaptadas às condições edafo-climáticas portuguesas e ainda a
subsistirem em condições de baixos inputs. A sua introdução em cultura
permitirá a sua valorização e consequente protecção das espécies; e
potencial adaptação a sistemas de cultivo com baixos inputs, um
objectivo essencial numa agricultura sustentável de futuro, conclui.

http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=55968&op=all

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