terça-feira, 4 de dezembro de 2012

A tradição feminina da Casa Ermelinda Freitas

Vinhos


Mónica Silvares
04/12/12 08:00
13 Leitores Online


Deonilde Freitas começou a plantar vinha em Fernando Pó, terras do
Sado, em 1920. A neta, Leonor, reinventou o projecto em 1997.

Um agradável sol de inverno apanhou de surpresa o Económico na
incursão por terras do Sado. Leonor Freitas, a quarta geração à frente
da Casa Ermelinda Freitas, recebeu-nos de sorriso rasgado e com toda a
informalidade.
Desengane-se quem acha que o sector vitivinícola, tradicionalmente
masculino, não pode ter uma mulher a dar "cartas" no negócio. E já lá
vão 15 anos.

"No início não foi fácil. (...) Mas fui acarinhada. As pessoas acharam
piada e queriam ver o que ia dar", recorda a empresária.

O à vontade com que fala não surpreende. Afinal parte do conhecimento
da gestora tem raízes no século passado. Concretamente, em 1920 quando
a bisavó Deonilde Freitas decidiu pôr mãos a uma obra que nunca mais
se perdeu.

"Deus queira que consiga passar aos meus filhos o que consegui assumir
sem me aperceber. O amor, a ligação à terra, a solidariedade e o
respeito pelo trabalho do próximo", acrescenta ao falar dos
antepassados.

Da bisavó para a avó Germana, que herdou o apelido Freitas do
casamento e que mais tarde deixou à frente do negócio o filho Manuel.

O vinho a granel, produto de apenas duas castas, Fernão Pires nos
brancos e Castelão nos tintos, era vendido às adegas da região. Mas a
morte prematura de Manuel colocou os destinos da propriedade nas mãos
da mulher que viria a dar o nome à Casa: Ermelinda Freitas. É entre
estas memórias que vagueia o que de mais terno há no vinho que aqui se
faz.

Leonor Freitas deixou a carreira de assistência social para abraçar
esta herança. Não esconde que sabia pouco da arte e que só a ajuda de
técnicos especializados e "bons trabalhadores" tornou o "sonho"
possível.

Entre eles, Jaime Quendera, enólogo na Casa desde a sua reinvenção, em
1997, e um dos braços direitos da empresária. Enquanto fala vê-se que
partilha do mesmo gosto pelo projecto e não esconde que ajudou muito o
facto de Leonor Freitas não ter medo de arriscar.

"A Dra. é muito inovadora. Eu era jovem quando para aqui vim mas ela
foi aceitando todas as minhas sugestões", recorda.

O "Terras do Pó" foi o primeiro lançamento e com ele veio logo uma
medalha de bronze. Até hoje, os prémios sucederam-se. "Estive agora em
Inglaterra e ganhámos duas medalhas, uma de bronze e outra de prata -
o voto do consumidor no Moscatel", diz Leonor.

"Todos os anos temos produtos novos. O primeiro champanhe doc e doc
reserva da Península da Setúbal foi 'Casa Ermelinda Freitas' ...
também fazemos um vinho de colheita tardia", diz Jaime Quendera
citando apenas alguns exemplos do que por ali se faz.

Nos 303 hectares de vinha entre o Tejo e o Sado, há 15 castas diferentes.

Leonor Freitas quer estar em todos os segmentos de negócio porque
acredita ser essa uma das garantias de futuro. "Neste momento somos
mais fortes no sector médio mas cada vez temos que ter melhores
produtos a preços mais baixos. Com a dimensão que temos é necessário
diversificar.

Ter produtos para todos os momentos, todas as ocasiões e todos os
bolsos", refere. Uma estratégia que acredita está a fazer crescer o
negócio, mesmo em época de crise.

À medida que o dia corre aproveitamos para dar um passeio pela vinha,
menos verde nesta altura do ano depois da vindima. E pelas adegas,
zona de enchimento e armazém que estão em pleno processo de
transformação e ampliação.

A vindima de 2012 foi uma das melhores dos últimos anos. Bons sinais
para quem na casa trabalha na internacionalização da empresa, como é o
caso de Joana, a mais nova do 'clã' Freitas.

"Quero ser eu a abrir o mercado da China, ainda com algum receio mas
com tudo o que a minha mãe me ensinou", diz.

Em pequena já acordava cedo para ir para os campos com o avó Manuel.
Depois, quando chegou a hora de escolher, optou mesmo no último ano
pela gestão em detrimento da enologia ... "afinal já tínhamos um
enólogo muito bom. Precisávamos de alguém que seguisse os passos da
minha mãe na gestão".

Da avó Ermelinda também tem boas recordações. "Não dela activa" mas da
lucidez que a acompanhou até ao final.

Por isso, quer fazer tudo para que o nome Casa Ermelinda Freitas
esteja bem vivo daqui a 100 anos .... quando entrevistarmos a décima
geração.

http://economico.sapo.pt/noticias/a-tradicao-feminina-da-casa-ermelinda-freitas_157652.html

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