quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Reciclagem garante 71 milhões de euros do PIB

RICARDO GARCIA 12/12/2012 - 14:39
Estudo encomendado pela Sociedade Ponto Verde conclui que reciclagem
evita 116 mil toneladas de CO2 e multiplica investimentos na economia.


Sem a reciclagem, PIB perderia 71 milhões de euros NELSON GARRIDO

Num momento em que o ministro da Economia tem criticado o ónus do
ambiente sobre as empresas, eis uma notícia em sentido contrário: a
reciclagem faz bem e dá dinheiro.

Por cada euro de valor acrescentado criado pela actividade, surgem
mais 1,25 euros de lucro no resto da economia, segundo um estudo da
consultora ambiental 3Drivers e de especialistas do Instituto Superior
Técnico, de Lisboa. O PIB perderia 71 milhões de euros sem a
reciclagem. E, com ela, evita-se o lançamento de uma quantidade de CO2
equivalente a 16 mil viagens de avião à volta da Terra.

O estudo foi encomendado pela Sociedade Ponto Verde (SPV), que gere a
reciclagem da maior parte das embalagens do país. O objectivo não era
avaliar a reciclagem em si, mas sim o impacto de um sistema integrado
de gestão – figura criada legalmente em 1997, na qual fabricantes e
importadores transferem para uma sociedade comum a responsabilidade de
dar um destino adequado aos seus resíduos de embalagem.

"Quisemos ver em números a bondade deste princípio, passados alguns
anos", afirma Luís Veiga Martins, director-geral da SPV.

Nas contas do estudo, o sistema integrado para a reciclagem acaba por
adicionar à economia, num ano, 147 milhões de euros em valor
acrescentado bruto, 80 milhões em salários adicionais e 391 milhões em
volume de negócios.

Os números foram calculados através de uma "análise de ciclo de vida",
que contabiliza tudo, desde o momento em que o cidadão vai até ao
ecoponto para depositar o lixo, até à comercialização dos produtos
fabricados a partir de embalagens recicladas.

Do ponto de vista ambiental, o estudo aponta vantagens nas emissões de
CO2 e de outros poluentes, e no consumo de recursos. Da forma como o
lixo está a ser tratado no país – com uma parte em aterros, uma parte
incinerada e uma parte reciclada – a existência de um sistema
integrado para as embalagens representa uma poupança de água
equivalente a 275 piscinas olímpicas e uma redução de 1,3% no consumo
energético do país.

Nas emissões, há uma redução de 116 mil toneladas de CO2 por ano – uma
quantidade que, para ser absorvida naturalmente, necessitaria de uma
floresta com mais de duas vezes a área da cidade de Lisboa. São cerca
de 0,2% das emissões nacionais de gases com efeito de estufa.

O impacto económico, segundo o estudo, também é positivo. Um sistema
integrado, como o da SPV, tem como receita uma taxa que os fabricantes
e importadores pagam à sociedade gestora, para que esta trate das
embalagens que colocam no mercado. A principal despesa é o valor pago
pela sociedade gestora aos sistemas multimunicipais, para que façam a
recolha selectiva do lixo nos ecopontos ou porta a porta e o entregue
aos recicladores.

Para além deste fluxo normal, porém, o estudo estima que haja uma
cadeia de outras actividades e sectores onde a reciclagem acaba por
multiplicar os negócios – como, na construção civil, comércio, banca e
transportes.

Nas contas do estudo, o sistema integrado para a reciclagem acaba por
adicionar à economia, num ano, 147 milhões de euros em valor
acrescentado bruto, 80 milhões em salários adicionais e 391 milhões em
volume de negócios. "Cada euro que a SPV põe no sistema é multiplicado
por 2,25 na economia", afirma o investigador Paulo Ferrão, um dos
coordenadores do estudo.

Se não houvesse reciclagem e todo o lixo fosse para aterros ou
incineradoras, o PIB perderia 71 milhões de euros – uma retracção de
0,04%.

Um dos principais benefícios da reciclagem para as contas nacionais
está no facto de se evitar a aquisição de matérias-primas no exterior,
através de um sistema que gera negócios no país. "Estamos a pagar
salários cá dentro para deixar de importar materiais de fora", resume
Paulo Ferrão.

O estudo surge num momento em que a SPV está a negociar uma nova
licença com a Agência Portuguesa do Ambiente, para continuar a sua
actividade. A sua primeira licença é de 1997 e a segunda de 2004,
válida até Dezembro passado e que foi prorrogada temporariamente.

http://www.publico.pt/ecosfera/noticia/reciclagem-garante-71-milhoes-de-euros-do-pib-1577150

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