sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Sétimas jornadas cooperativas traçam o caminho do futuro

07-12-2012

João Salazar Leite, da CASES (Cooperativa António Sérgio para a
Economia Social), identificou os problemas que a maioria das
cooperativas hoje enfrenta, durante as Sétimas Jornadas Cooperativas,
recentemente realizadas em São João da Pesqueira.

Apatia dos membros, falta de lealdade para com a cooperativa, perda de
sentimento de pertença, perda de influência, rigidez, burocracia,
dificuldades no recrutamento de dirigentes, falta de rotatividade nos
corpos sociais, fraca participação feminina, incapacidade de atracão
de jovens, dificuldade no recrutamento de técnicos qualificados, não
satisfação dos membros.

Para além destes, «são também de relevar o reduzido capital social,
dificuldades de penetração no mercado, dificuldades de aceder a
crédito, incapacidade de planificar uma actividade a prazo médio ou
longo, banca cooperativa muitas vezes esquecida do sector, sem
programas específicos a ele dirigidos, progressivos ataques ao regime
fiscal cooperativo, incapacidade de levar a formação e educação aos
destinatários lógicos, numa visão de progresso para a cooperativa, ou
de decidir sobre o tipo de formação a desenvolver, incapacidade de
interagir com organizações que lhes são próximas, designadamente as do
sector da economia social».

Problemas que, segundo o mesmo responsável, dizem respeito querem à
cooperativa enquanto associação quer à cooperativa enquanto empresa.
«Problemas, muitos dos quais são de sempre, são, diria, quase
genéticos, mas que devem hoje ser vistos e discutidos quer a nível
interno quer também internacional, dadas as necessidades decorrentes
da globalização e tendo em atenção a crise mundial que se atravessa, e
que necessita de respostas coordenadas».

Credibilizar uma cooperativa passa, no entender de João Salazar Leite,
«por ser verdadeiro no projecto e na acção, e por um insistente
controlo pelas próprias organizações de cúpula do sector das falsas
cooperativas».

«Passa também por fazer aumentar o capital social das cooperativas, a
partir de um maior esforço de cada um dos membros; montantes
individuais de 50 euros são muitas vezes convites ao desleixo e ao não
comprometimento com o projecto cooperativo.
«Passa por se ser cioso da independência face a todos os poderes
públicos e ocultos, pela não dependência de subsídios, por projectos
lançados apenas tendo em mira vir a obter verbas externas ao esforço
do colectivo de membros. Basta de cooperativas criadas pelo aparelho
de Estado para que a nível local certos serviços possam ser acedidos
pela população, como aconteceu com a criação de cooperativas agrícolas
pelo antigo Regime por no interior não haver acesso a factores de
produção para a agricultura».

Credibilizar uma cooperativa passa por «defender a auditoria
permanente das contas das cooperativas, por se estar aberto
permanentemente ao escrutínio interno, aquele que cabe a cada membro
por si próprio fazer, ou externo, seja feito pelas organizações de
cúpula do próprio sector ou quaisquer entidades externas».

«Passa por divulgar o balanço social, relevar a responsabilidade
social que é inata ao modelo cooperativo, e não moda usurpada pelas
empresas privadas, empresas que viram nela uma forma de marketing
quantas vezes sem efectivo conteúdo de que as populações venham a
beneficiar».

Credibilizar passa finalmente «pelo empenho de cada uma e de todas as
cooperativas no projecto da marca cooperativa, dando maior
visibilidade ao sector junto da opinião pública, que certamente se
questionará depois sobre o modelo cooperativo e suas vantagens. E com
a marca virá então a certificação de qualidade e a própria
certificação de cooperatividade».

«A vantagem cooperativa derivará de uma resposta discutida, pensada,
querida, a seis grandes vectores: credibilização, democracia,
participação, capitalização, renovação e educação».

Por esta ordem de ideias, João Salazar Leite, considera «infeliz e
ilógica» a não renovação pela Comissão Europeia do programa de
desenvolvimento cooperativo que fez aprovar em 2004, e que deveria ter
sido revisto em 2009. «Comissão Europeia que, deliberadamente, o
deixou cair com o argumento de ser essa a vontade dos Estados-membros,
manifestação de vontade que quanto a Portugal se não sabe quem a
emitiu, em prol de uma iniciativa mais alargada sobre a empresa
social, o seu novo menino querido, que parece conduzir à diluição das
cooperativas, e das outras empresas de economia social, num conceito
que não lhes sendo estranho, também não é o que se lhes adapta melhor,
já que não se lhes entranha na totalidade. Com efeito, muitas
cooperativas são empresas de economia social, mas não são empresas
sociais, por não desenvolverem actividades de cariz social ou
solidário». As cooperativas sentem de maneira mais profunda as
dificuldade que o país atravessa.

Fonte: Vida Económica

http://www.confagri.pt/Noticias/Pages/noticia45377.aspx

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