segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Tecnologia que a cidade não vê

15/12/2012 - 03h00

Kátia Abreu


Agricultura é um conceito amplo. Engloba todo produto de origem animal
e vegetal que chega à mesa do brasileiro.

Começa pela madeira usada na construção da mesa, passa pela toalha de
algodão que forra essa mesa e tem representação dupla nas carnes.

O frango e o porco são produtos agrícolas que têm como principal
alimento a ração produzida à base de cereais. A produção de leite,
para ter melhor rendimento e constância, também depende das rações à
base de grãos.

É comum a confusão entre agricultura e agronegócio. A agricultura diz
respeito ao trabalho do agricultor, da preparação da terra à colheita
ou venda dos animais.

O conceito de agronegócio vai além. Abarca a agricultura e inclui as
indústrias que produzem insumos dos quais o agricultor lança mão, bem
como a indústria que beneficia a produção agrícola e toda a
distribuição dos produtos comercializados.

Essa ampla agricultura brasileira, que há muito deixou de ser mera
exportadora de commodity, é baseada em forte aparato tecnológico.
Falar de agricultura no Brasil atual é discorrer sobre um universo
rural de alta tecnologia, do qual a população urbana desfruta, mas
pouco vê.

Sementes adaptadas são desenvolvidas com grande esforço por
pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa). Aí vêm as máquinas agrícolas, os defensivos, os
fertilizantes, o emprego da biotecnologia para modificação das
variedades adaptadas.

E ainda temos técnicas de seleção genética, fertilização in vitro e
clonagem, largamente empregadas na produção animal, inclusive de
peixes.

A despeito do romantismo que pressupõe a atividade de criar, plantar e
colher, a disputa entre cada elo da cadeia por maior fatia do lucro do
setor nada tem de poética.

O elo mais frágil é o agricultor. Ainda que faça uso da tecnologia,
como regra geral ele o faz, não há como superar essa condição de
fragilidade, especialmente se o agricultor não tiver escala de
produção.

O grande desafio é ampliar o número de produtores que fazem parte do
agronegócio de sucesso. Não interessa ao agro ser uma ilha de
prosperidade e, sim, um continente de sucesso.

Aumentar, fortalecer e consolidar uma classe média rural deve ser o
esforço de todos, como foi com a classe média urbana.

Esse caminho só será possível se fizermos com que toda inovação e toda
tecnologia existentes no país cheguem à maioria dos produtores. Hoje,
poucos têm acesso ao aparato tecnológico existente.

O instrumento capaz de democratizar o saber e a tecnologia no campo é
a rápida implementação de uma política de extensão rural ou de
assistência técnica.

Qualificar tecnicamente os produtores para que façam escolhas
corretas, para que formatem um plano de negócios e melhorem sua
capacitação gerencial são tarefas absolutamente indispensáveis.

São esses instrumentos que nos permitirão multiplicar a produção de
nossas terras, sem que se desmate uma única árvore sequer.

O ato de disseminar conhecimento e tecnologia é quase uma profissão de
fé. É a forma mais sustentável e honesta de proteger as pessoas e os
seus negócios.

Enquanto governos de vários países subvencionam suas agriculturas
mundo afora, injetando bilhões de dólares no setor, aqui não existe
uma agricultura subsidiada.

O produtor trabalha com o controle de custo na mão e, na hora de
definir seu sistema de produção, busca, no mercado, as tecnologias
desenvolvidas a duras penas pela Embrapa e pelos produtores de insumo.

Nossa escolha é a busca da inovação, que faz com que possamos superar
desafios do danoso custo Brasil.

A agricultura brasileira --que hoje sustenta a balança comercial, gera
mais de 1 milhão de empregos a cada ano e participa com 22,5% de toda
a riqueza produzida na nação-- não vive de benesses governamentais. E
não se queixa disso.

Só nos países ricos a sociedade pode se dar ao luxo de bancar a
ineficiência de setores da economia que se recusam a investir em
tecnologia e inovação, e vivem à caça de subsídios.

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/katiaabreu/1201842-tecnologia-que-a-cidade-nao-ve.shtml

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