terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Três barragens do Oeste custaram 15 milhões de euros mas não funcionam

CARLOS CIPRIANO 18/12/2012 - 00:00


Sobrena, Alvorninha e Arnóia são nomes de barragens nos concelhos do
Cadaval, Caldas da Rainha e Óbidos construídas com fundos comunitários
para irrigar terrenos agrícolas. Nenhuma cumpre a função.

Desde que foi construída, em 1997, a barragem da Sobrena (Cadaval)
nunca encheu. Dela se esperava que irrigasse 100 hectares de terrenos
agrícolas, beneficiando 120 agricultores, sobretudo produtores de pêra
rocha.

A barragem é uma exposta ruína, com os edifícios de apoio invadidos
pelas silvas e um paredão de onde se avista uma charca no lugar onde
deveria estar uma albufeira. Em redor só se avistam eucaliptos.

E são precisamente estes árvores uma das causas apontadas para o
fracasso deste investimento superior a dois milhões de euros. Em 2006,
o então secretário de Estado da Agricultura justificava o défice de
água da barragem pela "acção hidrológica do coberto da bacia,
constituída pelo povoamento de eucaliptos" que ali existem há mais de
40 anos. Ou seja, a barragem da Sobrena não enche porque os eucaliptos
lhe bebem a água.

Outra explicação, já investigada pelos serviços do Ministério da
Agricultura, tem a ver com as condições geológicas do solo, que estará
aluído, deixando escorrer a água. Existe, por isso, um processo
judicial em curso, colocado pelo Estado, contra a empresa que
construiu a barragem por não ter verificado adequadamente as
características geológicas do terreno. Para os agricultores do
Cadaval, a expectativa de há 15 anos já se esgotou há muito - acabaram
por recorrer a furos para regar os seus pomares.

Expectativas tinham também os agricultores de Alvorninha (Caldas da
Rainha) quando em Janeiro de 2005 o então primeiro-ministro, Pedro
Santana Lopes, inaugurou a barragem da freguesia. Um evento que até
teve direito a bênção do cardeal patriarca, D. José Policarpo, ele
próprio natural daquela freguesia.

Mas oito anos depois o investimento de 6,5 milhões de euros continua
por rentabilizar. É certo que a albufeira já encheu uma vez e que tem
estado a 40 e a 50% da sua capacidade, mas daí não pode passar
enquanto o Instituto da Água (Inag) e o LNEC não terminarem os testes
que têm vindo a fazer e que apontam para a existência de uma fissura
no solo.

Virgílio Leal, presidente da Junta de Alvorninha, garante que essa
fissura não é grave e diz que está desde Fevereiro "à espera de saber
se vão ou não injectar cimento no leito da albufeira para evitar que a
água se escoe".

Nos últimos anos já foram feitas algumas descargas que permitiram
regar alguns terrenos contíguos, mas o sistema de rega, que tem
condutas enterradas ao longo de 17 quilómetros, 84 tomadas de rega e
151 bocas de rega, continua desaproveitado.

Rego Filipe, da associação de regantes, diz que a capacidade de
armazenamento desta barragem (700 mil metros cúbicos de água)
permitiria suavizar os efeitos de um ano de seca não só em Alvorninha
como nas freguesias em redor.

O caso de Óbidos é diferente. A barragem do rio Arnóia é a maior da
região e foi construída para regar 1300 hectares de terrenos no
extenso vale que se avista desde as muralhas do castelo, beneficiando
cerca de mil agricultores.

Também teve direito a inauguração com pompa e circunstância. Em 2005
Jaime Silva, o então ministro da Agricultura, inaugurava, porém, uma
obra inacabada. É certo que o paredão e as comportas são monumentais,
a barragem avista-se da A8 e a obra enche o olho. Mas para
rentabilizar os sete milhões de euros que custou, falta-lhe construir
o sistema de rega, um projecto que ainda não saiu do papel e que luta
agora com dificuldades de financiamento para ser executado.

A barragem do Arnóia, porém, já encheu e já teve funções de
regularização do caudal do rio. Também já serviu para alguns desportos
náuticos. E o seu espelho de água, cujo perímetro, sinuoso, abrange as
freguesias das Gaeiras e de A-dos-Negros, é apetecível para o sector
imobiliário.

Um ano depois da inauguração era anunciado para as suas margens um
investimento privado de 50 milhões de euros. O Shopping Center Plaza
Oeste era para ter sido iniciado em 2007 e concluído em 2010, e teria
uma área de construção de 83 mil metros quadrados, dos quais 20 mil
destinados a um "retail park" e 63 mil a um centro comercial. Um
empreendimento que só por si já justificava a existência da barragem e
quase dispensava o sistema de rega. Mas oito anos depois nem turismo
nem agricultura beneficiam cabalmente desta infra-estrutura.

O PÚBLICO contactou o Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e
do Ordenamento do Território, mas não obteve resposta.

http://www.publico.pt/local-lisboa/jornal/tres-barragens-do-oeste-custaram-15-milhoes-de-euros-mas-nao-funcionam-25772595

1 comentário:

Anónimo disse...

E a Barragem do Abrilongo? Nem os canais de rega foram feitos e tão pouco está certificada pelo LNEC. Podem ver a degradação do paredão. Esta sim é caso único pois a previsão era de regar 1500 hectares, de fazer uma rede viária e de limpar o leito dos rios. Milhões de contos não de euros para pouca rega.

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