sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Açores: Agricultura tem capacidade para aceitar desempregados

2013.01.16 (00:00) Açores
O presidente da Associação Agrícola de São Miguel e da Federação
Agrícola dos Açores, Jorge Rita, mostra-se preocupado com o aumento do
emprego na Região e reassumiu que a agricultura açoriana tem espaço
para absorver uma parte da mão-de-obra que está no desemprego no
arquipélago.
Contudo, alerta, os serviços oficiais têm de lançar acções de
reciclagem e formação destes trabalhadores e é preciso que os futuros
trabalhadores agrícolas tenham consciência de que os empresários
agrícolas não podem continuar a pagar os ordenados que têm vindo a
pagar.

Um trabalhador rural está a receber, neste momento, nos Açores, entre
750 e os mil euros por mês consoante o número dias que trabalha e há
meses em que este ordenado é superior. Há situações em que as famílias
com quintais pagam a trabalhadores agrícolas a 40 e 45 euros por dia
para os limpar e cultivar.

Os empresários agrícolas têm vindo a fazer um esforço para manterem
estes ordenados elevados (muito acima do ordenado médio no comércio de
Ponta Delgada por exemplo) num quadro da rentabilização das
explorações agrícolas face à constante subida dos custos de factores
de produção como os cereais e compostos para rações.

Nesta perspectiva, num cenário de mais mão-de-obra disponível, os
ordenados dos trabalhadores agrícolas vão aproximar-se mais do
ordenado médio regional e, portanto, tenderão a baixar. O presidente
da Federação Agrícola dos Açores, Jorge Rita, não tem dúvidas que,
para a agricultura receber mais mão-de-obra, é precisa formação e
baixar os ordenados agrícolas.

Correio dos Açores (CA): O desemprego aumentou em Dezembro nos Açores.
Tem vindo a aumentar mês após mês e a Agricultura tem sido espaço para
muitos desempregados…
Jorge Rita (JR): Tem-se notado, de alguma forma, que a agricultura
começa a absorver alguma desta mão-de-obra disponível. E existe, no
sector agrícola, áreas de grande potencial em matéria de mão-de-obra.
Para nós, o que é fundamental, neste momento, - em relação a esta
situação – é que muita gente desabituou-se de trabalhar na agricultura
e, face à evolução do sector, muita gente não sabe trabalhar na
agricultura. E é importantíssimo que se faça, também, alguma
reciclagem e, essencialmente, alguma formação em algumas áreas
agrícolas. Deve-se aproveitar algum 'Know How' que ainda há em algumas
das ilhas para que, depois, as pessoas tenham um conhecimento mínimo
para trabalharem em algumas áreas da agricultura.
Particularmente, na área do leite, tem havido uma crescente
especialização em resultado das exigências que a própria qualidade do
leite obriga, e, consequentemente, a própria classificação e a forma
como o leite é pago. Tem de haver, nestas áreas, mais conhecimento e
mais especialização.
A área da carne, embora não exija tanta especialização, obriga a mais
conhecimentos e, na diversificação agrícola, - que é aquela que tem um
grande potencial de absorção de muita mão-de-obra, quer a nível das
produções locais e tradicionais, quer a nível da floresta -, é
essencial que haja alguma formação.

CA: E os empresários agrícolas podem manter os ordenados que têm vindo
a pagar aos trabalhadores agrícolas?
JR: Não é possível. É importante que as pessoas saibam que quem
trabalhou e trabalha na agricultura, ao nível da mão-de-obra, tem hoje
um bom ordenado. Mas, os empresários agrícolas dificilmente poderão
pagar ordenados tão elevados como têm vindo a pagar.
Temos de ter consciência de que se pode aumentar o emprego na
agricultura, - e pode e deve-se aumentar o emprego neste sector porque
existe espaço. Agora, para as explorações agrícolas serem rentáveis,
mesmo na área da diversificação agrícola, não se pode pagar aquilo que
se paga, presentemente, em termos de mão-de-obra.
Todos sabemos que se paga bastante a um homem para semear batatas ou
podar vinha ou fazer outro serviço qualquer na agricultura. Não é que
o trabalhador não mereça receber tanto pelo seu trabalho. Mas o facto
e que, atendendo à situação económica actual e às margens residuais na
venda dos produtos agrícolas, para dar oportunidade a que mais pessoas
possam trabalhar, os ordenados agrícolas têm que ser mais baixos do
que aqueles que agora se paga.
E os novos trabalhadores que surgem no sector têm que ter mais
conhecimentos agrícolas do que aqueles que tinham quando deixaram o
sector.
Sei que esta não é uma situação fácil mas, obviamente, temos a
consciência que a mão-de-obra disponível que pode ingressar na
agricultura tem que ter mais formação, mais disponibilidade para
trabalhar, muito mais conhecimento e as pessoas têm que perceber que
os ordenados – que até foram bastante avultados na agricultura – serão
incomportáveis, nos próximos tempos, para os empresários agrícolas
pagarem.

CA: O que está a dizer é que, por um lado, há espaço para mais emprego
na agricultura. Mas, por outro, quem quiser trabalhar no sector tem de
estar devidamente formado e adaptado às novas técnicas e disponíveis
para receberem ordenados inferiores àqueles que se têm vindo a pagar…
JR: Exactamente. Pelo trabalho que executam mas, sobretudo, por
escassez de mão-de-obra, os trabalhadores agrícolas estão entre os
mais bem pagos dos Açores. E esta situação está a ser incomportável
para os empresários agrícolas. Temos todos de ter a noção desta
realidade.

FONTE: Correio dos Açores
http://www.anilact.pt/informacao-74/6938-agricultura-tem-capacidade-para-aceitar-desempregados

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