sábado, 26 de janeiro de 2013

Estado gasta 100 milhões em experiências desconhecidas

Por Isabel Tavares, publicado em 26 Jan 2013 - 03:10 | Actualizado há
11 horas 30 minutos
São anos de investigação deitados fora. O governo quer garantir que
tanto dinheiro vai servir para resolver problemas reais



O Ministério da Agricultura tem uma série de centros experimentais e
estações agronómicas onde foram investidos milhões mas, apesar do
vasto património, poucas entidades, públicas ou privadas, conhecem
estes serviços.

Estes polos de investigação estavam até há bem pouco tempo na esfera
do INIA – Instituto Nacional de Investigação Agrária (actual Instituto
Nacional de Recursos Biológicos), que, de acordo com alguns
ex-ministros da Agricultura contactados pelo i, era dos mais
dispendiosos do ministério. Apesar disso, hoje poucos lhes reconhecem
relevância no campo da investigação.

Hoje, estes organismos foram reorganizados e ganharam novas
dependências, mas um orçamento do INRB relativo a 2010 mostra
necessidades financeiras superiores a 100 milhões de euros.

O governo reconhece que os objectivos não estão a ser cumpridos e que
falta coordenação entre investigadores e agricultores para trazer
competitividade ao sector. Apesar disso, lembra que existem casos de
sucesso, alguns deles bastante recentes, em áreas como o arroz, o
olival ou a vitivinicultura.

"As várias áreas de experimentação existentes no Ministério da
Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território, nomeadamente,
nas direcções regionais de agricultura e pescas (DRAP) e no Instituto
Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV) são de grande
importância no trabalho que realizam junto dos agricultores", defende
o ministério.

"A nossa visão para a investigação aplicada passa por um maior
envolvimento e aprofundamento das inter-relações com todos os agentes,
privados e públicos, nas várias actividades desenvolvidas, através da
implementação de planos estratégicos ao nível das fileiras
produtivas", disse ao i.

Neste contexto, e independentemente da sua estrutura organizacional, o
ministério "pretende reforçar a articulação entre as DRAP, o INIAV e
as organizações de produtores, com o objectivo de garantir uma maior
coerência nas acções, melhorar a eficiência na afectação de recursos e
de trabalho para dar resposta a problemas reais e situações concretas
de inovação".

A listagem de centro de experimentação que publicamos nesta página
peca por defeito e não inclui, por exemplo, as estações agronómicas.
Ainda assim são 15 centros com cerca de 4 mil hectares, mais de quatro
mil campos de futebol. Sem contar com recursos humanos e financeiros,
que foi impossível contabilizar.

O secretário de Estado da Agricultura, José Diogo Albuquerque, disse
ao i que os centros de experimentação estão muito orientados para as
regiões em que estão inseridos e trabalham muito em conjunto com as
associações e os produtores locais, mas afirmou que o futuro passa por
uma investigação mais aplicada, seja ela feita por universidades,
através do Estado ou de outros agentes ligados ao sector.

Alguns responsáveis do sector consideram que parte do problema passa
pela transferência do conhecimento dos centros de experimentação e
investigação para as empresas, mas também há os que defendem que
Portugal parou no tempo em matéria de conhecimento e só lhe resta ir
buscar o que se faz lá fora, como acontece na fileira do olival, em
que a investigação importante vem de Espanha.

Capoulas Santos e Armando Sevinate Pinto, ex-ministros da Agricultura
de governos liderados por diferentes partidos políticos, concordam que
a investigação na orla do Estado foi perdendo peso ao longo dos anos,
sobretudo à medida que o ensino superior agrário foi emergindo sem, no
entanto, ter vingado nesta matéria.

Isto resultou no envelhecimento e em algum retrocesso em estações de
floricultura, florestas, zootecnia e outras mais. Ainda há
investigação de excelência mas isso não é uma generalidade é, antes
pelo contrário, uma raridade.

Depois, Portugal entrou no circulo internacional de investigação e
acabou por trocar projectos nacionais por financiamentos externos, de
certa forma desfocando a questão, que passou a ser direccionada não
tanto para as necessidades internas mas para projectos de outros
países que traziam algum dinheiro para dentro de casa.

Hoje, uma boa parte deste centros de experimentação e investigação
competem directamente com os restantes produtores em matéria de ajudas
financeiras e, como qualquer agricultor, vivem de RPU, o regime de
pagamento único comunitário, como confirmou ao i o director da DRAP
Norte, Manuel Cardoso.

Em 27 anos, Portugal teve 10 ministros da Agricultura, um factor que
também não terá contribuído para manter um fio condutor nesta matéria.
José Diogo Albuquerque admite que possam ter existido erros, mas
garante que o futuro será mais eficiente.

http://www.ionline.pt/dinheiro/agricultura-estado-gasta-milhoes-experiencias-ninguem-conhece

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