terça-feira, 29 de janeiro de 2013

O flagelo da mediocridade

Paulo Pimenta de Castro

Em Portugal o flagelo dos incêndios florestais parece ser um facto
politicamente assumido, tanto que os Governos insistem em apostar no
fomento florestal, em novas arborizações, descurando liminarmente as
práticas silvícolas subsequentes, de condução cultural, ou seja de uma
gestão florestal ativa, racional do ponto de vista económico e social
e ambientalmente sustentável. Tanto é assim que a curva de área
florestal ardida acumulada continua em fase marcadamente ascendente
ano após ano.




Mas mais, depois de divulgar os números relativos ao desastroso
investimento, com dinheiro público, realizado nos últimos 30 anos com
o pinheiro bravo, o Governo pode agora vir a facilitar, pela mão da
ministra da Agricultura, a massificação em minifúndio de uma outra
espécie lenhosa, altamente combustível, o que pode aportar impactos
imprevisíveis ao nível dos incêndios florestais. Isto por não serem
salvaguardadas condições mínimas de assistência técnica aos milhares
de pequenos proprietários rurais, como garantia de uma racional gestão
florestal, nem condições mínimas para um adequado acesso aos mercados,
onde se registam indícios de concorrência imperfeita, como meio de
garantia de uma rentabilidade do negócio que potencie essa mesma
gestão florestal ativa. Atualmente, a ausência de gestão racional em
minifúndio (explorações em menos de 20 hectares) não deixa de ser uma
resposta à fraca, nula ou negativa expectativa gerada pelo negócio
silvícola.


A propósito, não deixa de ser curiosa a comparação do gráfico acima
com a curva relativa ao Rendimento Empresarial Líquido (REL) na
produção florestal, publicada pelo INE, nas Contas Económicas da
Silvicultura 2010, em junho de 2012.

Claramente, o INE identifica, na década 2000-2010, um "declínio
progressivo" da silvicultura (produção e exploração florestal), no
qual o REL reflete o comportamento da produção e do Valor Acrescentado
Bruto (VAB), revelando uma situação desvantajosa para os produtores
florestais. No VAB, entre 1990 e 2010, o peso da silvicultura no VAB
nacional decresceu significativamente de 1,2% para 0,4%. O peso das
florestas no PIB regrediu de 3,0% em 2000 para 1,7% em 2010.




No caso do eucaliptal, apesar do significativo aumento de área nos
últimos 30 anos (perto de 100%), a produtividade média anual remonta a
1928, isto apesar dos desenvolvimentos científicos registados no País
nas últimas décadas. Conceituados investigadores nacionais denotam a
existência de indícios de crescente abandono da gestão destes
povoamentos, com especial evidência no período 1992-2005.
Curiosamente, a própria indústria de celulose e papel reduziu as suas
áreas próprias de eucaliptal em mais de 33 mil hectares entre 2002 e
2011. Será indício de negócio de risco que pretendem transferir para
terceiros? O que justifica a redução da sua capacidade de
autoabastecimento, aumentando assim a sua dependência do mercado
nacional e das tão "alarmantes" importações?

A campanha protagonizada pela ministra Assunção Cristas de
massificação do eucaliptal em minifúndio tem todos os indícios para se
transformar, nos próximos anos, num aumento do flagelo dos incêndios
florestais em Portugal. Mas, o flagelo será mesmo devido a
mediocridade política ou à politiquice ao serviço de interesses
específicos (veja-se a notícia do Jornal I, de 15 de maio de 2012)? A
ministra que o diga!



Lisboa, 28 de janeiro de 2013

Paulo Pimenta de Castro
Engenheiro Florestal
Presidente da Direção da Acréscimo – Associação de Promoção ao
Investimento Florestal

http://www.agroportal.pt/a/2013/pcastro.htm

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