quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

O Vinho do Douro também está em crise?

Por Soraia Barros e Eduarda Gonçalves - jpn@c2com.up.pt
Publicado: 28.01.2013 | 15:56 (GMT)
Marcadores: Douro , Economia , País , Porto , Vinho
São duas empresas de sucesso e têm vindo a aumentar as vendas: Duorum
e Quinta do Sagrado. Ambas acreditam que o vinho pode ajudar o nosso
país a sair da crise, mas para isso é preciso "criar uma imagem de
Portugal no estrangeiro que ainda não existe".

"É verdade. A crise também chegou à vinicultura". Quem o diz é José
Maria Soares Franco, responsável pela empresa Duorum, produtora de
vinhos no Douro. O projeto, com apenas cinco anos, já é um caso de
sucesso. Marca presença em vinte e quatro mercados e aumenta as vendas
de ano para ano.

"É evidente que a crise chegou. Mas a agricultura está diretamente
ligada àquilo que é mais indispensável à vida das pessoas, por isso,
será o último local onde a capacidade do poder de compra das pessoas
será afetado", afirma.

Também José Maria Calém, proprietário da Quinta do Sagrado, admite a
chegada da crise ao setor vinícola. Todavia, para o empresário, os
vinhos mais afetados são os mais caros, de maior qualidade: "No ano
passado, Portugal aumentou a exportação dos vinhos mais baratos, mas o
problema centra-se nos vinhos mais caros. Aí nota-se. Os rendimentos
disponíveis são inferiores e, portanto, as pessoas consomem vinho mais
barato", explica.

Vinho do Porto em crise?

"O vinho do Porto tem um pequeno problema", começa José Maria Calém.
"Geralmente, em Portugal era consumido no fim da refeição.
Provavelmente o melhor vinho de sobremesa do mundo, seja para o queijo
seja para o doce. Mas tem sofrido nos últimos anos com as alterações
dos estilos de vida. As pessoas não comem como comiam antes e portanto
também não bebem como bebiam antes. E se tem que sacrificar algum dos
vinhos que faz parte da sua refeição, o primeiro é o vinho do Porto.
Tenderá a ser uma coisa mais utilizada em ocasiões especiais. Para
piorar, também não se tem levado o vinho do Porto até às novas
gerações.
Soares Franco, da Duorum, chega mesmo a dizer que "as pessoas trocaram
os vinhos mais caros por vinhos mais baratos". E houve ainda "outros
consumidores que trocaram os vinhos mais baratos pela cerveja e pela
água".

Oportunidades em tempo de crise
Mas como em qualquer área, a crise também abre novas portas. Os dois
produtores de vinho do Douro acreditam que a solução passa por levar o
néctar até ao estrangeiro. No entanto, o governo falha nas medidas de
apoio ao setor.

Calém, da quinta do Sagrado, admite que o vinho pode ajudar Portugal a
sair da crise se "se investir nos mercados lá fora". Para o
vinicultor, "Portugal nunca investiu". "Há um mito de que os nossos
vinhos são muito conhecidos lá fora. Não é verdade. Os nossos vinhos
têm falta de notoriedade no estrangeiro, não há nenhum importador ou
distribuidor de vinhos lá fora que ache que tenha que ter Portugal no
seu portefólio", garante.

Também Soares Franco admite que os apoios do governo a este nível são
escassos: "Sabe-se que o vinho e a vinha são das atividades económicas
que podem rentabilizar e melhorar a atividade económica em Portugal,
mas no exterior não existe uma imagem de Portugal", diz. Os
estrangeiros "sabem o que é o vinho do Porto, quem é o Eusébio, alguns
até sabem quem é a Amália Rodrigues, mas não sabem que existe
Portugal, nem sabem que existe o nome Portugal".

O vinho até pode ser uma oportunidade para o nosso país, mas segundo
Soares Franco, esta atividade "não tem sido tão apoiada como devia, em
termos de incentivos - quer nacionais quer comunitários". "A
estratégia do Governo está errada, o vinho está na moda no mundo
inteiro", diz Soares Franco. "Seja na América, no oriente... o
investimento teria com certeza retorno, na medida em que isto cria
emprego, cria valor acrescentado, seria com certeza uma área de
investimento com retorno".

"O vinho está na moda"
A boa qualidade das uvas das duas quintas dá origem a vinhos
reconhecidos internacionalmente, como sendo "vinhos de muito boa
qualidade". Isto faz com que os vinhos do Douro tenham uma maior
notoriedade. No entanto, José Maria Calém adverte que, na sociedade em
que vivemos "as pessoas compram aquilo que lhes metem mais vezes à
frente dos olhos e, portanto, há um marketing e uma publicidade que
determinam a preferência dos consumidores". Marketing esse pouco
explorado, na perspetiva de José Maria Soares Franco.

Duorum e Quinta do Sagrado são, no entanto, dois casos de sucesso,
mesmo com a chegada da crise. As duas empresas cresceram o volume de
vendas e estão presentes em vários mercados estrangeiros. Não deixam,
no entanto, de referir que o vinho "merecia mais apoio",
principalmente "porque é tudo feito a partir de uma paixão, do gosto e
do querer de quem quer fazer coisas da vinha e do vinho", realça
Soares Franco.

http://jpn.c2com.up.pt/2013/01/28/o_vinho_do_douro_tambem_esta_em_crise.html

Sem comentários:

Enviar um comentário