sábado, 19 de janeiro de 2013

Quercus: Biocombustíveis de primeira geração «não são solução»

17-01-2013 às 11:380

inShareA União Europeia (UE) pode substituir os combustíveis fósseis
(gasolina e gasóleo convencionais) por energias renováveis no sector
dos transportes sem o recurso a biocombustíveis com impactes muito
negativos para o ambiente, nomeadamente os de produção agrícola (ou de
primeira geração).
Esta é a principal conclusão de um estudo divulgado hoje em Bruxelas,
«Sustainable Alternatives for Land-Based Biofuels in the European
Union», elaborado pelo instituto de investigação holandês CE Delft(1)
para as organizações não governamentais de ambiente europeias
Greenpeace, BirdLife Europe, European Environmental Bureau (EEB) e
Federação Europeia dos Transportes e Ambiente (T&E).

Este estudo explora vários cenários de desenvolvimento futuro do
sector dos transportes e recomenda uma viragem urgente da política
europeia no sector, colocando a prioridade sobre a eficiência
energética e um maior desenvolvimento de tecnologias limpas, como os
veículos eléctricos.
Outra solução apontada foi o uso de biocombustíveis com menores
impactes sociais e ambientais, designados de segunda geração
(produzidos a partir de resíduos e detritos, como são os casos dos
óleos alimentares usados e do biogás proveniente de digestão anaeróbia
de resíduos urbanos).

A UE definiu, em 2009, no âmbito da Directiva das Energias Renováveis
(em inglês, Renewable Energy Directive, RED) e da Directiva sobre a
Qualidade dos Combustíveis (em inglês, Fuel Quality Directive,c FQD) a
sua política sobre os biocombustíveis. A Diretiva RED estabelece uma
meta de incorporação de 10% de energias renováveis no sector dos
transportes até 2020, enquanto a Directiva FQD obriga os fornecedores
de combustíveis a reduzir as emissões de gases com efeito de estufa
(GEE) desses produtos em 6% até 2020.
No entanto, os Estados-Membros pretendem atingir estes objectivos
através de biocombustíveis produzidos a partir de culturas agrícolas,
ignorando os seus impactes sociais e ambientais, alerta esta
quinta-feira a associação Quercus.
Os impactes deste tipo de produção de biocombustíveis «incluem as
alterações de uso do solo associadas à deslocalização da produção de
alimentos para novas terras agrícolas e florestais, à custa da terra
arável ficar afecta à produção de biocombustíveis, e as emissões de
carbono resultantes da conversão de culturas ou desflorestação», frisa
a associação.
De acordo com um estudo da Comissão Europeia, a maioria dos
biocombustíveis comercializados actualmente na Europa – sobretudo de
primeira geração, ou seja, produzidos a partir de culturas agrícolas –
não oferecem garantias de uma redução efectiva das emissões de GEE em
relação aos combustíveis convencionais que estes pretendem substituir,
considerando as emissões associadas às alterações indirectas de uso do
solo.
O estudo hoje publicado em Bruxelas e divulgado por várias
organizações não-governamentais de ambiente mostra como é possível
fazer uma mudança de sentido da política de transportes.
A CE preparou uma proposta de revisão das Directivas RED e FQD, em
Outubro de 2012. Caso venha a ser adoptada, isto significará que pelo
menos metade da meta de 10% de renováveis nos combustíveis para os
transportes seja cumprida à custa de biocombustíveis de produção
agrícola, com maiores impactes climáticos e ambientais associados. A
proposta da Comissão vai ser discutida pelos Ministros da UE nos
Conselhos de Energia (Fevereiro de 2013) e de Ambiente (Março de 2013)
e pelo Parlamento Europeu durante os próximos meses.

As organizações não-governamentais europeias apelam ao Parlamento
Europeu e aos governos dos Estados Membros para se concentrarem nas
soluções propostas pelo estudo e colocarem assim a UE no caminho de
uma política mais «verde» para transportes e combustíveis mais limpos.
Esta solução levaria a uma redução significativa das emissões de GEE
em 2020, apoiando o desenvolvimento de indústrias inovadoras de
produção mais limpa, e que são uma grande fonte de emprego.
Este estudo mostra que os Estados-Membros podem cumprir as suas
obrigações hoje previstas sem recorrer – ou com um recurso
praticamente nulo - a biocombustíveis produzidos a partir de culturas
agrícolas, como a soja, a colza e a palma.

Para Mafalda Sousa, da Quercus, «este estudo da CE Delft é muito
importante, por reforçar a necessidade da Comissão Europeia melhorar a
sua proposta inicial para contabilizar as emissões de GEE dos
biocombustíveis em todo o seu ciclo de vida, sobretudo a partir de
produção agrícola, e que deverá ter em conta as emissões associadas às
alterações indirectas de uso do solo».

Segundo João Camargo, da Liga para a Protecção da Natureza, «é altura
de começar a olhar para os biocombustíveis de primeira geração como
aquilo que eles são: combustíveis mais gravosos para o ambiente do que
os próprios combustíveis fósseis, em termos de emissões de GEE e de
mudança de usos dos solos (para não falar da competição com a
segurança alimentar). A indústria dos biocombustíveis no seu estado
tecnológico actual é parte activa do problema, está muito longe de ser
qualquer espécie de solução».

http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=610826

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