sábado, 5 de janeiro de 2013

Turismo - Reforma territorial traz incertezas sobre a marca «Douro»

A anunciada extinção da Entidade Regional de Turismo do Douro e a sua
integração no Turismo do Porto e Norte de Portugal (TPNP) está a
colocar os intervenientes perante a questão do futuro da marca
«Douro». António Martinho, presidente do Turismo do Douro, afirma que
«está em causa a salvaguarda da marca». Melchior Moreira, presidente
do TPNP, rejeita a ideia e garante: «o Douro é parte integrante da
região Norte e tem obviamente um lugar muito especial pelo que de
único possui».

Ana Clara | sexta-feira, 4 de Janeiro de 2013

Em Dezembro último, a Assembleia-Geral do Turismo do Douro, reunida em
Lamego, deliberou que, com a reorganização administrativa do sector do
turismo, «não fica salvaguardada a marca "Douro" que, através de um
trabalho em profundidade, se tem vindo a afirmar nos mercados nacional
e internacional, e se tem mostrado tão importante para a atracção de
turistas ao Norte do país e para a própria afirmação da marca
"Portugal"».

António Martinho, Presidente da Direcção do Turismo do Douro, refere
que «a regionalização turística deve ser pensada num quadro de esforço
que procure interpretar as identidades e idiossincrasias de forma
orgânica, pois é assim que elas se apresentam ao longo dos
territórios, sem fronteiras desenhadas por convenções estatísticas».

Este esforço, garante, «não é possível com uma estrutura de tipo NUT
II. Deve, isso sim, ir no sentido de interpretar correctamente a força
das identidades culturais e potenciá-las economicamente», vinca,
lembrando que «o trabalho que se desenvolveu nestes últimos anos foi
nesse sentido. Desde logo, em coerência e dando sequência ao Plano de
Desenvolvimento Turístico do Vale do Douro».

E depois, esclarece, pelos investimentos públicos e privados que se
realizaram, «melhorando e qualificando a oferta, envolvendo nesse
desígnio o sector privado, os municípios (19) e pensando a promoção do
destino de forma alargada, abrangente e ambiciosa, com eventos que
ultrapassaram as fronteiras e com uma participação activa e empenhada
na Agência de Promoção Turística, a ATP/AR».

Para António Martinho, «promoção não é só estar na Bolsa de Turismo de
Lisboa (BTL). E os resultados, afiança, estão à vista: «os números de
2011 apontam para 440 mil dormidas, incluindo, como será natural, as
cerca de cem mil dormidas que têm lugar nos oito barcos-hotel, acima
da barragem de Carrapatelo». No quadro da proposta de lei de
reorganização do sector «verifica-se um claro retrocesso».

O Presidente da Direcção do Turismo do Douro refere que, neste
momento, apenas se sabe «que o Douro desaparece da orgânica de
governança do turismo. Por completo. E convenhamos, o Norte é algo de
abstracto e mutável. Até o norte magnético se move e afasta do Pólo
Norte!», ironiza.

Confrontado pelo Café Portugal com esta posição do responsável do
Turismo do Douro, Melchior Moreira, presidente do TPNP, discorda, até
porque, justifica, «não há qualquer facto que comprove isso».

«Aliás, a ideia de que a integração prevista levará a que a marca
"Douro" não fique salvaguardada é um autêntico absurdo. O Douro é
parte integrante da Região Norte e tem obviamente um lugar muito
especial pelo que de único possui. A marca "Douro" foi, é, e sempre
será, uma referência de indiscutível valor patrimonial. Logo, seria
impensável não ser convenientemente aproveitado aquilo que é uma
mais-valia, tanto sob o ponto de vista regional, como até mesmo
nacional», responde Melchior Moreira.

«O Douro é um elemento fundamental»:
O responsável da TPNP garante que a marca «Douro», irá continuar a ser
divulgada e promovida como até ao momento. «Qualquer outra ideia sobre
o assunto seria um erro crasso. O facto de estar prevista a extinção
do Pólo de Desenvolvimento do Douro, não significa que o Douro
desapareça ou perca o prestígio que indiscutivelmente a própria marca
já tem e que ninguém lhe poderá retirar. Temos é que aproveitar isso e
potenciar estrategicamente o destino turístico no seu todo, com base
naquilo que nos diferencia. E, nesse aspecto, o Douro, é por si mesmo,
um elemento fundamental e uma ajuda imprescindível em termos
promocionais, fazendo com que o Porto e Norte de Portugal tenha uma
oferta ainda mais diferenciadora e atractiva, sob o ponto de vista
nacional e internacional», responde Melchior Moreira.


E acrescenta: «a marca "Douro" é muito importante para o turismo
nacional, tal como a marca "Porto". O que é necessário é aproveitar
essa mais-valia para criar e promover um verdadeiro destino turístico.
Foi isso que fizemos no Porto e Norte de Portugal, através da
respectiva Entidade Regional de Turismo. Tal não sucedeu com o "Douro"
que apesar de ser uma marca forte, não conseguiu criar um verdadeiro
destino turístico. É isso que o Douro vai ganhar com a integração no
Porto e Norte de Portugal».

Por seu turno, António Martinho fala dos receios do presente. «As
verbas transferidas do Orçamento do Estado (OE) têm vindo a decrescer.
Mas com o esforço do Turismo do Douro, das parcerias que tem
conseguido estabelecer com entidades públicas, a generalidade dos
municípios do Douro e outras, assim como com organizações empresariais
e empresas do/ou ligadas ao sector, temos conseguido os resultados que
estão à vista. O que resta das verbas para a estrutura tem sido
aplicado adicionalmente em projectos apoiados por fundos comunitários,
de um modo especial, através do Programa Operacional Regional do Norte
(ON2)».

Até ao momento, garante António Martinho, apenas se verificou a saída
de trabalhadores que tomaram outras opções profissionais, e revela que
actualmente o Turismo do Douro é composto por 14 funcionários e outra
funcionária que trabalha no Posto de Turismo de Amarante, município
que integra a área da TPNP. Em 2009 eram 19. «Não consideramos que o
nosso peso na despesa do sector seja significativo», sublinha António
Martinho.

«Alertas»:
Nesta medida, António Martinho teme que haja despedimentos com a fusão
da Turismo do Douro na TPNP. «A Proposta de Lei não trata todos por
igual. Ao extinguir os pólos e fundir as respectivas entidades
regionais nas que gerem áreas, temo que os colaboradores dos pólos
tenham um tratamento diferente dos colegas que trabalham noutras
ERT's. A Proposta de Lei não pode ser aprovada com mais essa falha.
Estamos a alertar os senhores deputados para mais esse problema»,
alerta.

Questionado sobre a possibilidade de despedimentos na sequência da
extinção da Turismo do Douro, o presidente da TPNP, Melchior Moreira,
diz que neste momento tal ainda é uma incógnita. Porém, afiança, «tudo
depende do tipo de enquadramento que os recursos humanos tiverem face
à actual política de emprego e às regras entretanto traçadas para a
resolução de situações análogas, estando naturalmente prevista a
salvaguarda dos postos de trabalho sempre que isso seja possível».

Por outro lado, António Martinho salienta que «há um dado que é
difícil controlar, que tem a ver com o número de
visitantes/excursionistas. A avaliar pelas visitas a museus,
monumentos, unidades de enoturismo, assim como a procura da região no
período das "Amendoeiras em Flor", os postos de trabalho criados
directa ou indirectamente com as novas unidades e com as empresas de
animação, podemos afirmar, sem receio, que o movimento turístico dá um
grande contributo para a economia do Douro».

Neste momento, considera, «é fundamental apostar mais na promoção
externa. Há mercados que nos procuram e aos quais devemos mostrar o
destino Douro de forma mais completa, como primeira região vinhateira
demarcada e regulamentada do mundo, Património da Humanidade, pela
UNESCO, sétimo destino turístico sustentável e integrando a rede
internacional de sítios de geoturismo, pela National Geographic
Society, destino turístico de excelência, pela Organização Mundial de
Turismo, e uma das 77 maravilhas da natureza, pela «New7Wonders».

Para além dos mercados tradicionais, defende António Martinho, «o
Douro é, hoje, procurado por turistas dos mercados brasileiro, alemão,
norte-americano e russo».

Dos alertas que o Turismo do Douro tem lançado sobre a necessidade de
manter a «autonomia» da marca Douro, António Martinho diz que os
mesmos «ainda não foram ouvidos na Secretaria de Estado do Turismo. E
é pena. Sei que há interesses que dificultam que o Douro se faça
ouvir. Neste como noutros sectores de actividade. A Região está em
perda demográfica, o peso político dos distritos em que se integra
também têm perdido representação no Parlamento. Há alguma debilidade
que dificulta o "fazer-se ouvir". Mas quero crer que, na Assembleia da
República, os nossos argumentos possam ser escutados», espera.

E questiona: «como se pode abandonar um destino turístico que em
quatro anos se consolidou enquanto tal e se afirmou como Marca?! Que
tem no seu Plano de marketing estratégico a constatação «da
importância dos territórios com "identidade", com "coerência", que
podem responder melhor ao "novo turista", criando condições para uma
oferta de produtos, novos, ou não, de forma mais personalizada. E num
momento em que a procura externa vem aumentando?».

Por tudo isto, acrescenta que o Turismo do Douro avançou com uma
proposta que os seus responsáveis consideram «construtiva e clara». Na
proposta, explica António Martinho, a entidade que dirige defende que
«tendo presente que a Lei a aprovar pode autonomizar, e com evidentes
vantagens, a Área Metropolitana do Porto, também o poderá fazer
relativamente ao território da Comunidade Intermunicipal do Douro».

«Nesse quadro, propomos que a Área Metropolitana do Porto e a
Comunidade Intermunicipal do Douro encontrem formas de articulação e
de cooperação para a gestão turística destes dois territórios, tendo
em atenção as afinidades, interdependências funcionais e imagem forte
da marca Porto e da marca Douro sendo a gestão desta parceria
articulada entre a AMP e a CIMDouro e desenvolvida pela ATP».

«Condições de trabalho adequadas às necessidades», responde TPNP
Para o TPNP, em relação ao Douro, e «embora ainda sem um plano
estratégico traçado em definitivo», Melchior Moreira garante que «as
nossas preocupações passam naturalmente pela necessidade de se criarem
condições de trabalho adequadas às necessidades e à urgência de se
atender ao que se considere como prioridades para o crescimento da
procura, em estreita colaboração com o trade e todos os restantes
agentes facilitadores».
E vinca «ser primordial que todos contribuam para que haja
estabilidade política, fazendo convergir as vontades, permitindo criar
condições para o diálogo e o desenvolvimento de parcerias que se
interpretem como sendo estratégicas para edificar rapidamente este
projecto. Tendo em consideração a importância que o turismo tem para
nós e a volatilidade com que os mercados se comportam, é fundamental
que sejamos céleres e objectivos».

Sobre o orçamento para 2013, Melchior Moreira afirma que embora
desconhecendo-se ainda qual o valor a ser transferido pelo Governo do
OE/2013, «aquilo que podemos dizer é que temos previsto e aprovado em
Assembleia Geral para o próximo ano, no nosso "Plano de Actividades e
Orçamento", um valor global de 8 509 164,56 euros».

Recorde-se que a proposta de lei do Governo sobre a reestruturação das
entidades regionais de turismo, aprovada em Novembro de 2012 em
Conselho de Ministros, prevê a extinção dos seis polos de turismo
existentes, que deverão ser fundidos nas cinco entidades regionais de
turismo e cuja área de intervenção é definida segundo as unidades
territoriais NUTS II.

http://www.cafeportugal.net/pages/noticias_artigo.aspx?id=5707

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