sábado, 2 de fevereiro de 2013

Estratégia. Sem regadio a agricultura portuguesa não é competitiva

Por Isabel Tavares, publicado em 1 Fev 2013 - 11:26 | Actualizado há 1
dia 7 horas
As culturas que precisam de água – hortícolas, azeite, cereais –- são
aquelas que estão a dar cartas no sector agrícola nacional


"Regadio: a sustentabilidade através da competitividade" foi o tema
que Francisco Gomes da Silva, a partir de hoje secretário de Estado
das Florestas e do Desenvolvimento Rural, levou ao IX Congresso
Nacional do Milho, que terminou ontem, em Lisboa.

Em Portugal, 52% das explorações (que representam 42% da superfície
agrícola útil) dependem, em maior ou menor grau, da disponibilidade de
água para a rega. Em 1,512 milhões de hectares de área útil, apenas
470 mil hectares são regados.

Nos pratos da balança da competitividade estão, de um lado, o peso
negativo do preço da energia e da água, bem como a evolução das
transferências de rendimento para os agricultores resultantes da
reforma da Política Agrícola Comum (PAC), em risco de diminuir
significativamente os níveis de pagamentos directos e com ameaças a
restrições ao apoio a investimentos em novos regadios.

A favor, as culturas de regadio, como o milho, o tomate, o azeite ou
os hortícolas, têm a tecnologia, o preço dos produtos e o II Pilar da
PAC.

Francisco Gomes da Silva lembra que em Portugal apenas 20% dos
recursos hídricos são utilizados, 75% na agricultura (14% na energia),
o que deixa o país numa situação mais confortável do que a maioria.

Ainda assim, Portugal debate-se com alguns problemas de armazenamento
e é, depois da Croácia, o país que mais recuperação de água podia
fazer, graças aos seus solos.

O desperdício de água tem vindo a diminuir desde 2000 e Francisco
Gomes da Silva estima que "a redução do desperdício passe de 37,5% em
2010 para 35% em 2020.

Para o novo secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento
Rural o regadio é uma prática sustentável "se for uma tecnologia útil
à satisfação das necessidades alimentares" e "se os recursos
utilizados não colocarem em causa a possibilidade de satisfazer as
necessidades das gerações futuras". Em ambos os casos a resposta é
positiva.

Gomes da Silva lembra que "o grande desafio é estender as melhores
práticas a todos os utilizadores de água de rega" e defende que
Portugal poderia ter um trunfo: "propor a certificação do utilizador
de água", ou seja, só pode regar quem sabe e não quem quer.

De acordo com a FAO, existem cerca de mil milhões de pessoas a passar
fome no mundo. Estima-se que a população atinja os 9 mil milhões em
2050. Para a organização mundial existe a necessidade de aumentar a
produção agrícola em cerca de 60% a 70%, um aumento que terá e ser
feito maioritariamente à custa das actuais áreas de produção, ou seja,
de maiores produtividades no mesmo espaço. Isto significa à custa do
regadio.

Já ontem na abertura do congresso, na quarta-feira, o secretário de
Estado da Agricultura, José Diogo Albuquerque, lembrou os agricultores
que "vamos necessitar de água e sem investimentos no regadio não
podemos ser competitivos como somos hoje".

Portugal é o quinto país da União Europeia onde a actividade agrícola
por trabalhador rendeu mais em 2012, de acordo com o Eurostat, o
gabinete de estatística da UE. Só a produção de milho aumentou 50% no
espaço de duas campanhas. Mesmo assim, Portugal produz apenas 30% das
suas necessidades, que são de cerca de 1,8 milhões de toneladas,
destinadas sobretudo ao mercado leiteiro.

http://www.ionline.pt/dinheiro/estrategia-sem-regadio-agricultura-portuguesa-nao-competitiva

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