sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Pode saber de onde vem o bife, já o hambúrger é um mistério

CLARA BARATA 14/02/2013 - 00:00

Trabalhador num dos matadouros romenos sob suspeita da investigação
das autoridades francesas DANIEL MIHAILESCU/AFP

Países da UE estudam mudança na etiquetagem da carne. Crise económica
fez disparar abate de cavalos.

Se comprar bifes de vaca no supermercado, algures tem de haver uma
etiqueta a dizer de que país vem a carne. Se não é portuguesa, é
provável que venha da Irlanda ou da Polónia, por exemplo. Mas se
comprar hambúrgueres, ou até uma lasanha pré-cozinhada congelada, a
norma europeia adoptada após a crise das vacas loucas não obriga a
mencionar a origem da carne nos produtos transformados. Apenas na
carne fresca. A mudança dessa regra está a ser discutida pelos países
da União Europeia afectados pela fraude da carne de cavalo nos pratos
ultracongelados.

Ontem houve uma reunião informal em Bruxelas dos 16 países afectados
pela crise da carne de cavalo encontrada em grandes quantidades em
comida congelada - da marca Findus e não só - cujas etiquetas dizem
ser apenas de vaca, mas o caso vai ser discutido de forma mais
aprofundada no próximo Conselho de Ministros da Agricultura da UE, a
25 de Fevereiro.

Estão em estudo alterações nos testes aos alimentos e também na
etiquetagem dos produtos. Algo complicado, uma vez que a origem dos
ingredientes dos pratos processados pode mudar diariamente, dizem os
fabricantes.

Os governantes reconhecem, no entanto, que podem ser necessárias
medidas drásticas para restabelecer a confiança dos consumidores. Há
empresas francesas envolvidas no escândalo, e foram encontrados
produtos adulterados com carne de cavalo em supermercados nacionais,
pelo que o Presidente francês, François Hollande, não hesitou em
reclamar "sanções administrativas e penais, se o caso o justificar".
Há uma investigação oficial a decorrer em Paris sobre o caso - que o
ministro do Consumo, Benoît Hamon, não hesitou já em classificar como
uma fraude -, e os resultados serão divulgados esta manhã.

No Reino Unido, onde primeiro foram detectadas as lasanhas Findus que
deviam ser de carne de vaca, mas que tinham 100% de carne de cavalo,
decorre outra investigação. Na terça-feira foram apreendidos carne e
documentos num matadouro e numa fábrica de processamento e preservação
de carnes no Norte de Inglaterra e no País de Gales.

Abate aumenta em Portugal

Enquanto não se deslindam os contornos mais precisos do que pode ser
uma rede organizada, revela-se uma consequência até agora pouco
referida da crise económica e financeira que começou em 2008: se os
anos de prosperidade anteriores tinham feito prosperar a paixão dos
humanos pelos cavalos, a falta de dinheiro que se seguiu conduziu-os
aos matadouros em números recordes.

Foi o que aconteceu na Irlanda, o país europeus com mais cavalos
puro-sangue, relata o Financial Times: no ano passado, foram abatidos
dez vezes mais cavalos do que em 2008. Em números absolutos, 25 mil
cavalos foram enviados para matadouros registados, quando em 2008
apenas pouco mais de 2000 tiveram esse destino.

Portugal não ficou de fora dessa tendência: se em 2010 apenas 768
cavalos foram abatidos, em 2012 quadruplicou para 3178, segundo
números fornecidos pelo Ministério da Agricultura, Mar, Ambiente e
Ordenamento do Território (MAMAOT). Foi no Norte do país, sobretudo,
que os cavalos foram enviados para abate: 312 em 2010, e 2345 em 2012.
Em 2013, já foram abatidos 507 animais (436 em Janeiro e 71 em
Fevereiro).

O destino das carcaças, no entanto, não é o mercado nacional, diz o
gabinete de imprensa da ministra Assunção Cristas, mas sobretudo
Espanha. "Não foi detectado, até ao momento em Portugal, nenhuma
situação semelhante ao observado em outros países", diz um comunicado
do MAMAOT. "Estamos perante um crime de fraude económica, quer quanto
à origem, quer quanto à composição do produto, bem como quanto à sua
rotulagem. A carne de cavalo não representa nenhum risco para a saúde
pública."

A Roménia, o segundo país mais pobre da UE, com uma agricultura pouco
mecanizada e onde o cavalo ainda desempenha um papel fundamental nos
campos, é apontada como a origem da carne de cavalo que está a surgir
indevidamente nos produtos congelados. Quando um cavalo chega ao fim
da sua vida útil a puxar o arado ou uma carroça, o matadouro é o seu
destino, relata uma reportagem da Reuters.

Nos dois matadouros romenos apontados como suspeitos - um deles,
propriedade do irmão de um ministro -, contudo, nega-se que tenha
havido qualquer crime.

http://www.publico.pt/mundo/jornal/pode-saber-de-onde-vem-o-seu-bife-ja-o-seu-hamburger-e-um-misterio-26062212

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