sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

PSD e CDS levam ao Parlamento uma espécie de TV Rural

ROMANA BORJA-SANTOS , SOFIA RODRIGUES e MARIA LOPES 31/01/2013 - 10:06
Em cerca de 30 minutos, a Assembleia da República vai revisitar nesta
quinta-feira os prós e os contras de a RTP recuperar um programa como
o TV Rural. A proposta de um programa assim é do PSD e do CDS-PP, que
submeteram um projecto de resolução, a que os restantes partidos já se
opuseram.


Há uma linha que separa um deputado de um programador de televisão?
A maioria parlamentar PSD/CDS-PP recomenda ao Governo, num projecto de
resolução que será debatido nesta quinta-feira no Parlamento, a
recuperação de um programa televisivo da RTP do tipo TV Rural (emitido
entre 1960 e 1990) como forma de cumprir o serviço público. Toda a
oposição condena a medida considerando-a uma "ingerência" na
programação da televisão do Estado.

O projecto de resolução do PSD e do CDS-PP (disponível em PDF)
recomenda ao Governo que "promova a realização e a emissão em canal
aberto de serviço público de um programa televisivo semanal sobre
Agricultura e Mar". A ideia dos proponentes é que tal programa
contribua para divulgar e "estimular iniciativas de criação local de
pequenas unidades com actividades conexas ao sector primário". E que
promova "um mundo rural nacional, cada vez mais distante dos grandes
centros urbanos" bem como "a aproximação dos produtos ao mercado e
destes aos consumidores".

"A ideia é voltar a ter um programa de informação sobre agricultura e
pescas do qual todos se recordam, numa altura em que estamos a apostar
neste sector, que é dos poucos da nossa economia que estão a crescer.
Será mais uma ferramenta ao serviço do sector primário", tinha
explicado o deputado social-democrata Pedro do Ó Ramos, um dos autores
da iniciativa que será debatida na tarde desta quinta-feira.

O parlamentar aludia ao programa TV Rural, transmitido durante 40 anos
pela RTP e que chegou a ser um dos de maior longevidade na Europa. O
ínicio do programa de despedida, apresentado como sempre por Sousa
Veloso, pode ser recordado no Youtube.



Contudo, o deputado rejeita que esta proposta represente uma
"ingerência" na RTP ou na RDP – como sugeriram os partidos da
oposição, à excepção do PCP, que não quis pronunciar-se.

No projecto entregue na Assembleia da República, sociais-democratas e
centristas recordam o pioneiro programa Diário Rural emitido entre
1964 e 1993 pelo Rádio Clube Português e o "TV Rural", apresentado por
Sousa Veloso, que passou na RTP entre 6 de Dezembro de 1960 e 15 de
Setembro de 1990. "Nas emissões de 'TV Rural', feitas um pouco por
todo o país, surgiram e foram divulgadas as novas técnicas da
agricultura, ao mesmo tempo que era dada voz aos problemas dos
agricultores. Foi considerado, durante muito tempo, uma mais-valia na
produção agrícola familiar, contribuindo para a partilha de informação
entre a comunidade agrícola", insistem os autores da proposta.

Os partidos referem, ainda, o programa "Portugal da Terra ao Mar" que
passou em 2005 na RTP2, para defenderem que posteriormente não surgiu
nenhum espaço alternativo "com cobertura nacional, que possua um
programa regular, com periodicidade mínima semanal, dedicado às
temáticas da agricultura e do mar". E sublinham que o sector primário
é "estruturante e estratégico" para a economia portuguesa, podendo a
sua divulgação estimular mais iniciativas e o consumo de produtos.

Posição do Sindicato dos Jornalistas
O Sindicato dos Jornalistas também já classificou de "infeliz",
"chocante, absolutamente inadmissível e inconstitucional" a proposta
da bancada dos partidos da coligação. A direcção daquela estrutura
sindical diz que foi com "enorme perplexidade e profundo repúdio" que
se apercebeu do conteúdo da recomendação ao Governo.

Afirmando nada ter contra as "preocupações de natureza cultural e
cívica" dos deputados sobre as "lacunas e necessidades" do serviço
público, o sindicato diz que é "chocante, absolutamente inadmissível e
inconstitucional" que o façam através de uma recomendação ao Governo.
Porque isso é uma clara ingerência na orientação da programação da
RTP, atitude que viola a Constituição, que consagra a independência da
comunicação social em relação ao poder político.

O Sindicato realça que a RTP "não é nem pode ser uma coutada do
Governo" e lembra que este "está impedido de interferir na orientação
da programação dos seus serviços". A intervenção do Estado, realça a
estrutura sindical, limita-se à nomeação da administração e à
celebração do contrato de concessão.

http://www.publico.pt/politica/noticia/tv-rural-regressa-ao-parlamento-pelas-maos-do-psd-e-cds-1582757

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