quarta-feira, 13 de março de 2013

Abates ilegais lesam Estado 'em milhares de euros'



12 de Março, 2013por Sónia Balasteiro

Os estaleiros com madeira de azinho e de sobreiro verde, sem estar cintada, como a lei obriga, sucedem-se entre os concelhos de Coruche e Benavente, e revelam um tráfico que lesa o Estado português em milhares de euros. Em alguns casos, observa Domingos Patacho, da Quercus, mais do que estaleiros, «parecem verdadeiras unidades de transformação industrial de árvores em lenha para lareiras».
«Além de ameaçar o sobreiro e a azinheira, esta actividade lesa o Estado em milhares de euros ao ano, pela fuga ao fisco. Não há facturas de nada», sublinha o ambientalista, lembrando que foi nos últimos anos que começaram a surgir «como cogumelos» estas empresas, «à beira da estrada», criadas por «pessoas sem qualquer ligação à agricultura ou à floresta e, portanto, dispostas a explorá-las mal, sem problemas de consciência».

Mas não é tudo: também os proprietários são lesados. «Nem chegam a aperceber-se de que os madeireiros cortam mais árvores do que aquelas que deveriam e perdem o dinheiro que poderiam ganhar com a cortiça», avisa Domingos Patacho.

Para a associação internacional WWF, parte da solução pode passar pela certificação da cortiça e por mercados responsáveis. «Se os produtores tiverem a cortiça certificada, vão estar muito mais atentos e ser mais cuidadosos com as suas árvores», explica Ângela Morgado, sublinhando que a WWF considera o sobreiro um ecossistema de elevado valor de conservação.

Mas nos últimos anos os abates sucedem-se em Portugal, sobretudo a Norte do Tejo, e podem colocar em causa o sobreiral do país (floresta de sobreiro), que existe sobretudo no Norte e Centro. Ao ponto de a Quercus temer uma diminuição drástica do número de árvores no país, por conta dos madeireiros ilegais. «Qualquer dia, só há montados de sobro, como já acontece no Alentejo, e deixa de haver florestas», diz Patacho.

Os dados preliminares do Inventário Florestal Nacional, de 2010, publicados recentemente pelo Ministério do Ambiente, já revelam uma ligeira diminuição da área de sobreiral. O sobreiro, nota o documento, ocupa agora 737 mil hectares em todo o país – menos 10 mil hectares do que em 1995.

Mas o principal problema, que os estudos não revelam, diz o especialista em florestas da Quercus, é a diminuição da densidade de sobreiros, uma vez que «o número de árvores por hectare está a baixar vertiginosamente». Se antes «havia 80 árvores por hectare, agora começa a haver, em cada vez mais sítios, 30 ou 40», nota Domingos Patacho.

sonia.balasteiro@sol.pt

http://sol.sapo.pt/inicio/Sociedade/Interior.aspx?content_id=69591

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