domingo, 24 de março de 2013

“Estado não pode lavar as mãos” da Mata Nacional do Buçaco

PEDRO NUNES RODRIGUES 22/03/2013 - 15:30 (actualizado às 15:46)
A mata do Buçaco está a enfrentar sérias dificuldades, que se
agravaram com a proibição de receber apoio de entidades públicas. O
presidente da Fundação Mata do Buçaco alerta que "o Estado, ao ver
privados a ajudarem, não pode ficar de fora."


O temporal de 19 de Janeiro deixou um rasto de destruição por toda a
mataNELSON GARRIDO

A Fundação Mata do Buçaco está a recorrer a parcerias com privados
para conseguir sobreviver, revelou ontem o presidente desta fundação
pública, António Franco. A instituição deixou de poder receber apoios
financeiros de entidades públicas, nos termos do novo regime das
fundações, e depara-se com o problema dos prejuízos de seis milhões de
euros que o temporal de 19 de Janeiro provocou na mata.

Para além das árvores caídas, o temporal deixou também um profundo
rasto de destruição nos edifícios ali existentes, como a réplica da
Via Sacra de Jerusalém, que foi fortemente afectada.

A solução encontrada pela administração da fundação passa por
estabelecer parcerias com entidades privadas, como a que
contratualizou esta quinta-feira, Dia Mundial da Floresta, com o grupo
Portucel na mata do Buçaco. O objectivo é "apoiar a recuperação da
mata", disse a directora de comunicação do grupo Portucel, Ana Nery.
Esta ajuda passa pelo fornecimento de cerca de 2000 árvores para repor
o património destruído pelo temporal.

A mata vai receber várias espécies de carvalhos, pinheiros,
cedros-do-buçaco – na verdade, ciprestes, como o que foi destruído
pelo temporal, depois de ter ali vivido quase quatro séculos – e ainda
plantas aromáticas. A Portucel vai também "dinamizar um programa de
sensibilização para a adopção de boas práticas silvícolas dos
proprietários limítrofes à mata", disse Ana Nery. Este programa é
considerado por António Franco como uma "grande contribuição para a
mata."

A Fundação Mata do Buçaco tem agora um orçamento anual de 600 mil
euros, que obtém através da gestão da mata e dos equipamentos que ali
explora, mas isso "não é suficiente" para a renaturalização em causa.
O dinheiro não será conseguido com receitas próprias, assume o
presidente da fundação.

"O Estado não pode lavar as mãos do património público que é de todos
nós e da história de Portugal", diz António Franco. "A Mata Nacional
do Buçaco tem um valor incalculável", completa. O presidente da
fundação referiu ainda o papel importante de todos os voluntários que
trabalham actualmente na mata do Buçaco, a maioria "jovens
desempregados que vestiram a camisola e vieram trabalhar na mata",
completa. Entre os contributos para a recuperação da mata estão os
donativos, que "rondam os cinco mil euros", o empréstimo de
equipamentos e material de construção.

Com o fim do financiamento público, a fundação perdeu os cerca de 35
mil euros anuais que recebia da Câmara da Mealhada. António Franco
sublinha que a fundação não recebe verbas da administração central
desde 2011. O Governo já mostrou "boa vontade para se sentar à mesa",
para discutir a interpretação da lei das fundações, diz António
Franco. "Eles dizem que eu estou a interpretar mal, mas o que lá está
escrito é isso", acrescenta, referindo-se ao fim dos apoios públicos.

A apresentação desta parceria contou com a plantação simbólica de
cinco árvores, apesar de já terem sido plantadas cerca de 300 das que
o Grupo Portucel vai fornecer à fundação.

Uma fonte partidária do PS afirmou esta sexta-feira à Lusa que os
deputados do partido eleitos por Aveiro solicitaram esclarecimentos
sobre o futuro da mata do Buçaco à ministra da Agricultura, Assunção
Cristas. "Sendo certo que, até à data, este Governo pouco ou nada
fizera pela mata nacional [do Buçaco], a verdade é que, a partir de
agora, ficarão todas as entidades públicas impossibilitadas de o poder
fazer, conduzindo assim a fundação à asfixia e a Mata Nacional do
Buçaco ao abandono", salientam os deputados socialistas no
requerimento, citado pela Lusa.

O PÚBLICO viajou a convite do Grupo Portucel Soporcel para assistir à
formalização da parceria com a Fundação Mata do Buçaco.

http://www.publico.pt/ecosfera/noticia/estado-nao-pode-lavar-as-maos-da-mata-nacional-do-bucaco-1588770#/0

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