quarta-feira, 13 de março de 2013

Março: mês da floresta

No próximo dia 21 de março será comemorado mais um Dia Mundial da Floresta.

Em comparação com o mesmo período do ano de 2012, estão agora
disponíveis os resultados preliminares de mais um Inventário Florestal
Nacional (IFN), este reportado ao período de recolha de dados de
2010/2011. Igualmente, foram disponibilizados, ao longo de 2012 pelo
Instituto Nacional de Estatística (INE), dados sobre a silvicultura e
o setor florestal português. É na análise comparativa destas duas
fontes de informação que, no entender desta associação, se deve
centrar a atenção da Sociedade em geral, dos agentes económicos e
decisores políticos em particular, nas iniciativas comemorativas
previstas para o presnte mês de março.

Neste sentido, a direção da Acréscimo chama a especial atenção para os
seguintes pontos de análise:

1. Nos resultados preliminares do INF, apesar da alteração de
critérios face ao inventário realizado em 2005/2006, ficam
evidenciadas a redução substancial da área de pinheiro bravo, espécie
que durante décadas assumiu papel de destaque no panorama florestal
nacional, bem como o significativo aumento da área de eucalipto,
espécie exótica que nos últimos 30 anos viu duplicar a sua área em
Portugal, a 5.ª maior a nível mundial. Se os dados em geral não
surpreendem, em particular poderá haver uma subestimação da área de
eucalipto, talvez fruto dos critérios agora utilizados para o trabalho
na base aerofotográfica de referência, sendo que, sobre a mesma é
possível definir diferentes critérios quer para a fotointerpretação,
quer para o tratamento dos erros subsequentes, o que, sem um
substancial trabalho de verificação no terreno, este bastante
dispendioso, podem resultar dados algo díspares.

2. Constatado o significativo aumento da área de eucaliptal em
Portugal, não deixa de ser notório que, face às divulgadas virtudes
financeiras da cultura da espécie, se tem assistido, de acordo com os
dados publicados em junho último pelo INE (Contas Económicas da
Silvicultura), a uma substancial queda do peso do Valor Acrescentado
Bruto (VAB) da silvicultura no VAB nacional. O mesmo evidenciava um
valor percentual de 1,2% em 1990, tendo decrescido para 0,8% em 2000,
e mais ainda, para 0,4% em 2010. O Rendimento Empresarial Líquido da
silvicultura, fruto da queda do VAB e do aumento considerável dos
Consumos Intermédios, evidencia igualmente uma redução considerável.
Ou seja, na produção florestal, apesar das virtudes anunciadas, o
eucalipto não foi capaz de contrariar, nem mesmo de suster, a queda
provocada pela redução de área de outras espécies.

3. Ao nível do setor florestal (silvicultura + indústria
transformadora), essa maior disponibilidade de área de eucalipto não
contrariou, nem sequer susteve, segundo os dados obtidos com base nas
Contas Nacionais do INE, a queda do peso do setor ao nível do Produto
Interno Bruto (PIB). Este apresentava um valor percentual de 3,0% em
2000, passando para 2,2% em 2005, reduzindo ainda mais em 2010 para
1,8% do PIB.

4. Nos últimos 30 anos, a duplicação da área de eucaliptal e a redução
da área de pinheiro bravo coincidem com uma maior expressão dos
incêndios florestais em Portugal, concretamente no que respeita à sua
propagação. Este pode resultar de uma inadequada rentabilidade do
negócio ao nível do produtor florestal, com indícios de abandono da
gestão dos povoamentos florestais, que ao se terem verificado ao nível
do pinhal, não são alteradas pela maior expressão do eucaliptal.

É por isso pertinente rever a estratégia política para o setor
silvo-industrial português, tendo por base o aumento do seu valor
económico, com a aposta na qualidade dos bens de base florestal,
designadamente ao nível das produtividades, ao invés de se insistir na
quantidade, ou seja numa massificação de área, como se pretende aliás
com a recente proposta de alteração legislativa sobre as ações de
arborização com espécies de rápido crescimento, iniciativa do
Ministério da Agricultura.

Lisboa, 6 de fevereiro de 2013

A Direção da Acréscimo

http://www.agroportal.pt/x/agronoticias/2013/03/13e.htm

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