segunda-feira, 27 de maio de 2013

Os incêndios florestais e a gestão política do problema

A gestão da problemática dos incêndios florestais em Portugal, no que
respeita concretamente à sua propagação, já que as ocorrências aportam
questões de outra índole, assemelha-se à gestão de uma equipa de
futebol. Contudo, nesta equipa:

Os avançados são míopes, a estratégia florestal assenta nas árvores e
não nas pessoas que detêm os terrenos que lhes servem de habitat (mais
de 90% da área florestal portuguesa está inserida em propriedade
privada);

O meio campo é coxo, assentando a estratégia na gestão das árvores,
descora a necessidade de garantir a rentabilidade da atividade
silvícola para assegurar o financiamento dessa gestão (não há
acompanhamento dos mercados, onde a atividade silvícola se encontra em
declínio progressivo e a indústria exporta valor sem ter em conta a
depreciação dos recursos naturais, situação que contraria os
princípios básicos de um negócio da Economia Verde); e,

A defesa está desnutrida, as ações de vigilância e de prevenção
assentam exclusivamente no esforço dos contribuintes e não na economia
dos setores silvo-industriais, ficando assim à mercê das
disponibilidades do Orçamento de Estado, disponibilidades essas, hoje
e no futuro próximo, bastante condicionadas.

Logo, parte demasiado significativa para o êxito da equipa assenta no
guarda-redes – Bombeiros e Proteção Civil. Todavia, como no futebol,
sem um esforço conjugado de toda a equipa, o último reduto, por mais
eficiente que possa ser, tem sempre uma forte probabilidade de não
conseguir, só por si, ter êxito – o fogo é um avançado exímio na
concretização dos seus objetivos.

Na real dimensão do problema, o Ministério da Agricultura (agora
também do Ambiente e do Ordenamento do Território) – responsável pelos
avançados, pelo meio campo e pela defesa da equipa - tem publicamente
passado entre as labaredas, facto que lhe tem permitido continuar a
lançar as suas incapacidades e incompetências políticas (capacitação
técnica existe) para os braços de outros, esses outros que, todavia
não têm as competências necessárias para intervenção na origem do
problema que têm de enfrentar em cada período estival (cada vez mais
alargado).

Pior, da Agricultura são lançadas ainda mais achas para a fogueira,
com propostas irresponsáveis de fomento das arborizações e
rearborizações, sem que estejam asseguradas as mínimas condições que
permitam a rentabilidade desses investimentos, ou seja, que esteja
garantida a administração desses arvoredos (gestão florestal) ao longo
de todo o ciclo silvícola. Condições essas que passam pelo reforço da
pesquisa (desejavelmente desenvolvida por Institutos Públicos e
Universidades), pela extensão florestal ou rural (preferencialmente de
cariz privado – através de organizações associativas e empresas com
capacidade técnica, com supervisão pública) e pelo imperioso
acompanhamento dos mercados e regulação dos interesses que nestes
marcam presença – já no tempo da "campanha do trigo" se sabia disto.

Com a atual estratégia, os responsáveis políticos na Agricultura, no
Ambiente e no Ordenamento do Território, para além de continuarem a
sacrificar os bombeiros, as populações rurais e o desenvolvimento
rural, sacrificarão mais os contribuintes e toda a Sociedade, com
avultadas perdas financeiras (1.000 M€/ano) e desmesuradas emissões de
dióxido de carbono para a atmosfera (que podem ter atingido os 20
milhões de toneladas de CO2 eq. só na última década).

Infelizmente, os atuais problemas de Portugal não se circunscrevem
apenas à redução da austeridade e à necessidade de crescimento
económico, englobam também uma maior responsabilidade e competência
política.

Lisboa, 27 de maio de 2013

A Direção da Acréscimo

http://www.agroportal.pt/x/agronoticias/2013/05/27b.htm

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