sábado, 1 de junho de 2013

Adega de Vila Real dá de "beber à dor" dos colossais anos 90

30 Maio 2013, 00:01 por António Larguesa | alarguesa@negocios.pt

Um projecto sobre dimensionado para ir buscar mais fundos comunitários
quase atirou ao tapete a cooperativa transmontana. Duas décadas depois
tem o melhor vinho branco do mundo e muitos viticultores em fila de
espera.

Esta é uma história que começou como tantas outras no início dos
gordos anos 1990. A Adega Cooperativa de Vila Real meteu-se num
projecto de investimento, concluído em 1993, de valor cinco vezes
superior à facturação anual, que rondava um milhão de euros. "Para ir
buscar fundos comunitários, foi sobredimensionado face ao que era a
dimensão da adega na altura. Não havia actividade suficiente para
pagar esse investimento colossal", recordou ao Negócios o director de
marketing, Nuno Borges.

No ano seguinte à inauguração, entrava em falência técnica. Batia no
fundo. Duas décadas depois, o vinho branco que produz foi eleito em
2009 o melhor do mundo no prestigiado "Concurso Mundial de Bruxelas" e
a adega transmontana foi distinguida pela Revista de Vinhos como a
melhor cooperativa de 2012.

Sem poder apenas "dar de beber à dor", como dizia a Mariquinhas
cantada por Amália Rodrigues, a recuperação foi lenta e dolorosa. E
tem um rosto: Jaime Borges, que entrou em Outubro de 1994 para ficar
um mês e já ocupa a presidência há 18 anos. O filho, que acompanhou o
processo desde o início, recordou o "arrojo e coragem" para operar
este resgate em três fases. Sem dinheiro para pagar à banca, sem uma
posição de mercado alargada ou consolidada, sem equipa de enologia,
sem visão de mercado e com praticamente todo o património penhorado,
adequar a estrutura financeira às possibilidades de cumprimento foi a
primeira coisa a fazer. E um caso de sucesso não se faz sem "uma certa
sorte": ao alargar a rede de balcões a todo o País, instalando-se em
Vila Real, a banca privada estava "mais predisposta ao risco" e ajudou
"a desembrulhar este nó".

Com as contas "minimamente equilibradas", continuou Nuno Borges, 39
anos, era preciso captar sócios que fornecessem uvas com maior
qualidade. O pagamento aos associados, que era antes "a última
prioridade", passou a ser feito no próprio ano da colheita. A
cooperativa – não tem como objectivo o lucro mas pagar o melhor
possível a produção que é ali entregue – passou a equipar-se aos
agentes privados da região do Douro. Em média, a adega paga a 99 dias
aos actuais 1.231 viticultores. As solicitações são cada vez mais,
dado que outras cooperativas estão a fechar ou a deixar de aceitar e
pagar as uvas.

A primeira década foi para arrumar a casa. Em 2004 começou a "viragem
para o exterior", com a nova gama de vinhos do Porto e Douro. Três
anos depois criaram a equipa de enologia liderada por Rui Roboredo
Madeira. "Tentámos fazer esta união virtuosa de uma empresa com contas
bastante sólidas, estratégia de marketing e uma enologia de
referência. Foi isso que permitiu nos últimos dois anos, no meio desta
crise, termos os melhores resultados da nossa história", resumiu o
director de marketing da adega, que subiu a facturação de 6,1 para 7,2
milhões de euros em 2012.


O momento

Em Outubro de 1994, Jaime Borges, que tinha sido o responsável pela
delegação da Casa do Douro em Vila Real, assumiu a presidência da
Adega Cooperativa, que estava em falência técnica e com as contas
bloqueadas. Era para ficar um mês; já lá vão 18 anos. O filho, Nuno
Borges, que acompanhou o processo do início e hoje ocupa a direcção de
marketing, recordou o resgate "arrojado", feito em três fases, que
recuperou a solvência e a credibilidade da instituição.

http://www.jornaldenegocios.pt/economia/detalhe/adega_de_vila_real_da_de_beber_a_dor_dos_colossais_anos_90.html

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