terça-feira, 17 de setembro de 2013

Investigadores portugueses estão a sequenciar o genoma do sobreiro

16-09-2013 17:48
Jornalista: Lúcia Vinheiras Alves / Imagem e Edição: António Manuel
© TV Ciência

Obter ferramentas para inverter o declínio que se verifica nos
montados e melhorar a qualidade da cortiça são objetivos dos
investigadores do projeto Genosuber, liderado pelo CEBAL, onde os
cientistas estão a proceder à sequenciação do genoma total do
sobreiro. Um trabalho de investigação que é feito pela primeira vez em
Portugal para uma espécie vegetal.
O sobreiro ocupa 23% da mancha florestal nacional e o sector exporta
anualmente cerca de 845 milhões de euros. Conhecer o sobreiro em
termos biológicos ou mais precisamente genéticos, é fundamental para a
preservação desta importante fonte de riqueza nacional.

Agora, um grupo de investigadores, liderado por Sónia Gonçalves do
Centro de Biotecnologia Agrícola e Agro-alimentar do Alentejo (CEBAL),
está a levar a cabo o projeto Genosuber, para sequenciar o genoma do
sobreiro.

«O Genosuber é o projeto que visa sequenciar o genoma total do
sobreiro», afirma Sónia Gonçalves e explica que para isso «vamos
desenvolver uma série de trabalhos, cujo objetivo final é a
identificação da informação genética do sobreiro».

«Vamos ter acesso a como é que esta informação genética está
estruturada e a identificação de genes que são importantes em vários
níveis no sobreiro, seja no processo de produção da cortiça, no
desenvolvimento da planta, de resposta a doença. Vamos ter acesso a
todos estes genes e perceber como é que eles estão estruturados»,
acrescenta a investigadora.


Investigadora no Laboratório do CEBAL
© TV Ciência
O primeiro trabalho dos investigadores é a seleção da árvore de onde
será recolhida as amostras para sequenciação. Selecionamos «no campo
cerca de cinquenta árvores que cumprem alguns requisitos,
nomeadamente, que produzem boa qualidade de cortiça, que estão
localizadas em zonas isoladas de outros Quercus, porque o sobreiro é
uma espécie que facilmente cruza com outras espécies», por isso,
«temos que garantir que a árvore selecionada é um sobreiro e não um
híbrido, porque há muitos híbridos de sobreiro».

Um processo que vai envolver o Instituto Nacional de Investigação
Agrária e Veterinária (INIAV), entidade parceira no projeto. Para
isso, é feita a pré-seleção no campo dos indivíduos e depois em
laboratório no CEBAL e principalmente no INIAV, o qual «vai ter a
responsabilidade de desenvolver um estudo prévio com marcadores
moleculares, que vai permitir decidir das cinquenta árvores qual será
a mais pura e aquela que vamos selecionar como o individuo a
sequenciar».

Depois de selecionado o individuo, os investigadores vão «recolher o
material e extrair o DNA que depois será alvo da sequenciação»,
explica a investigadora.

Para além do INIAV, o projeto envolve o Instituto Gulbenkian de
Ciência (IGC), o Instituto de Tecnologia Química e Biológica (ITQB), o
Instituto de Biotecnologia Experimental e Tecnológica (IBET) e a
empresa de biotecnologia BIOCANT.


Sónia Gonçalves, investigadora principal do CEBAL envolvida
no projeto de sequenciação do genoma do sobreiro
© TV Ciência
Vinte e oito investigadores e vários consultores científicos
internacionais no domínio da sequenciação estão envolvidos no projeto.
«Este projeto tem a participação de consultores internacionais, porque
é a primeira vez que se faz em Portugal um projeto da sequenciação
total de um genoma e como é óbvio precisamos do input de outro grupos
que já desenvolveram este trabalho e, nomeadamente, em espécies
vegetais», afirma a cientista.

Para além disso, «nesta estratégia de sequenciação provavelmente
teremos de recorrer a empresas de sequenciação estrangeiras. A nível
de Portugal temos a parceria com o BIOCANT que provavelmente
assegurará uma parte da sequenciação, mas o resto terão de ser
contratadas empresas especializadas no estrangeiro».

A partir da sequenciação do genoma do sobreiro, abrem-se diversos
caminhos aos investigadores que podem levar a respostas para algumas
das doenças que afetam os sobreiros.

«A resposta à doença é um dos fatores mais importantes na questão do
montado», já que «a doença do declínio do sobreiro está a alastrar na
Península Ibérica, não é só em Portugal» e «ainda não há uma definição
clara da causa da doença, apontam-se os fungos e outros fatores, mas
ainda não há a identificação clara do que é que causa esta doença do
declínio», explica Sónia Gonçalves.

E nesse sentido, «o projeto pode trazer algumas respostas na
identificação de genes responsáveis por uma maior ou menor resistência
da árvore à doença. E obviamente que isto pode ser o início do
desenvolvimento de algumas estratégias de diagnóstico e esse
diagnóstico pode ser feito de uma forma precoce», explica a cientista.

O trabalho de sequenciação do genoma vai permitir aos investigadores
adquirir também competências ao nível da bioinformática.

«A área da bioinformática em Portugal está ainda na sua infância,
ainda há grandes lacunas e grandes falhas nestas temáticas e este
projeto focou-se também muito nesta questão e trará a possibilidade de
contratarmos novos investigadores para adquirirem competências nesta
área, nomeadamente, neste projeto mas depois podem ser utilizados e
desenvolvidos outros projetos», acrescenta a investigadora.


© TV Ciência
Mas ao nível do projeto Genosuber, Sónia Gonçalves acrescenta que as
vantagens da sequenciação do genoma são várias. «Primeiro que tudo é a
disponibilização do conhecimento da espécie, como é que a sua
informação genética está estruturada».

«Em termos de aplicações, pode servir por exemplo, na identificação de
alguns genes chave num determinado processo do sobreiro. Pode, por
exemplo, permitir aos produtores florestais uma seleção precoce das
suas árvores com base nesta informação», que é «algo que não existe».

«Não existem programas de melhoramento em sobreiro, que é uma espécie
muito complicado de se fazer estes tipos de trabalho, mas a informação
que vai ser gerada por este projeto, pode vir a ajudar estratégias de
melhoramento da espécie», afirma.

O projeto Genosuber tem cofinanciamento do FEDER em 85%, sendo o
restante oriundo de outras parcerias, como é o caso da Corticeira
Amorim.

Com este projeto, o CEBAL, de que o Instituto Politécnico de Beja é
membro, coloca-se a par de outros centros de investigação de topo
mundial na área da sequenciação genómica.

http://www.tvciencia.pt/tvcnot/pagnot/tvcnot03.asp?codpub=33&codnot=22

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