sábado, 14 de setembro de 2013

Toxina detectada em leite dos Açores retirado do mercado não coloca saúde em risco

PÚBLICO e LUSA

10/09/2013 - 14:57

Uma pessoa com 100 quilogramas teria de ingerir entre 5000 e 200 mil
litros de leite por dia durante algum tempo para sentir os efeitos.
EUA permitem níveis de toxina dez vezes superiores.

Apesar de não apresentar riscos, o leite como medida preventiva foi
retirado RUI GAUDÊNCIO


A toxina encontrada no leite dos Açores retirado do mercado tinha
níveis de concentração ligeiramente superiores aos permitidos pela
União Europeia, mas só a ingestão diária e prolongada de milhares de
litros poderia ter impacto na saúde.

A explicação foi dada à agência Lusa pelo director dos Serviços de
Veterinária da Direcção Regional da Agricultura dos Açores, Hernâni
Martins, que esclareceu que os estudos conhecidos referem que a
aflatoxina M1 "apresenta alguns aspectos que são cancerinogéneos".

No entanto, acrescentou que, por exemplo, uma pessoa de 100
quilogramas teria de ingerir entre 5000 e 200 mil litros de leite por
dia, "durante muito tempo", para sentir efeitos semelhantes aos
detectados em ratos submetidos a experiências de laboratório.

Assim, sublinhou que em causa, neste momento, nos Açores, estão "as
exigências legais" no seio da União Europeia (UE), que estabeleceu um
limite máximo de concentração daquela toxina que é, por exemplo, dez
vezes inferior ao permitido pela lei nos Estados Unidos da América.

Da lei à saúde pública

A UE adoptou como limite máximo de concentração 0,05 µg/kg, "um limite
legal" que é muito pequeno, afirmou o responsável, dizendo que os
níveis detectados em leite produzido em S. Miguel são ligeiramente
superiores (entre 0,07 µg/kg e 0,09 µg/kg). "É mais um aspecto legal
que propriamente de perigo para a saúde pública", afirmou.

Hernâni Martins explicou, ainda, que a presença da aflatoxina M1 no
leite resulta da ingestão pela vaca da toxina aflatoxina B1, presente
em rações com bolor. "Não é uma doença, não é um animal doente que
transmite [a toxina]", explicou, dizendo que se a vaca deixar de
consumir a ração com bolor, num espaço de poucos dias deixa de
produzir leite com aflatoxina M1. O problema é, por isso, "sempre
localizado e sempre pontual", reforçou, dizendo que estão a ser feitos
testes também na ilha Terceira, não tendo, até agora, sido detectado o
mesmo problema.

Nesta terça-feira, o presidente do Governo dos Açores assegurou que os
mecanismos de controlo de qualidade do leite da região "são
extremamente rigorosos", garantindo que a detecção de uma toxina em
alguns lotes "não põe em causa" a saúde pública. "Essa situação o que
prova é que os mecanismos de controlo da qualidade do leite dos Açores
são extremamente rigorosos e funcionam e essa deve ser uma condição de
segurança também para os consumidores", afirmou Vasco Cordeiro, em
declarações aos jornalistas.

Governo dos Açores assegura qualidade

Na segunda-feira, o Governo dos Açores já tinha assegurado que "não
está em causa" qualquer questão relacionada com a saúde pública.
Apesar disso, considerou que o procedimento seguido pelas indústrias
de lacticínios, e que consiste na retirada desse leite da
distribuição, "constitui o procedimento preventivo adequado".

Uma nota do gabinete de imprensa do Governo dos Açores referia ainda
que a Secretaria Regional dos Recursos Naturais tem acompanhado e
"monitorizado", através do Laboratório Regional de Veterinária, a
situação, visando a "avaliação da eficácia" das "várias medidas
preventivas" quanto à comercialização de leite UHT produzido na ilha
de S. Miguel e "correctivas no que toca à produção de rações na mesma
ilha".

Ainda de acordo com a mesma nota, no que concerne às rações produzidas
com o lote de milho proveniente da Bulgária, identificado como sendo a
"causa desta situação", as mesmas foram "recolhidas de circulação" e
"vão ser destruídas", bem como "reforçados os mecanismos de controlo"
relativos à alimentação animal.

A empresa de laticínios BEL foi a única que até agora assumiu que
retirou do mercado lotes de leite UHT produzido nos Açores onde
detectou uma concentração de aflatoxina M1 de 0,074 µg/kg.

"Segundo o Codex Standart 193-1995, norma internacional de referência
para a análise de saúde alimentar e protecção do consumidor, não
existe qualquer risco para a saúde pública até ao limite máximo de 0,5
µg/Kg. Esta normativa foi subscrita por 185 países a nível mundial,
entre outras entidades, nomeadamente a Organização Mundial da Saúde.
Apesar desta referência de intervalo, indicado pelo Codex, a União
Europeia adotou pelo valor de 0,05 µg/kg, isto é, um valor dez vezes
inferior ao definido pelo Codex", lê-se num comunicado da empresa, que
"assegura que todo o seu leite UHT em comercialização está em
conformidade com os limites legais".

http://www.publico.pt/sociedade/noticia/toxina-detectada-em-leite-dos-acores-retirado-do-mercado-nao-coloca-saude-em-risco-1605394

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