terça-feira, 8 de outubro de 2013

CO2. Roubar à atmosfera para fabricar tijolos

DAVID GRAY / REUTERS


Investigadores querem reduzir emissões de CO2 industrial
transformando-o em material sólido

O dióxido de carbono (CO2) é um gás incolor e o tijolo é um material
sólido. Mas, em breve, o primeiro poderá transformar-se no segundo
permitindo ao homem "devolver à natureza" o CO2 que produz
industrialmente. Os primeiros passos estão a ser dados na Austrália,
onde, nos próximos quatro anos, uma equipa de investigadores vai
tentar provar que é economicamente viável armazenar dióxido de carbono
em material rochoso e aproveitá-lo depois para a construção civil -
como blocos de cimento ou materiais de enchimento de minas.

O processo em causa denomina-se carbonização mineral e o seu
objectivo, diz Geoff Brent, um dos investigadores, é cortar (e
aproveitar) pelo menos 70% do dióxido de carbono emitido por centrais
eléctricas alimentadas a carvão. Para tal, a técnica depende da
instalação de um sistema de captura do CO2 e de uma subsequente
central de carbonização. Uma vez capturado, o dióxido de carbono é
submetido à tal carbonização mineral juntamente com "silicatos de
magnésio, como a serpentina". Todos os elementos são comprimidos e
aquecidos a altas temperaturas, sem a presença de oxigénio, de modo a
fazer o CO2 "passar de gás a material sólido", explicou ao i, sem
adiantar mais detalhes, o cientista da Orica, uma das três
instituições - além da Universidade de Newcastle, na Austrália - que
fundaram a MCi (Mineral Carbonation International), entidade
responsável pelo projecto.

Mas como se consegue transformar um gás num tijolo? O truque está no
serpentinito, um dos minerais da família da serpentina. De cor
verde-escura e sobretudo composto por magnésio e ferro, esta rocha é
"esmagada e aquecida" para libertar água, que depois é "comprimida com
o CO2 para acelerar o processo natural de carbonização". O resultado
acaba "por formar uma areia de magnésio", da qual se formam depois
outros materiais, explicou, em comunicado, a MCi. Cada tijolo, apontou
Geoff Brent, será composto por "10% a 20% de massa de CO2", e os
custos inerentes ainda estão por definir - embora "a meta inicial"
seja "inferior" a 51 euros por tonelada de dióxido de carbono
"evitada".

RESOLVER UM PROBLEMA E CRIAR OUTRO A técnica, portanto, assenta em
criar uma reacção entre os minerais e o dióxido de carbono capturado
para criar um material sólido. Mas também há possíveis contrapartidas.
Para que o processo seja exequível, é necessário obter os minerais
onde será inserido o dióxido de carbono. "Sim, será precisa mais
mineração [e] a indústria mineira poderá tornar-se uma grande parte da
solução", sublinhou a MCi.

Apesar de prever e reconhecer uma acrescida importância das minas, a
entidade, contudo, garantiu que "a escala de mineração necessária para
este processo será menor" que a utilizada actualmente na produção de
carvão. Os investigadores afirmaram que a mineração necessária para
"assegurar todo o CO2 produzido pelo carvão" será apenas metade da
quantidade total de rocha extraída para fabricar o carvão - e que
produziu o dióxido de carbono em questão. Em parte porque o material
rochoso que sobra do processo de carbonização será devolvido às minas.

http://www.ionline.pt/artigos/mundo/co2-roubar-atmosfera-fabricar-tijolos

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