quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Mudar os alimentos ou os comportamentos?

Comentários0
Facebook4
Twitter0

25.09.2013 Por Pedro Moreira, nutricionista

Estima-se que, na Europa, a má alimentação, o excesso de peso e a
obesidade sejam responsáveis por 8 em cada 10 mortes.

As recomendações actuais para a alimentação surgem num contexto em que
se reconhece que o afastamento de uma alimentação saudável e de
padrões adequados de actividade física favorecem o aparecimento de
doenças como a obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares, cancro
e osteoporose. É neste contexto que a Organização Mundial de Saúde
(OMS) tem publicado relatórios sobre alimentação, nutrição e prevenção
de doenças não transmissíveis, revendo e actualizando as principais
recomendações internacionais nestes domínios, pesando os níveis de
evidência existentes e a aprendizagem decorrente da implementação de
intervenções estratégicas para reduzir aquelas doenças. De forma
global, na Região Europeia da OMS, a má alimentação, o excesso de peso
e a obesidade podem ser responsáveis por 8 em cada 10 mortes.

Numa reunião da OMS em Viena, - em que tivemos a oportunidade de estar
presentes - em Julho, ministros da saúde, especialistas,
representantes de instituições da saúde e academia, e organizações
intergovernamentais encontraram-se para discutir políticas sobre
nutrição, alimentação e actividade física para lidar com as doenças
não transmissíveis. Essa reunião deu origem à "Declaração de Viena
sobre nutrição e doenças não transmissíveis no contexto do quadro
europeu do Saúde 2020", onde os intervenientes concordaram sobre a
importância de facilitar uma acção decisiva para prevenir e combater o
sobrepeso, a obesidade e a desnutrição, bem como o suporte a sistemas
que estimulem a alimentação saudável.

Uma das áreas de destaque para reduzir as doenças não transmissíveis é
a preocupação prioritária com a ingestão excessiva de energia,
gorduras saturadas e gorduras trans, açúcares livres e sal, bem como o
baixo consumo de hortícolas e frutas. Destaca-se também o apelo ao
desenvolvimento de alimentos saudáveis e adopção de medidas que
diminuam a pressão do marketing em crianças relativamente a alimentos
ricos em energia, saturados trans, açucares livres ou sal, bem como a
implementação de abordagens que promovam a reformulação benéfica de
produtos alimentares.

A melhoria do perfil nutricional dos produtos alimentares pode
fazer-se nas diferentes fases da cadeia alimentar, desde a produção ao
processamento, com inúmeras abordagens, como a fortificação ou a
reformulação nutricional.

Para a reformulação da composição nutricional, os exemplos incluem a
redução dos componentes anteriormente destacados na conferência da
OMS, mas há também outras estratégias como a modificação da oferta
alimentar e refeições fora de casa (de modo a que, por defeito, os
oferecidos sejam os mais saudáveis e não o contrário), ou o
desenvolvimento da comunicação das informações nutricionais nos
alimentos. Contudo, estas mudanças não são simples e obrigarão a
vencer inúmeros desafios, desde logo os de natureza tecnológica
alimentar (por exemplo, na produção do queijo, o sal é um regulador
importante para o fabrico, enquanto a diminuição da gordura em certos
produtos pode comprometer as suas características organolépticas,
tornando-os menos cremosos ou macios).

Ainda que a reformulação nutricional possa, por si só, não ser solução
para todos os problemas relativos às doenças não transmissíveis,
poderá ajudar na benéfica modificação da nossa alimentação.

Pedro Moreira
pedromoreira@fcna.up.pt
Nutricionista e Professor Catedrático da Faculdade de Ciências da
Nutrição da Universidade do Porto

http://lifestyle.publico.pt/nutricao/325470_mudar-os-alimentos-ou-os-comportamentos

Sem comentários:

Enviar um comentário