quarta-feira, 23 de outubro de 2013

“Pausa” no aquecimento está a deixar os climatólogos perplexos

AFP

24/09/2013 - 16:27

O abrandamento da subida de temperatura mundial que se vem verificando
há 10 a 15 anos não põe em causa as projecções de aquecimento global a
longo prazo mas é um quebra-cabeças para os peritos.

É preciso explicar por que a subida da temperatura global abrandou
REUTERS/DANIEL MUNOZ (ARQUIVO)


O Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas, o órgão
científico de referência em matéria de aquecimento, conhecido pela sua
sigla em inglês, IPCC, vai declarar oficialmente nesta sexta-feira em
Estocolmo que a temperatura do globo já aumentou mais de 0,8 graus
Celsius desde o início do século XX e que continuará a subir ao longo
do século XXI.

Mas esta constatação mais do que repetida apresenta uma anomalia há
dez a 15 anos: enquanto as concentrações de dióxido de carbono (CO2),
principal responsável pelo aquecimento, continuam a aumentar, a
temperatura da superfície dos oceanos e dos continentes tende a
estabilizar-se.

De facto, segundo uma versão do resumo do novo relatório do IPCC, o
ritmo do aquecimento desde 1998, que foi um ano particularmente
quente, terá diminuído para 0,05 graus Celsius por década, contra 0,12
graus Celsius em média desde 1951. O resumo vai ser debatido esta
semana entre cientistas e representantes dos 195 países-membros do
IPCC, que trabalha sob a égide das Nações Unidas,antes da sua
publicação formal na sexta-feira.

Os cépticos das alterações climáticas já se apoderaram obviamente
deste recente iato no aquecimento global para questionar os modelos do
clima e até contestar o contributo humano para o aquecimento. Quanto
aos climatólogos, lembram que a tendência ao longo de várias décadas
confirma as suas previsões. Para mais, a última década foi a mais
quente de que há registo e os outros sinais de aquecimento não estão a
marcar uma pausa: diminuição das áreas de gelo, subida do nível do
mar, eventos extremos…

Seja como for, as causas desta estabilização não foram ainda
completamente desvendadas. Será ela devida à influência das partículas
vulcânicas, que reflectem os raios do Sol? Ou a uma diminuição da
actividade solar? Os estudos mais recentes destacam o papel dos
oceanos, e a uma maior absorção do calor em profundidade, e à
influência fulcral do recente arrefecimento do Pacífico equatorial

Uma ou duas vezes por século

O Serviço Meteorológico britânico (Met Office) reconheceu este Verão
que esta "pausa" levanta "importantes questões sobre o nosso nível de
compreensão e de observação" do sistema climático e dos oceanos.
Contudo, conclui, "isso não invalida os modelos climatológicos".
"Actualmente, a duração do fenómeno não é incompatível com os
modelos", confirmou à AFP Laurent Terray, físico do clima do Centro
Europeu de Investigação e de Formação Avançada em Cálculo Científico
(Cerfacs). "Isso pode acontecer uma ou duas vezes por século. Se se
prolongar por duas décadas sucessivas, podíamos começar a perguntar se
os modelos não estarão a subestimar a variabilidade interna do clima"
– isto é, a sua variabilidade natural, acrescenta o investigador.

O problema, para o IPCC reside no facto que muitos estudos sobre o
tema são demasiado recentes para terem encontrado o seu lugar no longo
processo de síntese e de validação na base do novo relatório destinado
a esclarecer os decisores políticos e económicos.

Em Estocolmo, desde segunda-feira, as discussões têm incidido em parte
sobre a maneira de evocar esta "pausa". E a julgar pelos comentários
submetidos pelos governos antes da reunião, a que a AFP teve acesso,
as opiniões divergem. Para a Noruega, o relatório "devia abordar a
pausa actual de forma mais explícita, explicando como o calor foi
absorvido pelos oceanos nos últimos 10 a 15 anos". A China e os EUA
também advogam a favor de uma maior clareza na explicação da pausa.

Quanto à Bélgica, deplora a utilização de 1998 como início de um
qualquer período de avaliação estatística, dado aquele ano, marcado
pelo fenómeno El Niño, ter sido excepcionalmente quente.

Mas será que o IPCC pode manter o silêncio sobre esta questão? "Dada a
atenção de que este tema está a ser alvo, acho que o IPCC precisa de a
abordar e de apresentar claramente os factores para que os decisores
percebam", diz Aklen Meyer, um dos responsáveis pela estratégia da
Union of Concerned Citizens, um influente grupo de reflexão
norte-americano. O IPCC, sob pressão após a detecção de vários erros
no seu último relatório (de 2007), "tornar-se-ia extremamente
vulnerável a novas críticas, sinceras ou não" se não falasse do tema,
diz por seu lado Wendel Trio, director da ONG Climate Action Network
Europe.

Notícia corrigida a 26 de Setembro: a sigla pelo qual é conhecido
internacionalmente o Painel Intergovernamental sobre as Alterações
Climáticas é IPCC e não GIEC; essa é a designação em francês.

http://www.publico.pt/ciencia/noticia/pausa-no-aquecimento-esta-a-deixar-os-climatologos-perplexos-1606900

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