segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O mundo também se descobre a cavalo

Por Andreia Marques Pereira

31.10.2013

É pouco comum entre nós, mas lá fora há muito que se galopa entre os
amantes da natureza. O turismo equestre move paixões e Portugal espera
mover-se com elas. Afinal, diz quem sabe, tem argumentos de peso:
cultura equestre, raças autóctones, enquadramento natural. Fomos ao
Gerês, ao Ribatejo e Alentejo descobrir os trilhos dos cavalos
nacionais.

Quando chegamos, somos os únicos que não sabemos o que fazer. Elas
saem do carro e os passos levam-nas seguras: umas entram no estábulo,
outras dirigem-se ao campo onde pastam garranos. Carmen Nagel, sorriso
largo, faz festas ao Trovão, castanho-escuro, bem delineado. Em pouco
vai começar o ritual: a atribuição de cavalos, o aparelhamento — só
Susan Metz, mãe de Carmen, monta sempre o mesmo cavalo, o lusitano
Jojó, Joy chama-lhe ela, porque é a única que lhe tem despertado
simpatia. "Tem andado cansado e rezingão", explicam-nos. Parece não
haver pressas por aqui, ainda que a manhã tenha começado atrasada.
Está relaxado, o grupo — o milagre deste cantinho do Norte português,
"longe do turismo de massas e em paisagens deslumbrantes", dizem-nos.
Foi por eles que vieram: pelo prazer de o usufruir a cavalo.

É o quinto dia destas férias equestres. Para todas uma estreia em
Portugal. Karen Kristan explica a opção: "É Outubro e está quente.
Onde mais poderia montar nestas condições?" Em Portugal, Castro
Laboreiro conquistou-a "pelos cavalos, lobos e natureza". Este é o
triunvirato que todas apontam como motivo para a escolha de Portugal
para o turismo equestre, a "actividade turística oferecida
comercialmente em que o equino ou muar representa o meio de transporte
e um dos principais atractivos", lê-se no estudo elaborado pela
TURIHAB para o Turismo de Portugal (TP), que o colocou como um dos
objectivos para o Plano Estratégico Nacional de Turismo 2015 (PENT
2015) como "um segmento do turismo de natureza particularmente
relevante para a qualificação da oferta turística ao permitir
diversificar os serviços de animação disponíveis, assim como dinamizar
iniciativas regionais em territórios com recursos naturais e
patrimoniais relevantes". Aqui estamos no Parque Nacional da
Peneda-Gerês, que é o cartão-de-visita português para todo o grupo —
nunca nenhuma havia estado no país; para três uma estreia no turismo
equestre, para duas, uma paragem mais num hábito já enraizado. Para
Portugal, um pequeno passo neste nicho do mercado turístico que começa
a ganhar alguma visibilidade.

A curiosidade pelos garranos (raça autóctone) é assumida pelas alemãs
— notavelmente por Susan, que esteve para comprar um, acabando por
optar por um cavalo islandês, que "tem basicamente as mesmas
características" (não muito alto, forte). Louvam-lhes as qualidades (a
tranquilidade, a segurança, a força que escondem na baixa estatura) e
gostam de os ver "em estado selvagem", o que é proporcionado pela
região eleita para as férias; assim como os lobos (dois dias antes,
todos se aventuraram na noite para ouvi-los uivar), que constituem
ainda um interesse muito particular de Pedro Alarcão e Anabela Moedas,
o casal que fundou a Ecotura depois de sete anos a trabalhar sobre
(com) eles – primeiro para um livro, depois para documentários. Ele é
fotojornalista, ela jornalista. Quando o trabalho terminou já não
quiseram regressar a Lisboa: trouxeram as filhas e fixaram-se em
Castro Laboreiro, montando a Ecotura em 2006. "A Ecotura – Ecoturismo
e Turismo Equestre no Parque Nacional Peneda Gerês dedica-se à
organização/realização de passeios, equestres e pedestres, em
território do lobo", lê-se na declaração de actividade da empresa.

Se o turismo equestre implica, ainda de acordo com fonte do TP, "a
realização de percursos a cavalo [que] permite a fruição turística do
meio natural e dos atractivos culturais da região", este grupo da
Ecotura é toda uma síntese programática. Não estamos com iniciantes.
No grupo que esta semana calcorreia trilhos pelo Gerês, todas
(curiosamente todos os participantes são mulheres, o que vai, aliás,
ao encontro do perfil do público deste tipo de turismo) têm
experiência q.b. com cavalos: basta de dizer que apenas Karen não
possui cavalo; Cordola Schneider-Dücker trabalha na área e a filha
participa em competições — a filha não veio com ela, veio a amiga
Andrea Brück, cúmplice nestas andanças, de férias e de rotinas. "Ela
monta os meus cavalos, eu os dela." Não sendo iniciantes, os dias
passam-se mergulhados na paisagem, seja no planalto, seja nos vales de
carvalhais, em dias que alternam entre o que chamam "curtos" e
"longos".

Apanhamos um "curto" e isto significa que só se monta de manhã, a
tarde é reservada a outras actividades — hoje é um percurso pedestre.
"Temos um máximo de cinco horas de sela por dia", explica Anabela, "e
vamos adaptando os passeios aos grupos". Nunca há misturas entre
experientes e iniciantes — estes, nos dias curtos, por exemplo, têm
aulas: vão aprendendo o passo, o trote e o galope, sempre "em
situações controladas". Não que agora se organizem muitas férias de
iniciantes, habitualmente procuradas por portugueses. "Tivemos sorte,
quando a crise se começou a notar já estávamos a dar o salto para o
estrangeiro." E este é um mercado mais experiente. O grupo é todo
alemão, por coincidência, mas também por tendência. "O nosso público é
sobretudo da Alemanha e Reino Unido", aponta Pedro Alarcão — não só da
Ecotura, é um facto atestado por dados do estudo do TURIHAB. Na
verdade, actualmente, 90% dos clientes da Ecotura são estrangeiros; os
portugueses vêm menos e quando o fazem é para experiências breves. "Os
programas de um dia foram encurtados: uma manhã com a tarde opcional",
conta Pedro, para permitir apresentar preços mais baixos e tentar
contrariar a queda da procura. São quase sempre aulas.

Altar dos lusitanos

Um dos factores que o TP aponta como vantagem na atracção deste tipo
de turistas é o facto de Portugal ser um país "com cultura equestre
com projecção no estrangeiro graças ao cavalo lusitano". É, de entre
as três raças autóctones (com o garrano e o sorraia), o cavalo mais
reconhecido internacionalmente e exibe-se por cá em "destinos
tradicionais associados ao cavalo", como a Golegã, Ponte de Lima ou
Alter do Chão. E aqui permite-se fazer uma distinção dentro do turismo
equestre: por um lado, o turismo a cavalo, "quando se desenvolve a
prática da equitação ou as deslocações implicam o transporte a
cavalo"; por outro, o turismo do cavalo, que "engloba todas as
actividades ligadas ao mundo equestre sem que se desenvolva a prática
da equitação". As feiras do cavalo de Ponte de Lima e da Golegã (1 a
11 de Novembro: será a XVIII Feira Nacional do Cavalo e a XV Feira
Internacional do Cavalo Lusitano) oferecem provas equestres, exibição
e compra e venda de cavalos — para um público especializado, aquele
que percorre "rotas que permitem aumentar o conhecimento em relação ao
cavalo", explica o TP.

Este é o tipo de público que frequenta em maioria a Coudelaria de
Alter. "Procuram algo específico", aponta Francisco Beja, o
responsável, "aulas para melhorar determinados aspectos ou o know how
para desbastar e ensinar cavalos". É um segmento muito particular no
turismo equestre, que "não é", sublinha Francisco Beja, "a principal
vocação da coudelaria". "Pode vir a ser…". Neste momento de transição,
em que foi extinta a Fundação Alter Real e a gestão da coudelaria
passou para a Companhia das Lezírias, o futuro está em aberto. Porém,
o PENT faz-lhe referência na sua avaliação do turismo equestre no
Alentejo, constatando que se verifica "a necessidade de desenvolver
serviços e sua disponibilização ao turista, em particular no que diz
respeito à Coudelaria de Alter". Há passos a dar, admite Francisco
Beja, assumindo a limitação da oferta no turismo equestre, sobretudo
no que ao turismo a cavalo diz respeito: a equitação não faz parte das
visitas guiadas (sempre diferentes: a ideia é acompanhar o dia-a-dia
da coudelaria e aqui anda-se ao ritmo das estações do ano e suas
vicissitudes — tanto pode ver-se uma sonografia na época da reprodução
como desmame e os primeiros passos dos poldros), embora exista a opção
de montar a cavalo, apenas em picadeiro, com marcação prévia; não há,
por exemplo, o (cada vez mais) popular randonné que permite visitar a
paisagem a cavalo. "Não somos centro hípico", nota. São uma coudelaria
e isto significa que se dedica à criação, protecção e desenvolvimento
de cavalos — lusitanos, com ferro Alter Real. É essa a sua missão
desde a sua fundação, em 1748, no seguimento da política coudélica
idealizada por D. João V, que impôs a produção nacional de cavalos de
sela, de Alta Escola, lê-se no site.

Na Coudelaria de Alter parece respirar-se tradição, que se reflecte no
conjunto de edifícios, imponentes, brancos com lista amarela, que se
desvendam em pátios e se seguem em labirinto — "é uma espécie de
cidade dos cavalos", refere Francisco Beja. Chegamos a tempo de ver o
início de uma aula de equitação da Escola Profissional de
Desenvolvimento Rural de Alter do Chão — os alunos, com traje de
montar da escola, levam os cavalos pelas rédeas até ao picadeiro Gomes
da Silva, um dos muitos que aqui existem, cobertos e descobertos. Quem
vem não pode deixar de reparar nas Casas Altas, o edifício mais antigo
e mais emblemático da coudelaria (visto de lado tem algo de fortaleza,
parede branca altíssima com as janelas a espreitarem só em cima), que
era a cavalariça original e é agora a recepção e centro de
interpretação, espaço nevrálgico para perceber a organização e as
valências da coudelaria.

O grand carrier é a grande sala de festas da coudelaria, onde se
organizam provas diversas e onde Duarte Nogueira treina — compete em
dressage. Acabamos por não nos cruzar com ele, que orienta o trabalho
dos três monitores e dá aulas mais avançadas. Acabamos também por não
nos cruzar com nenhum turista — nem para as visitas guiadas, nem os
que vêm para os estágios com os tais objectivos muito específicos.
"Normalmente têm uma hora de aulas e o resto do tempo participam nos
trabalhos da coudelaria", explica Francisco Beja. São aulas altamente
especializadas, muitas vezes na vertente da competição — é aí que
entra Duarte Nogueira, que "mostra a tecnicidade, a arte".

Quase três séculos depois da fundação, o ferro Alter Real é famoso e
há vários campeões saídos daqui — outros na forja, como o Vieheste,
que está no Brasil a ser preparado para os jogos olímpicos de 2016,
onde vai ser montado pelo cavaleiro brasileiro Manuel Tavares Almeida.
Há cerca de 500 cavalos na coudelaria — "efectivos, não à manjedoura,
e da Coudelaria de Alter e Coudelaria Nacional" —, dos quais 20 a 25
são todos os anos colocados à venda em leilão; outros são
seleccionados para competição (reprodutores), para a Escola Portuguesa
de Arte Equestre e para as eguadas. Os animais podem ser vendidos a
partir de qualquer idade, mas o valor sobe quando têm performance
testada e confirmada — aqui, tenta-se assegurar isso.

Tudo começa pelo desbaste dos animais (um trabalho para suavizar os
movimentos do cavalo, habituá-los ao contacto com o homem, a aceitar o
seu peso nos andamentos), a partir dos três anos, altura em que são
recolhidos dos campos. No Pátio D. João VI encontra-se o maior centro
de desbaste da coudelaria, com 70 boxes e um picadeiro coberto. É aqui
que encontramos os três equitadores que, quando não têm aulas para
monitorar, se dedicam ao desbaste e ensino dos cavalos — há alguns
espelhos colocados estrategicamente nas paredes, para os cavaleiros
avaliarem a postura dos animais. Aos campos (são 800 hectares no
total), vamos em busca da eguada. Percorremos trilhos quase
invisíveis, passamos cancelas — o ritual é habitual: abrir e fechar a
cancela, sempre —, observamos a erva parda e a natureza vestida de
Outono. "Há veados, gamos, javalis, lebres", enumera Francisco Beja,
mas não vemos nenhum. Nesta manhã, até as éguas também parecem
esquivas, mas apenas nos trocaram as voltas e acabamos por
encontrá-las junto à entrada — junto às manjedouras, onde se acumulam
fardos de feno. "Ouviram o barulho do carro e vieram para aqui",
explica Francisco. São dezenas, todas castanhas, e ele conhece-as pelo
nome (atribuído pelo ano de nascimento e o nome do pai, a primeira
letra da primeira e segunda sílabas, respectivamente). "Sou eu que as
selecciono, vejo crescer, oriento a inseminação", justifica.
Enjeitada, Claque, Babilónia, Donjela, Beringela, "filha do Rubi, que
foi aos jogos olímpicos, um dos melhores lusitanos de sempre, ferro de
Alter"… — estão aqui as mães de todos os cavalos que saem de Alter.

Em terra de campinos

A Tapada de Braço de Prata está quase sonolenta nesta tarde soalheira
de Outono e a pequena alameda de altas palmeiras que nos conduz até às
cavalariças transporta-nos para outras geografias. Este é centro
nevrálgico do turismo equestre na Companhia das Lezírias (CL), uma
empresa quase mítica, com a sua evocação de milhares de hectares de
terrenos devotados à agricultura e natureza mais selvagem. À porta dos
estábulos brincam, irrequietos dois Jack Russel, a Tonicha e o Oscar.
"São os cães de cavalariça", explica André Machado Faria, o
responsável pela área do turismo equestre da CL (uma das prioridades
do PENT 2015), "estão sempre a apanhar ratos". Ruben Peniche (que para
o ano vai estrear-se no toureio a cavalo, depois de ter andado pelos
forcados) monta o Baiuco, que, perceberemos mais tarde, é a estrela
entre os 12 cavalos (no futuro terão todos ferro da CL) disponíveis
para os visitantes — primeiro no picadeiro, sob o olhar atento de
André; depois, pela propriedade. "Está redondo", ouviremos —
explicação: está harmonioso nos movimentos.

É necessário que assim estejam todos os cavalos para poderem servir a
todo o tipo de cavaleiros. Podem ser iniciantes ou experientes. Aqui,
na CL, a oferta é variada, ainda que recente — desde actividades de
aprendizagem a passeios em carro de cavalos ou a passeios a cavalo,
com guia, de algumas horas ou dias. Os portugueses, explica André, vêm
muito para passeios em carro e iniciação a cavalos, "normalmente
casais que querem ter a experiência"; os estrangeiros procuram
passeios de vários dias, já têm experiência de montar. Podem chegar a
ficar seis dias com a CL – não na CL: os programas mais longos
dividem-se habitualmente entre a CL e os parques de Sintra, com
possíveis "desvios" até à Tapada Nacional de Mafra e ao palácio de
Queluz, onde funciona a Escola Portuguesa de Arte Equestre. Tivéssemos
vindo duas semanas mais cedo e ter-nos-íamos cruzado com chineses, que
parecem ter descoberto a CL para as suas férias equestres: não só tem
direito a referências em revistas da China, como de lá chegam
regularmente turistas. "É o nosso melhor mercado, neste momento",
assume André.

Com milhares de hectares à disposição dos cavaleiros, os passeios que
se confinam à CL nunca são monótonos: aqui, na charneca (em oposição à
zona de lezíria), onde se localiza o centro de turismo equestre, as
paisagens variam entre os arrozais (por estes dias amarelados,
transformando a paisagem num quadro de Van Gogh), montado de sobro,
mato (pinheiros mansos e bravos, sobretudo), vinhas e uma das maiores
barragens privadas do país (Alcobrão). Quem fica um dia tem direito a
um "almoço de campo", com toalha de pano, garfo e faca, vinho e
especialidades locais — o "bacalhau à campino" é o mais requisitado. E
em terras de campinos, de enraizadas tradições equestres, quem fica
mais tempo tem sempre a oportunidade de se envolver na cultura da
lezíria: quando é possível, uma incursão a uma tourada; e, sempre que
se quer, uma "iniciação" às lides do toureio a cavalo ou um passeio
entre manadas de vacas.

Campo de desportos equestres, com sobreiros a salpicá-lo, o cercado de
poldros, a pista de obstáculos de atrelagem — vamos atrás dos cavalos.
No regresso, o pátio entre o picadeiro e o estábulo torna-se o
balneário dos cavalos. "Eles adoram." As mangueiras refrescam-nos, a
escova retira a água. Se os turistas querem, podem fazê-lo; "tudo
depende da sua vontade".

Sem cavalgadas

Em Castro Laboreiro essa é quase uma exigência dos turistas
estrangeiros — não tanto dos portugueses. "Eles querem limpar os
cavalos e os estábulos, querem ver o tractor…", refere Pedro Alarcão.
Antes de montar, querem aparelhar os cavalos. É um ritual importante,
afirmam as visitantes: "Para conhecer o cavalo e para ele nos
conhecer". Vão falando com os animais enquanto os escovam, limpam os
cascos, colocam a manta e a sela, os estribos e os arreios. Quando é
hora de partir, a comitiva vai rodeada pelos cães da casa que
acompanham o percurso — gatos e burros (para burricadas) completam a
família Ecotura. Vão lusitanos e garranos. Uma mistura desde sempre
assumida pelos proprietários, que procuram ter uma representatividade
boa das duas raças. As cavaleiras aprovam e ressalvam o carácter
especial dos cavalos daqui — "são muito diferentes", dizem, "na
Alemanha nunca poderíamos montar um garanhão, por exemplo".

Vegetação rasteira, pedras, montes rapados e, ao longe, cumes
multiplicando-se entre a luz diáfana — é o planalto que se abre. Vão a
passo com alguns momentos de trote e galope, quando se proporciona. "A
nossa filosofia é: os cavalos não passam o dia a galopar", explica
Pedro Alarcão, "tem de se ter em conta o bem-estar deles". Deixamos de
avistar o grupo quando este sobe para o Sítio do Cavalo Morto;
voltamos a encontrá-lo em Rodeiro, antiga branda, situada na margem do
rio Laboreiro — atravessam o casario tradicional de pedra, espreitam
um antigo forno comunitário e avistam os moinhos de água no vale.

De regresso, o ritual de tratamento de cavalo repete-se. Cada uma
trata do seu — como o passeio foi curto, o banho de mangueira é
substituído por banho de esponja; limpam-se os arreios; escovam-se
crinas e caudas; fazem-se mimos. Depois, é altura da liberdade:
Anabela abre e fecha cercas, os cavalos são distribuídos pelos campos
em redor. Vão sozinhos, saltam os muros de pedra e desaparecem na
paisagem. À noite voltam, sozinhos, também — sabem que é aqui que
jantam.



Ecotura
Portelinha - Castro Laboreiro
4960 Melgaço
Tel: 967442217
E-mail: ecotura@ecotura.com
www.ecotura.com

Na Ecotura, os programas de férias equestres incluem caminhadas
regulares de descoberta das paisagens e tradições da serra da Peneda
e, permita o tempo, mergulhos em piscinas naturais ou banhos em águas
termais. A observação de animais selvagens não é garantida, mas as
tentativas sim (inclusive à noite), e a gastronomia regional faz parte
da experiência — ao pequeno-almoço e almoço (este normalmente
piquenique com produtos regionais) incluída no pacote oferecido. Para
o ano está previsto o início da realização de trilhos contínuos.
"Ainda não os fazemos porque não há sítios para os cavalos dormirem",
lamenta Pedro Alarcão. "Em França, as casas de turismo rural têm boxes
ou campos vedados já a contar com cavalos", compara.

Preços: Férias equestres: 800€ (sem jantar, alojamento em casas de
turismo de habitação); manhã com cavalos: 35€.

Companhia das Lezírias
Monte de Braço de Prata, ?Porto Alto
2135-318 Samora Correia
Tel.: 263 650 600
926 729 180/ 961 523 119
E-mail: andre.mfaria@cl.pt; pequena.companhia@cl.pt
www.cl.pt

A cerca de 40 quilómetros de Lisboa, a CL é por vezes chamada de
"pulmão" da capital: são 18 mil hectares de terreno que se dividem em
duas áreas distintas. De um lado, a lezíria, terreno plano, sem
vegetação, à beira-Tejo e Sorraia, ocupada por arrozais e gado bovino
— e, desde recentemente, casa do EVOA – Espaço de Visitação e
Observação de Aves, que traz o birdwatching à zona húmida mais
importante do país. Do outro, a charneca, onde se encontram o centro
de turismo equestre, a coudelaria e os bungalows (com quarto, sala,
cozinha, WC e um apetecível alpendre), implantados entre sobreiros em
torno de uma piscina. As visitas à CL só estão abertas a grupos e com
marcação prévia, centrando-se nos seus locais mais emblemáticos —
quase todos na charneca, onde além de paisagens variadas se localizam
a coudelaria, as adegas (com provas) e o restaurante. É aqui que
decorrem os passeios a cavalo e em carro de cavalos — a iniciação fica
reservada ao picadeiro. Outra actividade possível na CL é a caça:
patos, javalis, coelhos são algumas das espécies que abundam.

Preços: Passeios a cavalo: 40€ (meio-dia), 75€ (um dia com
piquenique); 125€ (dois dias, sem estadia); 300€ (fim-de-semana, uma
noite incluída, para duas pessoas); 1450€, mais IVA ("Por Caminhos de
Reis", 7 dias/6 noites, refeições, dormidas, transporte incluído).
Aulas de Equitação (mínimo 4 aulas): 10€ (4x). Passeio em carro de
cavalos: a partir de 30€ (1/2h, máximo seis pessoas). Bungalows: 50€
para duas pessoas; 80€ para quatro pessoas (por noite).

Coudelaria de Alter
Tapada do Arneiro
Apartado 80
7441-909 Alter do Chão
Tel: 245 610 060
E-mail: geral@alterreal.pt
www.alterreal.com

Se a equitação fosse religião, Alter do Chão seria o altar português.
Aqui, respira-se a história e o presente da arte equestre e da raça
mais representativa do país, o cavalo lusitano, animal especialmente
dotado para estas. Se vivemos o presente nas visitas guiadas à
coudelaria (7,50€, com vários descontos), com a imersão possível no
seu quotidiano ao montar (em picadeiro: desde 25€, com ou sem
equitador) no Museu do Cavalo (com peças que testemunham a evolução da
arte equestre em vários contextos) e na Casa dos Trens (com vários
carros do século XIX) tem-se um relance ao passado.

Fazemos um parêntesis nos cavalos para falar de outra arte que na
coudelaria "voa" à solta, a da falcoaria, Património Imaterial da
Humanidade desde 2010. Em determinados dias está incluída na visita
guiada à coudelaria; nada de descabido sabendo que a falcoaria e os
cavalos sempre tiveram uma relação próxima — esta modalidade de caça,
das mais antigas, sempre foi acompanhada a cavalo e era uma das
predilectas da realeza. Em Portugal teve o seu auge na Idade Média e,
mais tarde, na segunda metade do século XVIII, altura em que a
coudelaria, criada para fornecer cavalos à picaria real, começava a
dar os primeiros passos. As exibições de falcoaria acontecem em dias
específicos e são da responsabilidade da Caçamonte, concessionária da
coudelaria. Nós assistimos ao voo livre de uma águia (JB) e um falcão
(Lua).

Preços: Montar em picadeiro (14h30-16h30): 25€ (30m), 50€ (1h), se
souber montar; 25€ (20m), 50€ (40m), aula de volteio com equitador;
atrelagem desde 2,50€; visitas guiadas: 7,50€ (com vários descontos).

Um nicho de mercado à procura do seu lugar
Há algo que parece querer mudar no turismo português e se calhar a
organização do workshop Turismo Equestre em Portugal - Oportunidades
de Desenvolvimento é disso sintomático. É mais um passo para
desenvolver o que o TP considera um "nicho de mercado", mas cujo
potencial em Portugal está avaliado em mais de 500 milhões de euros e
que tem nos 6,4 milhões de praticantes de passeios a cavalo na Europa
um mercado em potência, segundo dados de um estudo da THR citado pelo
TP. O próprio TP "desafiou" a TURIHAB (Associação do Turismo de
Habitação de Portugal) e o Turismo do Porto e do Norte a desenvolver o
projecto-piloto Itinerários de Turismo Equestre, desenvolvido pela
TURIHAB (Associação do Turismo de Habitação de Portugal), "que
pretendeu desenvolver uma metodologia e requisitos aplicáveis ao
desenvolvimento desta actividade e um guia de boas práticas para os
agentes turísticos", descreve Maria do Céu Sá Lima, da TURIHAB. Apesar
de o estudo se ter debruçado sobre a região Minho-Lima, "a
caracterização e os requisitos necessários para implementar um
circuito é aplicável a todo o país", sublinha.

O levantamento feito sobre o turismo equestre revelou o perfil europeu
do turista como sendo adulto, entre os 25 e os 50 anos, sem filhos,
que permanece entre quatro e sete noites no destino e tem um gasto
médio a rondar os 1500 euros — facto "marcante", assinala Maria do Céu
Sá Lima: 60 por cento são mulheres. É um turista que "procura férias
com esta motivação ao longo de todo o ano, embora com incidência entre
Maio e Agosto, escolhendo deslocar-se em modalidade pacote de férias
uma a duas vezes por ano. Escolhe o seu programa e destino através da
Internet, catálogos e revistas especializadas".

O turismo equestre enquadra-se no âmbito do turismo de natureza, um
segmento de mercado onde domina a procura da "tranquilidade, repouso e
autenticidade" e a realização de "múltiplas actividades no destino". O
"enquadramento natural, paisagístico e de recursos, muito atractivo e
variado, com um clima ameno, alojamento, restauração, serviços e
equipamentos de apoio com grande qualidade e de referência", enumera
fonte do TP, aliado à "cultura equestre, patente nos vários eventos e
competições internacionais que recebe todos os anos, e raças
autóctones" tornam Portugal num competidor credível frente aos
principais pólos europeus deste tipo de turismo, como a França,
Itália, Irlanda e Espanha. Se a isto somarmos "a maior consciência
ambiental dos turistas, a preferência por destinos não massificados e
por experiências diferentes e autênticas", constata-se que há em
Portugal "oportunidades de desenvolvimento deste produto", através de
"uma rede de centros hípicos e de rotas e itinerários adaptados, que
permitam, em conjunto com outras valências, apresentar e vender uma
oferta integrada".

Neste momento, e de acordo com os dados disponíveis, existem cerca de
40 empresas que se dedicam à actividade de animação equestre em
Portugal. "O grande objectivo [do projecto-piloto] é pôr todos os
empresários do turismo equestre em contacto para poderem lançar em
conjunto itinerários que serão depois comercializados, inclusive nos
circuitos internacionais", refere Maria do Céu Sá Lima. Este é um
mercado importante, uma vez que os "portugueses participam em eventos
e praticam em espaços fechados", nota, "ainda não há motivação para
fazer itinerários". Talvez pela pouca tradição de hipismo entre nós
(segundos dados da Federação Portuguesa Equestre, há 5597 cavaleiros
registados): "É uma prática cara". De qualquer forma, assinala, se os
programas podem ter um preço elevado (no mínimo 150€ por dia), os
"preços são muito mais acessíveis para a prática pontual, com várias
soluções, como ensinar a montar".

A cavalo ou de cavalo, este nicho turístico vai muito além do animal,
"movimentando muitos recursos" e "desenvolvendo localmente outras
dinâmicas", sublinha Maria do Céu Sá Lima. Ambientais, turísticas e
económicas: "ferradores, tratadores de cavalos, guias, limpeza de
caminhos, restaurantes, alojamento… Pode transformar economias
locais". Ao mesmo tempo, defende o TP, "este segmento tem potencial
para ser associado não só ao turismo de natureza, como a outros
produtos turísticos estratégicos, como os circuitos turísticos
religiosos e culturais, o golfe ou o turismo residencial".

http://fugas.publico.pt/Viagens/326620_turismo-equestre-o-mundo-tambem-se-descobre-a-cavalo?pagina=-1

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