domingo, 10 de novembro de 2013

Quatro amigos criam Fruta Feia para aproveitar desperdícios nos supermercados

Publicado em 2013-11-08


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Quatro amigos criaram uma cooperativa chamada Fruta Feia para
aproveitar cerca de um terço da fruta e vegetais que os supermercados
desperdiçam por considerarem que não têm o aspeto perfeito que os
consumidores procuram.

A cooperativa vai abrir a 18 de novembro na Casa Independente, nos
Anjos, em Lisboa, depois de alguns contratempos que levaram a que o
projeto, um dos três vencedores de um concurso de ideias promovido
pela Gulbenkian, só tenha reunido agora o dinheiro suficiente para
arrancar.

"A ideia surge da identificação do problema do desperdício alimentar
devido à aparência e da motivação de querer fazer qualquer coisa para
contrariar essa tendência. A motivação necessária surgiu com o anúncio
do concurso da Gulbenkian", explicou Isabel Soares, uma das mentoras
da Fruta Feia, em declarações à agência Lusa.

Depois de ter assistido a vários documentários e ter lido artigos
sobre o assunto, Isabel Soares teve a confirmação de que a ideia seria
para arrancar no Natal em conversa com o tio, agricultor, que lhe
explicou que iria deitar para o lixo metade da sua produção de peras,
pois não tinham o calibre necessário para venda normalizada.

"Gente bonita come fruta feia" é o lema do projeto que pretende
associar "bons ideais às pessoas que estão dispostas a comer" esta
fruta não normalizada para evitar o desperdício alimentar, explicou
Isabel Soares.

Até ao momento são 12 os produtores da zona Oeste que vão colaborar
com a delegação de Lisboa, mas a Fruta Feia tem tido contatos de
vários interessados em participar no projeto de variadas zonas do
país.

"O nosso projeto também implica uma proximidade aos agricultores,
tornando-se inviável irmos buscar laranja ao Algarve. Teria um custo
de transporte que seria refletido nos custos ao consumidor. Para já
não conseguimos dar resposta pela questão do transporte, mas esperamos
no futuro replicar a ideia noutros pontos do país", explicou.

Dois dias depois de ter sido publicado na página oficial que as
inscrições na Cooperativa estavam abertas, já há mais de 60 pessoas
sócias da Fruta Feia, dispostas a pagar a quota anual de cinco euros
além dos 3,5 euros por uma cesta pequena - três a quatro quilos de
frutas e hortícolas da época - ou sete, pela cesta grande com seis a
oito quilos, que serve uma família de quatro pessoas.

"Este projeto mantém-se pela venda de fruta e hortaliças. Quanto mais
consumidores forem, mais sustentável é, e mais rapidamente podemos
crescer e replicar o modelo noutros pontos do país", reconheceu.

Para o arranque, Isabel Soares explica que a Cooperativa consegue
abastecer 120 pessoas, devido a questões logísticas, mas o projeto já
seria viável com quarenta. Quanto aos preços praticados, foram
estipulados em função dos custos dos produtos e dos transportes e
depois de tirada uma "pequena margem para o projeto crescer".

"Fizemos uma cesta no supermercado com este tipo de produtos, vimos o
seu preço e estabelecemos que seria metade. Sabemos que é pelos preços
que vamos atrair os consumidores", reconheceu.

De acordo com Isabel Soares, os maiores entraves ao projeto foi a
constituição legal da cooperativa e as várias burocracias que tiveram
de ser ultrapassadas. Financeiramente o grupo tinha o prémio de 15 mil
euros do concurso Ideias de Origem Portuguesa, da Gulbenkian e da
Cotecmas que veio a "tornar-se insuficiente par pagar a carrinha, a
constituição legal".

Outro dos obstáculos sentidos foi o próprio contacto com os
agricultores. Isabel Soares reconhece que quando conhecem o projeto
ficam interessados em trabalhar nele, já que se "está a comprar o lixo
que ninguém quer".

"O objetivo é ajudar diretamente os agricultores e não distribuidores
ou intermediários, foi difícil passarem-nos esses contatos e não se
trata de pessoas que estão pela internet", reconheceu.

Isabel Soares conta que depois da desconfiança inicial os produtores
até agradecem, mas é normal "já que levam uma vida toda a ouvir dizer
que têm de produzir fruta bonita, nabiças perfeitas" e depois "é
normal que fiquem desconfiados, nem acreditam".

As cestas vão poder ser recolhidas, numa primeira fase, às
segundas-feiras na Casa Independente, nos Anjos, sendo que a Fruta
Feia, ideia de Isabel Soares, Inês Ribeiro, Francisco Gonçalves e Sara
Silva, pensa em encontrar um ponto de recolha em Campo de Ourique e
Telheiras.

A Fruta Feia, que conta ainda com recursos financeiros limitados, está
a promover uma campanha de 'crowdfunding' (donativos monetários) na
internet, de forma a poder viabilizar o projeto em outras partes do
país.

http://www.jn.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=3521656

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