quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Dieta mediterrânica, uma oportunidade para Portugal

VÍTOR BARROS e JORGE QUEIROZ

22/12/2013 - 00:25

As culturas mediterrânicas celebram a vida como acto de partilha e festa.

A Dieta Mediterrânica foi inscrita a 4 de Dezembro de 2013 na lista
do Património Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO. Tratou-se de
uma candidatura e um processo totalmente novos, que substituiu e
alargou a candidatura de 2010 da iniciativa de Espanha, Itália, Grécia
e Marrocos.

A decisão, que agora abrangeu Portugal e a sua comunidade
representativa Tavira, mas também a Croácia/Hvar e Brac, Chipre/Agros,
Espanha/Soria, Grécia/Koroni, Itália/Cilento e Marrocos/Chefchaouen,
foi tomada em Baku, capital do Azerbaijão, na 8 ª Sessão do Comité
Intergovernamental para a Salvaguarda do Património Cultural
Imaterial, a mais participada de sempre (contou com 116 Estados
presentes) e que coincidiu com o 10 º aniversário da Convenção da
UNESCO.

Esta Candidatura envolveu trabalho técnico para os 7
Estados/comunidades realizado durante dois anos e meio pela autarquia
de Tavira, contou com o acompanhamento de uma Comissão Nacional
constituída por Ministérios, instituições públicas e privadas.

Portugal é um País mediterrânico pelo clima, produções e pela sua
cultura. "Dieta" tem origem no termo grego "daíata", significa estilo
de vida, um modelo cultural milenar, transmitido de geração em
geração, que integra formas particulares de relacionamento colectivo,
consumo de recursos alimentares locais de acordo com as épocas do ano,
processos e técnicas de extracção e produção, festividades, rituais
simbólicos e expressões artísticas associadas.

O pão e os cereais, o azeite e o vinho marcam as paisagens culturais
mediterrânicas e integram os rituais das três religiões monoteístas
nascidas nesta região. As cidades de cultura mediterrânica manifestam
uma vida social intensa nas praças e zonas portuárias, mercados e
bairros.

A "dieta mediterrânica" não é apenas um regime alimentar, é uma forma
de ver, pensar e agir que influenciou o planeta. São culturas de
partilha, de entreajuda e proximidade que caracterizam o modo de
viver.

Como sistema nutricional, considerado de excelência pela OMS, foi
descoberto pelo fisiólogo norte-americano Ancel Keys (1903 – 2003),
que verificou no "Estudo dos 7 Países" a existência de menor
incidência de doenças cardiovasculares e coronárias na região
mediterrânica em relação a outras regiões do mundo. A investigação
subsequente conduziu a importantes conclusões, nomeadamente a
correlação entre este modelo cultural e as características da
alimentação com bons níveis qualitativos de saúde física e mental
comunitária.

O consumo de produtos frescos, o uso do azeite como gordura alimentar,
a utilização de ervas aromáticas e frutos secos, o vinho consumido com
moderação, a esporádica utilização da carne são alguns dos factores
explicativos dos bons níveis de saúde. Mas destes não podem ser
secundarizadas formas de convívio colectivo, escasso "stress",
sociabilidades e convivialidades.

Nesta reunião da UNESCO foi destacada por diversos Estados a relação
entre a proteção do Património Cultural Imaterial e a sustentabilidade
dos territórios, nomeadamente a necessidade da urgente proteção da
diversidade cultural do mundo.

Com esta inscrição Portugal assume particulares responsabilidades na
defesa das culturas locais, a obrigação de realizar inventários e de
participar no Plano de Salvaguarda com os outros Estados e comunidades
representativas.

A inscrição cria boas oportunidades para um maior dinamismo na
protecção e divulgação dos produtos tradicionais, espécies autóctones
e paisagens culturais, para a promoção de estilos de vida saudável e
turismo cultural.

As culturas mediterrânicas celebram a vida como acto de partilha e festa.

Engenheiro Agrónomo, INIAV, Coordenador da Comissão Nacional da DM

Sociólogo, CMTavira, Técnico responsável da Candidatura UNESCO

http://www.publico.pt/sociedade/noticia/dieta-mediterranica-uma-oportunidade-para-portugal-1617165

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