quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

A viagem transatlântica das cabaças em forma de garrafa


ANA GERSCHENFELD 11/02/2014 - 20:40
A ubiquidade deste alimento desde os primórdios da agricultura fez os especialistas perguntarem-se como é se tinha espalhado tão depressa pelo mundo. Surfando as ondas, concluiu-se agora.

 
As abóboras-de-carneiro foram das primeiras espécies vegetais a ser domesticadas WIKIMEDIA COMMONS
 
As abóboras-de-carneiro – aquelas cabaças parecidas com garrafas ou cantis – são uma das espécies cultiváveis mais globalmente difundidas e das primeiras a terem sido domesticadas, há uns 10 a 11 mil anos. Segundo o mais recente estudo, publicado esta segunda-feira na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, terão sido transportadas até ao Novo Mundo pelas correntes oceânicas, vindas de África.

A ubiquidade das abóboras-de-carneiro (Lagenaria siceraria) em África, Ásia e na América pré-colombiana, nos primórdios da agricultura, constituía um enigma: como é que uma tal difusão da espécie tinha sido possível?

Houve quem avançasse a ideia de que as abóboras teriam chegado de Ásia via o Estreito de Bering, transportadas pelas primeiras populações a colonizar o continente americano, escrevem Logan Kistler, da Universidade Estadual da Pensilvânia (EUA), e colegas. Porém, estes autores não acharam essa hipótese muito plausível, uma vez que as abóboras são uma espécie adaptada ao clima tropical, e que não teriam provavelmente sobrevivido ao clima do Árctico.

Estes cientistas fizeram agora uma análise genética de abóboras-de-carneiro actuais e provenientes de sítios arquelógicos e desvendaram outra possível explicação.

Na realidade, escrevem ainda, as abóboras americanas derivam das africanas – e não das asiáticas, como se pensava até aqui.

Para mais, a simulação das correntes oceânicas do Atlântico naquela altura sugere que essas correntes poderão ter levado as abóboras a flutuar de um continente para o outro em menos de um ano – permitindo assim a germinação das suas sementes quando deram à costa americana.

A história faz lembrar aquele carregamento de dezenas de milhares de patinhos de plástico e outros coloridos brinquedos, perdido no Pacífico em 1992 quando o barco que o transportava se afundou, e que se espalhou pelos oceanos do mundo – com patinhos amarelos a darem à costa no Reino Unido e Irlanda uns 15 anos depois...

Já no Novo Mundo, especulam ainda os autores, as sementes das abóboras poderão ter sido espalhadas por todo o continente americano nos excrementos dos grandes mamíferos herbívoros. E mais tarde, as abóboras terão sido domesticadas pelos primeiros agricultores humanos.

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