domingo, 30 de março de 2014

Juventude e vinhos Juventude e vinhos

Juventude e vinho, uma receita empresarial de sucesso

D.R.

Três jovens licenciados deitaram-se à vida e criaram os seus próprios empregos. Uma década depois o sucesso é evidente
A Vines & Wines é uma empresa de consultoria nas áreas de viticultura e enologia, criada há dez anos por três jovens enólogos, Carlos Silva, João Paulo Gouveia e Miguel Oliveira. Fazem assistência a duas dezenas de produtores, da Região dos Vinhos Verdes ao Alentejo, mas a sua actividade localiza-se sobretudo nas regiões do Dão e Beira Interior.

Uma história semelhante a muitas outras, não fora o caso de serem da zona de Viseu e depois de terem acabado os cursos na universidade não terem ficado à espera de arranjar emprego. Fizeram-se à vida e criaram eles os seus postos de trabalho.

Passada uma década têm trabalho feito, vinha, uma adega e um laboratório em Oliveira de Barreiros, onde fazem investigação e muitos trabalhos de experimentação com vista a melhorar castas, processos de viticultura e retirar ensinamentos para o seu trabalho nas casas dos clientes. Carlos Silva e Miguel Oliveira mais na área da enologia, João Paulo Gouveia mais na área da viticultura.

Durante todo o seu percurso têm ajudado os produtores a melhorar os seus projectos, a elevar o potencial e a notoriedade dos seus vinhos. Tem valido a pena, a avaliar pelo constante reconhecimento nacional e internacional através de concursos e pela crítica especializada e através da sustentabilidade dos projectos. Em 2008 a Vine & Wines foi distinguida com o prémio Melhor Empresa de Viticultura pela "Revista de Vinhos".

Reuniram-se muito recentemente num jantar vínico com os vários parceiros e amigos que participam neste projecto. Por parte dos produtores com quem trabalham estiveram presentes Casa da Ínsua, Casa de Mouraz, Chão S. Francisco, CMWines - Allgo, Cooperativa Agrícola Beira Serra, Donnaires, Julia Kemper, Ladeira da Santa, Pedra Cancela, Quinta da Corga, Quinta da Nave, Quinta de São Tiago, Quinta do Ameal, Quinta do Escudial, Quinta do Perdigão, Quinta dos Currais, Quinta Vale das Escadinhas, Vinha de Reis e Vinha Paz.

Aproveitámos para saber como vão as coisas no Dão, uma região que, durante muitas décadas, foi das mais conhecidas e respeitadas entre os vinhos de mesa portugueses, o que não admira, já que se trata da segunda mais antiga região demarcada em Portugal. Depois a fama foi-se esbatendo e os pergaminhos do Dão bateram mesmo no fundo. Há uma década parecia que tudo iria melhorar com os seus vinhos a regressarem à ribalta, mas o caminho ascendente parece ter ficado a meio.

Carlos Silva afirmou-nos que o Dão é a região das promessas. "Tudo parece que vai acontecer, mas não vai. Há várias coisas que faltam, como por exemplo voltar a criar uma imagem forte dos seus vinhos e depois divulgá-la, fazê-la chegar a muita gente, ao mercado, aos consumidores. É preciso voltar a pôr os vinhos do Dão na moda, onde já estiveram. A região tem grandes vinhos brancos e tem grandes tintos, quer de guarda, quer mais leves e menos complexos feitos com as castas jaen ou tinta roriz, para beber de imediato. Tem também produtores importantes, como o caso da Sogrape (o maior produtor nacional de vinho), tem um grande futuro no turismo, até porque a maior parte da região, sobretudo dos vinhedos que estão implantados junto ao rio, não é conhecida dos portugueses. É verdade que tem faltado a força dessa mensagem, mas às vezes também tem faltado uma ponta de sorte."

Já quanto à zona da Beira Interior (situada junto à fronteira com Espanha, numa área que abarca no seu interior as serras da Marofa, da Gardunha e parte da Estrela, encontra-se subdividida em três sub-regiões, Castelo Rodrigo, Pinhel e Cova da Beira, e só há pouco tempo conseguiu fazer-se conhecida e notada. Diz--nos Carlos Silva: "É uma região de excessos, com Verões tórridos, em que as uvas ficam com muita acidez ou com muito álcool. É o contrário do Dão, onde conseguimos maturações fenólicas e polifenólicas muito equilibradas."

E foi na Beira Interior que tiveram das maiores dificuldades: "Há dez anos, quando começámos, muitos produtores que hoje têm vinhos premiados não sabiam pura e simplesmente fazer vinho. Uma boa parte começou do zero, mas rapidamente evoluíram e tornaram-se conhecidos. Fez-se muita reconversão de vinha, projectámos adegas, sugerimos castas."

E foi a intenção de saber se todo este caminho percorrido valeu a pena que juntou neste jantar os três enólogos com os produtores a quem dão consultoria.

"Queremos ouvir experiências, perceber sensibilidades, descobrir sinergias para poder evoluir ainda mais e melhor no futuro. É verdade que dez anos não é muito tempo, mas já temos muitas histórias, tem sido um percurso trabalhoso mas muito gratificante", resume Carlos Silva.

Sem comentários:

Enviar um comentário