quarta-feira, 21 de maio de 2014

Marinhoa corre risco de extinção


17 Mai 2014, 19:48

Uma das raças bovinas autóctones que em tempos ajudou o agricultor e o pescador encontra-se atualmente em vias de extinção. 

Revista PACOPAR *

A ligação afetiva que alguns agricultores mantêm com a raça Marinhoa e o trabalho de uma associação de criadores têm impedido o seu desaparecimento. A  comercialização de carne, apresentada como um produto sustentável, ecológico e promotor do bem estar animal, oferecendo viabilidade económica para os  criadores, deveráser o futuro da preservação da raça.

Em toda a área de produção da raça, existem atualmente 598 criadores, com 607 explorações, das quais 97 estarrejenses, com um total de 2697 animais, dos quais 1502 são fêmeas ativas. A Marinhoa adaptou-se aos ares da praia e por aqui ficou. 

O solar da raça encontra-se na zona litoral marinha, composta pelos concelhos de Ovar, Murtosa, Estarreja, Aveiro, Ílhavo e Vagos. "A raça encontra-
se severamente ameaçada de extinção e não verificamos tendência para isto se alterar a curto prazo", afirma Elisabete Ferreira, diretora técnica
da Associação de Criadores da Raça Marinhoa (ACRM). O abandono e a mecanização da agricultura estão na origem da atual situação.

Uma ligação afetiva As características morfológicas do Baixo Vouga requeriam um animal possante para a lavoura dos campos lagunares, nomeadamente no cultivo de arroz. O porte do bovino Marinhão veio responder à necessidade, levando à sua fixação e proliferação não só na zona marinha, onde também é usado na arte xávega, como no litoral mais interior.

A introdução de maquinaria agrícola foi levando o agricultor a prescindir do animal.

Comércio justo e sustentável

Apesar do abandono da agricultura, algumas pessoas mantiveram a atividade como paralela a outra profissão, criando estes animais para a produção de carne. Mas face à diminuição do número de efetivos, a ACRM surge, em 1992, com o objetivo de preservar o património genético da raça e promover a viabilidade económica da sua criação.

A atual média etária dos criadores ronda os 60 anos, assistindo-se a "muitas explorações de pessoas que, pela idade, muitos na casa dos 80 anos,
vão desistindo", sendo os respetivos "animais integrados em explorações de pessoas mais jovens, algumas com formação superior", que, segundo Elisabete Ferreira, "têm uma visão de empresa agrícola, com vocação exclusiva para a produção de carne." 

Em Estarreja, as explorações que acabaram têm sido absorvidas por outras cada vez maiores, "que não são muito diferentes do tradicional", pois "os animais continuam no campo", ressalva Pedro Ferreira, gestor da CARMARDOP (Cooperativa Carne Marinhoa DOP), criada em 2000. 

Após definido o regulamento de produção de Carne Marinhoa DOP – Denominação de Origem Protegida, através da aprovação do Caderno de Especificações da Carne Marinhoa DOP, encontrava-se em falta uma entidade que concentrasse a oferta e regulasse o mercado. Assim, surge a CARMARDOP, que vem regular os preços e a produção da carne. A cooperativa garante um preço ao produtor e controla todo o processo comercial, desde a compra, abate e desmanche, até à venda.

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