domingo, 29 de junho de 2014

Agricultura e conservação da natureza devem ser coordenadas no mundo


O trabalho, publicado na revista norte-americana BioScience, teve a participação das Universidades Federais da Bahia e de Goiás, no Brasil, e analisou o conflito entre agricultura e conservação da natureza
Um grupo de investigadores defende que as políticas de agricultura e de conservação da natureza devem ser articuladas, em todo o mundo, para aproveitar melhor a produção agrícola, proteger a biodiversidade e conseguir alimentar uma população crescente.

A proposta aponta uma abordagem complementar para "levar em consideração a produção agrícola para resolver a crise da biodiversidade e promover a definição de áreas protegidas com base num modelo globalizado", disse hoje à agência Lusa o cientista Miguel Araújo, do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO/InBio) da Universidade de Évora.

"A combinação destas duas estratégias poderia resultar na redução de 78% das perdas de oportunidade agrícola devido à implementação de áreas protegidas e [conseguir] um aumento de 30% na proteção da biodiversidade", avançou o investigador.

O trabalho, publicado na revista norte-americana BioScience, teve a participação das Universidades Federais da Bahia e de Goiás, no Brasil, e analisou o conflito entre agricultura e conservação da natureza, para o qual têm sido apresentadas soluções que passam pela redução do desperdício de alimentos e pela melhoria da produtividade agrícola.

Para alimentar uma população que já ultrapassa sete mil milhões e deverá atingir 10 mil milhões de habitantes em 2050, serão necessários mais produtos, o que terá consequências para a biodiversidade, por isso, os especialistas dizem ser indispensável enfrentar a procura de alimentos e mitigar os impactos no ambiente.

Miguel Araújo salientou que "globalizar as ações de preservação da natureza, ao mesmo tempo em que são desenvolvidas soluções para otimizar os benefícios da conservação e a produção de alimentos, é uma abordagem promissora para enfrentar esses desafios", acrescentando que as decisões de conservação deverão ser articuladas com as políticas agrícolas.

Esta proposta exige novas formas de intervenção, por exemplo, das instituições internacionais que, até agora, "não têm mandato para atuar nestas matérias", reconhecem os cientistas, mas defendem que, "mais tarde ou mais cedo será necessário equacionar a possibilidade de uma maior coordenação das políticas agrícolas e de biodiversidade a nível internacional".

"Se não o fizermos será mais difícil alimentar uma população humana crescente e preservar a biodiversidade que é suporte para tantos serviços de ecossistemas essenciais para o bem-estar humano", alertou o investigador do CIBIO.

Atualmente, a agricultura é responsável por 24% da produtividade, 30 a 35% das emissões globais de gases com efeito de estufa (relacionados com as alterações climáticas), 70% da água doce consumida e 38% do solo ocupado em áreas não congeladas, indicadores que podem aumentar com o crescimento da atividade agrícola.

Questionado acerca das diferenças entre países desenvolvidos e em desenvolvimento nos problemas relacionados com a perda de biodiversidade, o investigador referiu que, "de maneira geral, os países mais pobres não serão mais atingidos, no entanto, os poucos negativamente afetados devem receber compensação" para que o seu processo de desenvolvimento não seja comprometido.

*Este artigo foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico aplicado pela Agência Lusa

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