quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Estudo pode levar a mais produtividade na agricultura

Estudo pode levar a mais produtividade na agricultura

Não é qualquer cientista que escolheria passar uma manhã de Verão sobre um trémulo andaime junto a um carvalho, a 12 metros de altura, a olhar por um microscópio para perfurar uma folha com uma minúscula agulha de vidro cheia de óleo.

Mas Michael Knoblauch, biólogo da Universidade estadual de Washington, especializado em células vegetais, está prestes a concluir 20 anos de esforço para provar uma hipótese sobre como os nutrientes são transportados nas plantas.
Também está no fim de um ano sabático, passado em grande parte na floresta Harvard, um campo de pesquisa de 1.400 hectares, em Massachusetts.
Provar tal hipótese seria bem mais do que um exercício académico. Entender plenamente como as plantas funcionam – como os hidratos de carbono produzidos nas folhas circulam – poderia levar a melhorias na produtividade agrícola ou na resistência a pragas e doenças.

Assim, lá esteve ele num domingo, no topo de uma árvore, com o seu filho Jan, de 19 anos. Enquanto o jovem monitorizava no laptop a imagem do microscópio, Knoblauch mexia num dispositivo com a agulha de vidro.
A ponta de agulha de vidro é delicada e pequena, e precisa de ser fincada num tipo específico de célula. Apesar de o microscópio ficar instalado sobre um aparelho que detecta vibrações e as neutraliza, Knoblauch permanece o mais imóvel possível.
Ele e o seu filho esperavam conseguir medir pelo menos uma vez a pressão dentro dos longos tubos de células vivas, chamados floemas, que recolhem os açúcares produzidos pela fotossíntese nas folhas e distribuem-nos para frutos e raízes através dos ramos e do tronco.
A agulha de vidro funciona como um calibrador de pneus: quando a parede celular é perfurada, a pressão de água no interior comprime imediatamente o óleo na agulha.
Knoblauch usa de seguida as imagens de antes e depois para calcular a compressão e, assim, determinar a pressão.
O cientista passou mais de três anos no seu laboratório a desenvolver as agulhas, que chamada de picomedidores, pois contêm menos de 100 picolitros de óleo (seriam necessários cerca de 50 milhões de picomedidores para encher uma colher de chá).
E essa é uma das técnicas que concebeu para testar a hipótese segundo a qual o que impulsiona o fluxo de nutrientes no floema é o diferencial de pressão.
Esta hipótese foi desenvolvida em 1930 pelo fitofisiologista alemão Ernst Munch e é amplamente aceite porque faz sentido: os nutrientes devem fluir das áreas de maior pressão (as folhas, onde são adicionados os açúcares) para áreas de menor pressão (as raízes e frutas, onde os açúcares são retirados).
«Se descobrir o que a planta faz para alocar os seus recursos num período de 24 horas, pode pensar em todos os tipos de mudanças na produtividade agrícola», disse o biólogo William Lucas, especialista em plantas da Universidade da Califórnia, em Davis.
«O futuro em termos de população e de segurança alimentar reside em obtermos uma compreensão completa disso.»

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