domingo, 7 de setembro de 2014

Produção de vinho em Portugal cai 5,7% este ano devido ao mau tempo e doenças no campo

JOSÉ MANUEL ROCHA 07/09/2014 - 07:38
Problemas na floração e ataques de míldio e oídio fazem recuar a produção vinícola para 5,9 milhões de hectolitros na campanha 2014/2015 cuja vindima está no terreno.

 
Brancos com qualidade elevada este ano PEDRO CUNHA/ARQUIVO

A produção de vinho na campanha 2014/2015, que se inicia com a vindima em curso, deverá recuar 5,7% face à anterior. Num ano amargo para os produtores, com condições climatéricas muito difíceis e ataques frequentes de doenças, há nove regiões vitivinícolas com decréscimos de transformação de uva em vinho, quatro que têm uma melhoria de desempenho e uma que mantém o registo (Alentejo). Dão, pela negativa, e Península de Setúbal, pela positiva, são os destaques do ano vinícola.

As previsões de produção de vinho em Portugal, produto que garante exportações superiores a 700 milhões de euros por ano, foram divulgadas pelo Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), com base nas indicações colhidas no terreno pelos técnicos das várias regiões vitivinícolas, incluindo os Açores e a Madeira. Para a campanha que está a arrancar, o IVV aponta para a produção de 5,9 milhões de hectolitros de vinho, face aos 6,2 milhões que tinham sido registados na campanha anterior.

O volume de vinho que irá ser produzido está cerca de 6% abaixo da média das últimas cinco campanhas e constitui o segundo pior registo para o período – apenas na campanha de 2010/ 2011 é encontrado um voluma de produção abaixo dos 5,8 milhões de hectolitros. Entre 2009 e 2014, o recorde de produção foi atingido na campanha de 2010/1011 com um total de 7,2 milhões de hectolitros a saírem das adegas.

Frederico Falcão, presidente do IVV, confirma que foram mesmo as condições climatéricas que determinaram este mau ano na vinha. "Até seria expectável que a produção aumentasse, porque na última década Portugal reestruturou cerca de um quarto da vinha. As velhas vinhas foram substituídas por novas, com recurso a castas que garantem uma maior produtividade".

O tempo é que não ajudou. "A Norte, diz o responsável, os problemas começaram logo no período da floração, num estágio ainda primário das culturas". Tempo frio e chuvoso acabou por provocar desavinho (que acontece quando a flor não se transforma em fruto) e bagoinha (cachos com bagos de dimensões reduzidas, muitas vezes sem grainha). No Centro e Sul, os problemas tiveram mais a ver com ataques de míldio e oídio que, apesar dos tratamentos fitossanitários aplicados, tiveram impactos significativos nos volumes de uva que entretanto tinha vingado.

A região vitivinícola mais afectada pelas más condições climatéricas foi a de Terras do Dão. A previsão de colheita aponta para os 228 mil hectolitros, um valor que representa um recuo de 25% face à campanha anterior. A diferença para a média das últimas cinco campanha é de quase 100 mil hectolitros.

Arlindo Cunha, presidente da comissão vitivinícola local, afirma que os problemas começaram logo no período da floração, mas "o principal problema consistiu nos ataques de míldio e oídio", fungos que acabam por destruir os cachos de uva. "Apesar de terem sido efectuados tratamentos em vários momentos, o certo é que muitos deles não funcionaram. A previsão é de um recuo de 25% para toda a região, mas há casos de produtores em que as perdas podem chegar aos 45%", revelou o responsável.

No Dão, com a vindima já adiantada, espera-se agora que menos quantidade signifique mais qualidade. "As uvas têm muita doçura, são muito aromáticas, o que gera expectativas de que a qualidade seja boa nesta campanha em que os produtores enfrentaram custos acrescidos dada a quantidade de tratamentos que tiveram que realizar", afirmou Arlindo Cunha.

As zonas do Minho e do Douro são outros dois exemplos dos impactos negativos que o clima teve no ano de vinhos. A região onde o verde predomina deverá ter um recuo na produção de 10%, semelhante ao que irá verificar-se no terreno duriense, que, no entanto, manterá a liderança na produção com uma colheita de 1,3 milhões de hectolitos. Na segunda posição manter-se-á o Alentejo, com uma colheita superior a 1,1 milhões de hectolitros, idêntica à da campanha anterior.

No outro lado do quadro vitivinícola 2014/2015 está a Península de Setúbal, que deverá registar 490 mil hectolitros na adega, 20% acima do que tinha sido conseguido na campanha anterior. Ana Oliveira, técnica da comissão vitivinícola local afirma que "o clima foi favorável, com equilíbrio entre frio e calor que potenciou a vindima. Temos mais uma boa colheita em perspectiva, mas desde 1993 que temos vindo a crescer."

Pelo que tem visto na vindima, que está muito adiantada, Ana Oliveira acredita que a qualidade será este ano elevada. "A maturação das uvas é boa e, por isso, no plano teórico, a qualidade será boa. Mas só depois da adega é que se vê". A diversidade de solos que caracteriza a região, bem como as influências marítimas na cultura, aliadas a condições climatéricas favoráveis vão permitir à península manter a aposta numa elevada a relação qualidade-preço.

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