quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Portugal reconhece que crise económica baixou prioridade na adaptação às alterações climáticas


Lusa
14 Out, 2014, 10:48

A Agência Portuguesa do Ambiente (APA) reconhece que a crise económica alterou o foco da política nacional e levou a uma redução da prioridade dada à adaptação às alterações climáticas.
A posição de Portugal está referida num documento hoje divulgado pela Agência Europeia do Ambiente (EEA na sigla em inglês), que reuniu respostas de 30 países sobre a definição e concretização de políticas de adaptação em cada um deles.

Para a questão acerca do que está a faltar para avançar nesta matéria, a resposta da APA foi que "a crise económica e financeira mudou o foco da política nacional, levando a uma redução [da atenção] à prioridade da política de adaptação".

"A recente reestruturação da administração pública [as perguntas foram enviadas em maio de 2013] teve sérias consequências nos prazos, com consideráveis atrasos. O financiamento é um desafio importante, dadas as prioridades" para a recuperação económica, no curto prazo, refere a APA.

O coordenador do projeto Adaptação às Alterações Climáticas e Economia da EEA, Stéphane Isoard, disse à agência Lusa que "Portugal tem uma estratégia de adaptação às alterações climáticas há já algum tempo, desde 2010, e trabalhou na avaliação e identificação dos riscos e impactos relacionados" com este assunto, nomeadamente no projeto SIAM, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

"Penso que, na maioria dos países europeus, o próximo passo será começar a concretizar ações. O trabalho feito até agora foi perceber quais serão os impactos das alterações climáticas e onde se localizarão e planear, agora há que avançar ações no terreno", referiu o especialista.

O relatório "Processos Políticos Nacionais de Adaptação nos Países da Europa - 2014" concluiu que mais de três quartos destes Estados já têm a adaptação às mudanças do clima nas suas agendas políticas e quase todos referem que fenómenos climáticos extremos exigem respostas.

Para três quartos dos países, é a falta de recursos, como tempo, dinheiro ou tecnologias, o obstáculo que os impede de concretizar medidas, mas, apesar das dificuldades, metade dos países reportaram uma grande ou muito grande vontade de desenvolver medidas e de adaptar-se.

Em Portugal, os fatores que influenciaram a adaptação foram os eventos climáticos extremos, os custos dos estragos e a investigação científica.

A APA lista alguns exemplos para mostrar que já existe integração da adaptação em vários setores, como a saúde, com o plano de contingência para vagas de calor e o controlo de vetores, relacionado com algumas doenças, ou os planos para gestão da orla marítima.

A avaliação relacionada com a vulnerabilidade e o risco a nível nacional já cobre metade dos setores indicados pela EEA, como agricultura e floresta, biodiversidade, saúde, água ou turismo, mas ainda não chegou ao ordenamento do território e urbanismo, indústria, seguros ou património.

Quanto ao financiamento da adaptação nos setores, têm verbas do orçamento do Estado as áreas costeiras, enquanto a agricultura, a floresta, biodiversidade e água contam outros com montantes públicos. Os seguros cobrem a agricultura, os serviços e a indústria.

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