quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Diferendo no Alvarinho custa 17 milhões de euros

As contas são de António Guedes, da Aveleda, e referem-se a perdas de vendas


Vindimas de Alvarinho em Melgaço
José Mota
05/11/2014 | 00:01 |  Dinheiro Vivo
O diferendo do Alvarinho tem anos - a primeira tentativa de alterar o Estatuto dos Vinhos Verdes nesta matéria é de 2008, mas sem sucesso -, todavia o Governo deixou claro que, independentemente das posições aprovadas no interprofissional da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes, o ConselhoGeral, não tenciona mudar a lei sem que as partes se entendam. Estabeleceu um prazo até 15 de janeiro e a primeira reunião está marcada para hoje, no Porto. Ao Instituto da Vinha e do Vinho cabe o papel de moderador.
Do lado dos que se opõem à mudança, Miguel Queimado, presidente da Associação dos Produtores de Alvarinho de Monção e Melgaço recusa fazer comentários prévios às negociações. Do lado oposto, António Guedes, administrador da Aveleda e representante da Acibev - Associação dos Comerciantes e Industriais de Bebidas Espirituosas e Vinhos no Conselho Geral, diz-se convicto que será possível "levar as negociações a bom porto". Garante acreditar na "boa fé" de todos os intervenientes e sublinha que "todos têm a ganhar com o que está em jogo".
Mas o que está, afinal, em causa? Só e apenas a possibilidade de todos os produtores - e não apenas os de Monção e Melgaço, como a lei agora estabelece - poderem identificar os seus Alvarinhos como Vinho Verde. Uma questão de rotulagem que, estima António Guedes, custa 17 milhões de euros ao setor.
Não se trata de poder ou não produzir Alvarinho fora de Monção e Melgaço, porque há já 500 hectares desta casta plantados só na região dos Vinhos Verdes (sem contar com Monção e Melgaço, que se pode considerar, justamente, o berço da casta). E há por todo o país aliás, com exceção do Algarve e da Bairrada. A única diferença é que os produtores do Douro ou do Alentejo podem rotular os seus vinhos como Denominação de Origem Controlada (DOC) Douro ou DOC Alentejo Alvarinho, mas o DOC Vinho Verde Alvarinho está reservado em esclusivo aos vinhos de Monção e Melgaço.
Então como são vendidos todos os Alvarinhos que não são de Monção e Melgaço, muitos dos quais premiados nacional e internacionalmente? Ou os produtores não fazem menção no rótulo à casta e então podem pedir a certificação como Vinho Verde, ou se quiserem ostentar Alvarinho no rótulo, a garrafa tem de ser vendida como Vinho Regional Minho. E perde, consoante seja um vinho de lote ou monovarietal (feito exclusivamente da casta Alvarinho), entre 50 cêntimos a um euro por garrafa, o que significa uma desvalorização total estimada de um milhão de euros.
Além disso, há clientes nos mercados externos, bem como grandes superfícies e restaurantes em Portugal, que recusam colocar nas suas prateleiras Alvarinho Regional Minho. António Guedes considera mesmo que esta classificação constitui um "freio à exportação" e estima que isso represente cerca de 5% das vendas de VinhoVerde, ou seja, mais de 12 milhões de euros. Isto sem falar nos 35% de aumento potencial de exportação da marca Alvarinho, o que calcula possa valer quase três milhões e nos ganhos no preço da uva (cerca de 800 mil euros), entre outros.
Valores que teriam impacto aquando da alteração da lei, mas que não se esgotariam aí. Se em cada ano as vendas de Alvarinho crescessem 10%, os ganhos seriam da ordem de 1,7 milhões de euros, diz o responsável da Aveleda.
António Guedes acredita que "todos temos a ganhar" com a alteração da lei, na medida em que permitiria à região "potenciar as suas vendas em valor e em volume", alavancando-as na casta Alvarinho. A própria região de Monção e Melgaço retiraria daí dividendos, na medida em que "os consumidores poderiam querer conhecer o berço da casta, o que hoje não acontece".
Na reunião de hoje estarão representados, do lado dos que defendem a liberalização, a Adega de Amarante e Vercoope, a Aveleda, a Quinta da Lixa, a Quinta da Raza e a Sogrape. Do lado oposto estarão Anselmo Mendes, a Adega de Monção, a Associação de Produtores de Alvarinho de Monção e Melgaço, as Quintas de Melgaço e a Provam. Manuel Pinheiro, líder da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes presidente à reunião, que conta com um representante do Instituto da Vinha e do Vinho como observador e representante do Ministério da Agricultura e do Mar.
Sendo certo que não se sabe quais são as propostas que estarão em cima da mesa, não deverão fugir muito da que foi aprovada em julho pela ACIBEV no Conselho Geral da CVRVV e que previa um caráter de exceção para os vinhos de Monção e Melgaço, os únicos Alvarinhos que poderiam ostentar no rótulo a sub-região de proveniência. Para além disso, era sugerido que não só os Vinhos Verde Alvarinho lotados tivessem de conter um mínimo de 20% desta casta para poderem fazer referência a ela, como os próprios vinhos Regional Minho Alvarinho lotados teriam, também, de conter um mínimo de 20%. Uma proposta classificada como "generosa", tendo em vista a proteção e valorização da marca Alvarinho. "A questão é que a lei como está permite que um vinho regional lotado possa ter apenas 1% de Alvarinho e ser rotulado como tal e isso não valoriza o produto", alerta António Guedes.

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