quarta-feira, 19 de novembro de 2014

INE: Chuvas condicionam colheitas e afectam produções agrícolas



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As previsões agrícolas do INE, em 31 de Outubro, apontam para a diminuição da produtividade nos olivais (-15%, face a 2013), resultante dos graves ataques de gafa e mosca da oliveira, que também prejudicaram a qualidade dos azeites obtidos. Também os soutos de castanheiros foram severamente afectados por problemas sanitários, nomeadamente pela septoriose, fungo geralmente pouco activo mas que as temperaturas amenas e as precipitações fortes deste verão fizeram proliferar de forma descontrolada, originando decréscimos acentuados de produção que deverão rondar os 35%, face à campanha anterior. Deverão registar-se ainda reduções de produção no kiwi (-15%, com problemas fitossanitários e fisiológicos), na produção vitivinícola (-10%, com as chuvas a afectarem decisivamente a qualidade dos mostos) e na maçã (-5% face a 2013, que tinha sido o melhor ano de produção da última década). Quanto à pêra, a campanha decorreu sem incidentes, prevendo-se um aumento de produção de 5%, com frutos de bom calibre mas baixo Brix (indicador do teor de açúcar).

Nas culturas temporárias de primavera/verão assinalam-se as dificuldades que a precipitação persistente tem colocado aos produtores para a realização das colheitas, bem como o efeito negativo na qualidade dos produtos colhidos. No tomate para a indústria, na última semana de Setembro e na primeira de Outubro (período onde praticamente não ocorreu precipitação) foram retomados/intensificados os trabalhos de colheita, estimando-se que tenham ficado por apanhar cerca de 10% da área plantada. Prevê-se um aumento da produção de 20%, face a 2013, exclusivamente em resultado do aumento da área. No milho, a produção deverá ser semelhante à campanha anterior, com as preocupações a convergirem para os aspectos económicos, nomeadamente para a descida do preço desta commodity nos mercados internacionais e para o aumento dos custos de produção decorrentes da secagem do grão.

O mês de Outubro caraterizou-se, em termos meteorológicos, por valores de temperatura média muito superiores à normal, tendo sido o Outubro mais quente desde 1931. Na segunda quinzena registou-se mesmo a ocorrência de uma onda de calor, considerada como a mais significativa para o mês de Outubro dos últimos 70 anos, quer pela sua duração (6 a 9 dias), quer pela sua extensão espacial (todo o território excepto o interior norte). Quanto à quantidade de precipitação, concentrada sobretudo entre os dias 6 e 17, foi superior ao valor normal, classificando-se o mês como chuvoso.

Estas condições climatéricas afectaram significativamente a actividade agrícola. Após os primeiros dias do mês, em que ainda foi possível realizar algumas colheitas (nomeadamente do milho, arroz, hortícolas, uvas e azeitona) em condições minimamente aceitáveis, a chuva que se seguiu condicionou estas operações e, aliada às altas temperaturas para a época, potenciou o desenvolvimento de doenças criptogâmicas e o ataque de pragas.

Ao longo do mês de Outubro verificou-se um aumento da percentagem de água no solo em todo o território do Continente, atingindo os valores normais no final do mês.

Prados e pastagens beneficiam das condições meteorológicas

A disponibilidade de água e as temperaturas acima da média para a época beneficiaram os prados, pastagens e culturas forrageiras, com condições bastante favoráveis à germinação e crescimento de vegetação semeada e espontânea. Apesar do pastoreio nesta época representar apenas uma parcela da alimentação dos efectivos (sustentada maioritariamente com recurso a palhas, fenos, silagens e rações industriais), perspectiva-se uma mudança para uma maior utilização da massa verde das pastagens.

Perspectivas pouco animadoras para a actual campanha oleícola

Nos olivais, a floração decorreu sem problemas, o que originou uma carga de frutos bastante razoável. No entanto, o verão ameno e os elevados valores de humidade relativa de Setembro e início de Outubro, associados a temperaturas relativamente altas, propiciaram o desenvolvimento da mosca da azeitona e da doença da gafa. O facto de ter chovido continuamente durante este período dificultou a realização de tratamentos fitossanitários, havendo muita azeitona sem condições sanitárias para ser colhida, principalmente na variedade Galega. Estima-se um decréscimo da produtividade de 15%, face a 2013. De referir ainda que se está a produzir muito azeite com grau de acidez superior a 1%, situação atípica numa fase tão precoce da campanha e com evidentes prejuízos na qualidade e valorização do produto.

Acentuada volatilidade da cotação do milho compromete competitividade económica da actividade

A colheita de milho ainda decorre, com as condições climatéricas a dificultarem a operação, obrigando amiúde ao recurso à tracção de lagartas nas ceifeiras debulhadoras. O amadurecimento e a redução do teor de humidade do grão foram condicionados pelas temperaturas amenas do verão e, sobretudo, pela precipitação dos últimos meses, o que tem obrigado à intensa utilização de secadores. Este facto, aliado à descida do preço desta commodity nos mercados internacionais (-17% face ao mês homólogo em Bordéus), contribuiu para uma diminuição da rentabilidade da cultura do milho. Apesar destes condicionalismos, a produção deverá ser semelhante à alcançada em 2013.

Condições meteorológicas prejudicam o desenvolvimento do arroz

No arroz, ainda estará por colher cerca de 1/3 da área. As baixas temperaturas na floração (que originaram muito aborto floral) e as fortes chuvadas de Setembro (que provocaram alguma acama e facilitaram a propagação da piriculariose ou queimadura do arroz) contribuíram para um decréscimo da produtividade, devendo a produção rondar as 162 mil toneladas (-10% que em 2013).

Derradeiros esforços de colheita mitigam os prejuízos no tomate para a indústria

A colheita do tomate para a indústria decorreu normalmente até à primeira semana de Setembro, com produtividades elevadas, se bem que com uma maturação do fruto pouco regular (devido à falta de calor no verão). Este cenário alterou-se com a intensa precipitação ocorrida entre 6 e 23 de Setembro, que impediu o acesso das máquinas de colheita e das galeras de transporte de tomate aos campos e conduziu à deterioração dos frutos. No final de Setembro e início de Outubro, e num derradeiro esforço para concluir a colheita, os produtores recorreram a tracção suplementar, à abertura de valas de escoamento para drenar os terrenos encharcados e, em casos extremos, à colheita manual, estimando-se que tenham ficado por colher cerca de 1 500 hectares de tomate. Globalmente, a produtividade sofreu uma ligeira redução face a 2013, sendo que o aumento na produção (+20%) resultou exclusivamente do aumento da área.

Quanto ao girassol, a chuva dificultou a colheita mas não prejudicou a produtividade, devendo a produção atingir as 16 mil toneladas (+35% face a 2013).

Boas produções de maçã e pêra

Estão concluídas as colheitas das pomóideas, confirmando-se as previsões de boas campanhas de produção. Na maçã, as condições de desenvolvimento da cultura foram distintas nas duas principais regiões produtoras. Em Trás-os-Montes, a floração decorreu normalmente mas o vingamento foi afectado pela chuva e pelo frio, conduzindo a um menor número de frutos por árvore mas de maior calibre. Registaram-se ainda prejuízos pontuais provocados por trovoadas e quedas de granizo. Em contrapartida, no Oeste a campanha decorreu sem incidentes, com os frutos a apresentarem boa qualidade e calibre. A produção de maçã deverá rondar as 271 mil toneladas, que corresponde a uma redução de 5%, face a 2013 (o melhor ano de produção da última década).

Quanto à pêra, apesar das perdas resultantes do aparecimento de estenfiliose (manchas castanhas na casca) e dos ataques de psila (com o desenvolvimento de fumagina associada), prevê-se que a produção seja a segunda maior das últimas três décadas, alcançando as 212 mil toneladas (+5% face à campanha de 2013). Para este resultado contribuíram as boas condições climatéricas durante praticamente todo o ciclo cultural. As pêras apresentaram um calibre regular a bom, mas baixos teores de açúcar, em resultado da falta de calor no verão.

Produção de kiwi em queda pelo quinto ano consecutivo

A cultura do kiwi foi, uma vez mais, bastante condicionada por problemas sanitários, fisiológicos e ambientais, prevendo-se, pelo quinto ano consecutivo, uma redução na produção (-15%, face a 2013). Para mais esta má campanha concorreram as perdas causadas pelo cancro bacteriano do kiwi (principalmente nos pomares velhos) e pela podridão cinzenta, bem como a dificuldade de substituir a cianamida hidrogenada (proibida na UE) por outro regulador de crescimento eficaz na quebra da dormência dos gomos em regiões com poucas horas de frio (como são o Entre Douro e Minho e a Beira Litoral, responsáveis por 99% da produção nacional de kiwis).

Bom ano de amêndoa

O vingamento e desenvolvimento da amêndoa decorreram normalmente, estimando-se uma produção de 8 mil toneladas que, embora próxima da média das alcançadas nas últimas campanhas (excepto em 2013), espelha a situação de envelhecimento e degradação de muitos amendoais em Portugal.

A produção de castanha deverá diminuir 35%

Um verão completamente atípico nas principais zonas produtoras de castanha em Trás-os-Montes, com temperaturas amenas e precipitações muito elevadas em Setembro, propiciou as condições ideais para o desenvolvimento da septoriose do castanheiro, que causou a queda das folhas e necrosou o pedúnculo do ouriço, impedindo a maturação do fruto. Os ataques deste fungo, normalmente sem grande importância, foram particularmente intensos nas zonas de maior altitude e mais frias, havendo ainda registo, em algumas zonas de produção, de castanha bichada. A produção deverá diminuir 35% face à campanha anterior, para as 16 mil toneladas, o pior registo das últimas duas décadas.

Chuvas prejudicam as vindimas

A instabilidade atmosférica que se prolongou por grande parte do período normal das vindimas dificultou os trabalhos da apanha da uva e determinou uma redução na qualidade dos mostos, com muitas uvas a chegarem às adegas num estado sanitário deficiente, com podridões ácidas e actividades fermentativas iniciadas. Este facto, aliado à ocorrência de algum desavinho e bagoinha (acidentes fisiológicos normalmente provocados por chuvas abundantes na fase da floração/alimpa) e de ataques, relativamente tardios, de míldio, oídio, podridão cinzenta e traça da uva, contribuíram para uma redução na produção, face à vindima de 2013, que se prevê da ordem dos 10%.

Fonte:  INE

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