quarta-feira, 12 de novembro de 2014

O presépio, a garrafa e o recado aos socialistas que não estudam os assuntos

Reportagem 
Maria Lopes 10/11/2014 - 23:02 

Presidente da República esteve em Borba e Estremoz, onde visitou adegas e um quartel, inaugurou um pavilhão multiusos e piscinas para idosos e crianças. Mas não resistiu a deixar algumas críticas ao PS e avisos ao Governo.
 
Daniel Rocha 


Logo de manhã, Aníbal recebeu uma garrafa gigante de vinho de Borba; só ao fim da tarde Maria viu aumentar a sua colecção de presépios com um especialmente feito para si pelas mãos habilidosas de Maria Luísa Conceição, uma artesã de 81 anos que ajuda a manter vivos os tradicionais bonecos coloridos de barro de Estremoz. O carro do casal presidencial veio cheio de prendas – além destas, todas as instituições por onde passaram ofereceram lembranças – de uma ida chuvosa àqueles dois concelhos alentejanos.

 O chefe de Estado trouxe ainda alguns argumentos para usar um dia destes nos seus discursos sobre o futuro de Portugal, que considerou mesmo uma "lição". Só terá que citar o lema do Clube de Futebol de Estremoz: "Sorrindo às dificuldades". Cavaco também não resistiu a deixar recados aos socialistas e outros mais indirectos ao Governo sobre fundos comunitários e natalidade.

Vamos já aos directos: depois de ter dito que é a lei eleitoral que manda que as legislativas de 2015 sejam no Outono, os socialistas não desistem. "É importante lembrar a alguns políticos que quando falam de certos assuntos devem estudá-los primeiro", avisou Cavaco Silva, a quem parece que não lêem as leis e sobretudo a Constituição. "E eu notei, por algumas declarações que foram feitas, que alguns políticos até nem sabiam que a lei que aprovou em 1999 a data das eleições tinha sido imposta pelo PS, com o PCP e com o partido Os verdes, contra a opinião do PSD e do CDS-PP. É bom fazerem o trabalho de casa de vez em quando", aconselhou Cavaco Silva.

O dia esteve frio no Alentejo. Talvez por isso o Presidente da República tenha acedido a um tchin-tchin ainda antes das onze da manhã, na Adega Cooperativa de Borba, onde o tinto faz história e o branco quer-se fresco. De lá saiu com uma enorme garrafa de tinto com o típico rótulo em cortiça. A paragem seguinte, na Aldeia Social da Santa Casa da Misericórdia de Borba (SCMB), para inaugurar um pavilhão multiusos com ginásio, piscinas interiores e auditório, serviu para agradar a crianças e a idosos na visita, e a autarcas nas palavras.

Recebido pela Tuna Sénior da SCMB com o tema popular Açorda Alentejana, o Presidente percorreu os corredores do lar, espreitou quartos e visitou as salas do centro de dia. Quis saber se "há muitas situações de abandono de idosos" por ali, mas o provedor sossegou-o. Não, não há. Mas a SCMB presta apoio diário a pelo menos 700 dos 7200 habitantes do concelho.

Vários quadros com mãos coloridas de crianças da creche e de idosos do lar salpicavam as paredes da sala onde aguardam, sossegadas, de mãos no colo ou na bengala, mais de duas dezenas de idosos, sobretudo mulheres. Uma das mãos nos quadros será de Gertrudes Pires, uma idosa que faz 91 anos no próximo dia 3, como contou ao Presidente – mas que a primeira-dama se apressou a dizer que "parecia uma menina" –, depois de o chamar até ao sofá que partilhava com outras senhoras, ao fundo da sala.

"Ó dr. Cavaco Silva!", levantou a voz. O Presidente cumprimentou-a, quis saber se é bem tratada e Gertrudes desfiou o rol de coisas boas, da comida à farta – ficou até a saber que partilha o gosto por açorda com Cavaco Silva –, o asseio, a simpatia de médicos. Antes de receber os parabéns antecipados do Presidente ainda lhe disse que vão fazer uma festa e, pois então, "o dr. também cá podia vir…"

Mais à frente, depois de pelo menos 50 minutos de espera aos pouco agradáveis 11 graus que estavam em Borba, uma companhia especial: quase quatro dezenas de crianças, de bandeirinha em punho, aguardavam Cavaco Silva. Tomás Maria de cinco anos e um enorme pirata a decorar-lhe o bibe axadrezado, Carlota de cinco e Leonor de quatro, sabiam quem esperavam e o que tinham de fazer. As primeiras linhas do hino sabiam-no de cor, depois a timidez fê-los desafinar um pouco. O casal presidencial tirou, sorridente, uma fotografia com eles a abanarem as bandeirinhas, às ordens das educadoras.

Na cerimónia havia de defender que as verbas que aí vêm até 2020 são "uma oportunidade a não desperdiçar" para promover a competitividade e desenvolvimento das empresas, o crescimento da economia e a criação de emprego. Mas também, canalizando-as para as regiões menos desenvolvidas, para reforçar a "coesão territorial" e contrariar, por exemplo, o "desemprego doído" de que se queixou o presidente da Câmara de Borba. "Cabe aos autarcas do nosso país aliar o conhecimento profundo e directo das necessidades das populações e das virtualidades do concelho a uma visão do futuro e a uma criatividade mobilizadora."

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