domingo, 25 de janeiro de 2015

Raça arouquesa em risco devido à "matança" por lobos e à deslocalização para Alentejo


23-01-2015 13:45 | País
Fonte: Agência Lusa 
Arouca, Aveiro, 23 jan (Lusa) - Criadores de Alvarenga estão a proceder à venda forçada de gado miúdo e à deslocalização da raça bovina arouquesa para o Alentejo, devido à crescente "matança" por lobos ibéricos e ao aumento de ataques esperado em abril.

Os autarcas locais garantiram hoje à Lusa que está assim "em risco" a produção de bens de origem animal no concelho e, sobretudo, a autenticidade da carne arouquesa, já que, depois de ter perdido 20 vacas da raça para os lobos, um dos maiores criadores do concelho transferiu este mês para pastos alentejanos 143 cabeças de gado - o que, só nos obrigatórios testes de sangue individuais e no aluguer de transporte, lhe terá custado cerca de 10.000 euros.

"Os criadores de gado ovino e caprino deixaram de poder ter os animais em campo aberto, porque, se os deixam sozinhos, os lobos atacam logo", explica José Artur Neves, presidente da Câmara Municipal de Arouca, no distrito de Aveiro.

"Como passaram a trazer os animais para os currais perto de casa e lá não cabem todos, os criadores estão a vendê-los à força, o que significa que a produção vai diminuir no futuro", complementa o autarca, referindo que, por morte ou venda, o efetivo local de pequenos ruminantes passou em poucos meses de 4.300 para 3.900 animais.

A situação assume outra gravidade no caso do gado de grande porte, dada a sua Denominação de Origem Protegida. "Como a matança já chegou às vacas, o principal criador local levou-as todas para o Alentejo e agora elas vão ser criadas lá, pelo que a carne deixa de ser produto integral de Arouca", observa José Artur Neves.

Para Luís Filipe Teles, presidente da Junta de Freguesia de Alvarenga e ele próprio criador de gado, os problemas causados pela população lupina irão agravar-se na primavera, quando as temperaturas aumentarem e os criadores tiverem que devolver os seus animais ao pasto em liberdade.

"Com o desaparecimento dos pequenos ruminantes, os lobos adaptaram-se a matar vacas e, embora elas sejam muito maiores, agora estão bem preparados para isso", esclarece o autarca. "Isso significa que em março pode ainda não começar carnificina, mas em abril vai ser terrível", defende.

Considerando que o lobo ibérico é uma espécie protegida e que o seu abate é ilegal, o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) indemniza os criadores por cada animal que percam, mas Luís Filipe Teles afirma que "esse valor nunca é justo". Em primeiro lugar, porque "uma vaca de raça arouquesa vale sempre uns 1500 euros e o ICNF não deve chegar a esses valores"; em segundo, "porque há sempre uma ligação emocional aos animais que o dinheiro também não paga".

Presidente de Junta e presidente de Câmara realçam, por isso, que a solução para o problema tem que ser uma que tenha em atenção tanto a preservação do lobo como os interesses dos criadores.

"O ICNF tem que começar por fazer um levantamento rigoroso e atualizado do número de lobos que há no território, porque o último censos é de 2003 ou 2004", propõe Luís Filipe Teles. "Depois disso, o ideal era confiná-los a uma zona específica, que poderia ser uma reserva natural e até funcionar como mais-valia turística, e também será preciso introduzir na serra outros animais, para reposição do equilíbrio da cadeira alimentar", acrescenta.

José Artur Neves recomenda, por sua vez, maior sensibilidade para com as dificuldades que a situação representa para os criadores, que "deveriam ser apoiados de forma concreta na criação das suas próprias defesas, com vedações próprias, cães treinados, etc.".

"Estamos a falar de territórios com baixa densidade populacional e com população idosa que, precisamente pela sua fragilidade física, está muito amedrontada pela presença dos lobos", observa o presidente da Câmara. "Garantir que eles possam continuar a ter trabalho também é impedir a desertificação destas terras", conclui.

AYC // JGJ

Lusa/Fim

Sem comentários:

Enviar um comentário