domingo, 8 de fevereiro de 2015

A destruição da agricultura

Publicado no "Linhas de Elvas" em  19-10-2006


Miguel Mota

Em variados escritos  já chamei a atenção para o facto de, há algumas dezenas de anos, os altos dirigentes deste país e os seus acólitos estarem empenhados na destruição da agricultura portuguesa. Nessa campanha subtil e tremendamente prejudicial à economia do país, não se poupam a esforços nem a meios para tentar alcançar um tal objectivo. Para além de desastradas (ou intencionais...) medidas destruidoras dos serviços cuja função é desenvolver e melhorar a agricultura, há uma série de acções que visam o mesmo objectivo.
Desde Guterres para cá e em obediência a esse propósito de destruição, chamam "Ministro da Economia" ao que é simplesmente Ministro do Comércio e Indústria. Poderiam, quando muito, chamar-lhe "Ministro de Parte da Economia"... Esses governos estão na mesma caricata posição em que estaria um governo que tivesse um "Ministro da Defesa" e um "Ministro da Força Aérea". (Fica-se na dúvida de saber o que é que ensinarão no Quelhas, na Católica e noutros locais mais ou menos famosos...).
A Assembleia da República deixou de ter a sua Comissão de Agricultura (que, como já assinalei, foi sempre muito apagada e mal dirigida) reduzindo-a a uma Subcomissão.
Provavelmente, quando consultados, os psicólogos de serviço disseram-lhes que uma das formas de ajudar à destruição do sector é omitir da terminologia as palavras que lhe dizem respeito. Para ver se esquece, passou a ser proibido falar em "agronomia" (a ciência do agro) ou "agronómico", em "agrário" (relativo ao agro) ou mesmo "agricultura" (o cultivo do agro). Não há muito tempo, ao dar a biografia dum antigo Ministro da Agricultura e Pescas, um jornal dizia que ele tinha sido "Ministro das Pescas"! É claro que pode ter sido apenas uma grande incompetência do jornalista responsável mas, em face do que se tem passado, pode admitir-se a hipótese de ter sido obediência à "lei" que manda omitir até a palavra "agricultura".
Há tempos, um outro jornalista, que já deu provas duma enorme ignorância nesse campo – a menos que estivesse ao serviço da referida destruição – escrevia que a seca que se verificava nesse ano era o "ponto final" e que deixava de haver agricultura no nosso país. Um ano mais tarde, metendo o rabo entre as pernas, escrevia que, afinal, ainda existia agricultura, mas... E noutras vezes escreveu disparates de tal ordem que até bastava ler o seu texto para se ver que o título bombástico que lhe tinha posto estava errado! Não se compreende como qualquer jornal – e especialmente os que se consideram "de referência" – consente nas suas páginas tais dislates que levam quem o lê e vê o erro – basta passear pelo país para se ver que, apesar de tanta destruição, "ainda" existe agricultura em Portugal! – a desconfiar que também estejam errados os escritos que ele não tem forma de verificar. Também se pode considerar que estão a aplicar a ideia de que uma mentira repetida muitas vezes passa a ser tomada como "verdade".
Para não usar a palavra "agricultura" usam, nalguns casos, "desenvolvimento rural". O que caracteriza uma zona como "rural" – por oposição, por exemplo, a "industrial" ou "urbana" – é o facto de nela a actividade predominante ser a agricultura. Portanto, para desenvolver essa região, a única forma eficiente é desenvolvendo a sua agricultura. Mas "desenvolver a agricultura" é algo que não desejam os que a querem destruir.
É triste ver um país, com enormes potencialidades e que devia alinhar com os da frente,  na situação em que as estatísticas o colocam e que a grande maioria dos portugueses sofre. Mas porque muitos desses cidadãos, que tinham obrigação de reagir e não consentir que continue o descalabro – bastava que olhassem para a vizinha Espanha e vissem o que se deve fazer - mostram uma monumental apatia, os portugueses não podem queixar-se senão de si próprios.

Fonte: Autor

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