sábado, 7 de fevereiro de 2015

Como a WWF Portugal conseguiu pôr a coca-cola a financiar o montado


As grandes empresas podem trabalhar com as organizações não-governamentais – e outras entidades comerciais ou não-comerciais – em projectos de interesse comum? A resposta nem sempre é afirmativa ou bem vista, mas há cada vez mais parcerias que são excepção à regra.

Uma delas chama-se Green Heart of Cork (GHoC), foi desenvolvida pela WWF Portugal (World Wide Fundo for Nature) e tem como objectivo mobilizar as empresas privadas que dependem dos serviços ambientais fornecidos pelas áreas de sobreiro a compensar os proprietários rurais que, com maior ou menor dificuldade, contribuem para melhorar os serviços prestados por estes ecossistemas. O GHoC foi recentemente distinguido no Green Project Awards 2014.

O projecto pode não fazer sentido para muitos, mas a WWF agarrou a oportunidade de trazer empresas como a Coca-Cola, Grupo Onyria e a Jerónimo Martins para o projecto e, assim, contribuírem para conservar montados e florestas de sobreiro. "A missão da WWF Mediterrâneo e sua estratégia florestal visa a conservação dos montados e florestas de sobreiro, importantes hotspots de biodiversidade", explicou ao Green Savers a responsável do projecto acting manager da WWF Portugal, Ângela Morgado.

€10.000 para o projecto, metade para os patrocinadores

Segundo a responsável, cada empresa paga €10.000 por ano para apoiar o Green Heart of Cork. "Os patrocinadores aceitam esta quota e não existem contrapartidas não financeiras", explica.

Com esta quota, a WW Portugal garante o desenvolvimento do conhecimento sobre os serviços ambientais que os ecossistemas de montado prestam à sociedade, definindo um programa de pagamento destes serviços e compensando proprietários florestais que provem ter boas práticas de gestão florestal e agrícola.

O sucesso do projecto teve como pano de fundo a parceria com a Coca-Cola, o primeiro patrocinador, e a estratégia de comunicação usada pela WWF Portugal para mobilizar mais empresas e associações de produtores a juntarem-se à iniciativa. Para além dos patrocinadores e da WWF, o projecto conta ainda com as associações de produtores florestais que beneficiam do apoio financeiro – APFCertifica e a Ansub.

Metade do dinheiro doado pelos patrocinadores é reenviado directamente para os proprietários florestais que estejam certificados elo FSC ou que integrem a Rede de Comércio e Florestas da WWF, provando as boas práticas de gestão florestal.

Para 2015, a WWF vai continuar a desenvolver o projecto GHoC e a tentar chegar a mais e novos patrocinadores. "[Vamos continuar] a envolver companhias na plataforma GHoC e [prosseguir] com o mapeamento de serviços ambientais e o seu pagamento, premiando os produtores agro-florestais por boas práticas", continuou Ângela Morgado.

Mas há mais novidades. "[Vamos] apostar em dois projectos relacionados com uma nova área de trabalho lançada em 2014 – as Pescas – e que permitirá à WWF apresentar abordagens inovadoras sobre co-gestão em Pescas e o consumo responsável de pescado, áreas sensíveis e importantes para a conservação a nível global e para o nosso País, em particular", concluiu a responsável.

O GHoF localiz-se no Vale Inferior do Tejo e do Sado, numa área de meio milhão de hectares e sobre o maior aquífero ibérico.

Este artigo faz parte de um vasto trabalho sobre os vencedores do Green Project Awards 2014. Todos os vencedores da iniciativa portuguesa podem ser consultados neste link.

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